OITO

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  Arthur
   Enquanto Zoey caminhava para um destino incerto e provavelmente dos mais terríveis, Arthur e seus companheiros de viagem tinham seus próprios problemas, cativos que estavam das criaturas mais espantosas jamais vistas! O cérebro de Arthur trabalhava a todo vapor, querendo dar sentido aquela situação impossível...
  As lembranças do dia em que saí do túnel vinham numa avalanche, me fazendo ficar tonto! Estávamos em uma grande enrascada! Tínhamos sem querer invadido a área dos centauros! Por isso os seres ficaram tão bravos. Me voltou à memória, a recordação de ter escutado parte de uma conversa entre esses monstros e outras criaturas por detrás da porta daquele apartamento onde eu havia me escondido para fugir dos zumbis.
O tal imóvel ficava no interior de um prédio em ruínas que não era tão longe da entrada do túnel. Parece que eles discutiam a respeito de uma certa norma, que afirmava o seguinte: nenhuma espécie podia invadir o território de outra espécie, e nós tínhamos invadido a região que pertencia aos centauros, e para piorar não sabíamos onde estava Zoey.
Sentado quieto em minha cela, fiquei pensando nos últimos acon- tecimentos que nos levaram a cair prisioneiros daqueles pesadelos fugidos da Mitologia Grega! Durante a caminhada a nosso destino final, ninguém sequer disse uma palavra. Isso me deixava mais nervoso do que nunca! Eu nem sabia para onde seríamos levados. O maluco do Chuck berrou inesperadamente do nada:
— Tudo o que eu queria agora era um milk shake!
         Meio irados, Dilan e eu olhamos para ele. Um dos centauros riu alto e o chefe fez uma cara feia, e na mesma hora ficamos em silêncio. No fundo, senti pena do Chuck porque ele realmente parecia não mentir em sua vontade de comer o que todo garoto da nossa idade adora! Tudo o queria era um bom e delicioso milk shake!
Caminhamos pela densa floresta por horas. Ninguém pronunciava nem uma única palavra. Pensei em sair correndo, ou me recusar a ir, mas certamente seria pior. Nossos algozes estão em bando e nós éramos apenas um trio de adolescentes metidos a besta! Não havia o que fazer a não ser obedecer, rezando por um milagre!
O sol estava se escondendo quando chegamos a uma grande árvore, parecia ser maior do que todas as outras existentes naquele lugar. Era muito alta e assustadora. Naquele momento, os centauros fizeram algum tipo de saudação em voz alta que a princípio não consegui entender o porquê. Neste tempo, penetramos em uma imensa clareira junto a um ribeirão, na qual havia várias pequenas aldeias. Seus habitantes eram centauros também e vieram cumprimentar os passantes, me fazendo entender a atitude do grande bando ao se aproximar daquela área. Havia algumas mulheres humanas, muito bonitas por sinal. Fiquei intrigado! Mulheres convivendo em harmonia com aqueles híbridos monstruosos? Como era possível?!
Nossa! Como eu estava cansado! Era muito difícil andar na mata fechada! Minhas pernas já não conseguiam se mover. Dilan não estava nem aí! Muito estranho, em razão de nossa situação incomum! Quanto a Chuck, vejo que está em pânico! Tenta ficar o máximo possível com os olhos fechados para se isolar, creio.
Paramos em frente de uma porta enorme. Dilan não para de arru- mar o cabelo, isso me dá agonia! Onde esse cara pensa que está?! Chuck vira na minha direção com um ar suplicante como se eu pudesse fazer algo. Não podia! Nenhum de nós podia! Os cavalos humanos nos empurraram para dentro, assim que a porta se abriu, fazendo um barulho que dava nos nervos!
Andar, andar, andar, parece que é tudo que eu faço desde que cheguei aqui. Tenho certeza que já perdi mais de cinco quilos. Sem cerimônia, nos jogaram em celas separadas! Antes o centauro líder nos ameaçou! Foi um arraso!
Encerrado em minha prisão comecei a pensar na encrenca em que me meti! Era a maior de todas! Eu não via saída a não ser esperar que chegasse ajuda, mas de onde? Vi empurrarem o Dilan para dentro da cela dele e não quis acreditar nas palavras daquele esnobe! Será que ele era louco ou estava fingindo?
— Eh! cuidado com o cabelo, irmão! Caraca!
— Dilan! Você quer calar essa boca?! — Não aguentei e gritei em alto e bom som para que qualquer um que estivesse preso naquelas celas fosse capaz de ouvir. E esse foi o momento em que Chuck repetiu aquele pedido sem noção que antes eu até achei que tinha algo a ver:
— Vocês servem milk shake aqui? De preferência sabor morango — explicitou de forma suplicante.
Um dos seguranças daquele lugar nos mandou fazer silêncio e ain- da me disse para não usar esse tipo de linguagem. O que eu falei de tão grave? Gritar para alguém se calar é normal. Até onde eu sei os mal- -educados aqui são eles, e não eu. O engraçado é que aquele centauro provavelmente nem conhecia a bebida que o Chuck estava pedindo e ignorou totalmente o gorducho, jogando-o na cela como um saco de batatas! Felizmente nossos cárceres eram um ao lado do outro e assim podíamos conversar se desejássemos.
De fato, conversamos e achei que o Dilan estava perdendo o juízo, coisa até fácil de entender! Quase ri, quando ouvi o que ele nos disse:
— Chuck, Arthur, vocês acham que eles dão algum tipo de festa aqui? Se tiver comida vou comer até sair pelas orelhas!
Eu olhei pro sujeito como se aquela frase fosse a coisa mais ridícula do mundo! Enquanto falava, ele não parava de ajeitar o cabelo! Seria um tique nervoso?!
— Só fique de boca fechada e não nos meta em confusão — retruquei procurando falar baixo para não alertar nosso carcereiro que parecia já cochilar em seu canto. Em resposta, Dilan fez um muxoxo e revirou os olhos! Deu vontade de sentar um cascudo nele!

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