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Parte V

Por quanto tempo os dois jovens bruxos ficaram apenas se encarando era difícil dizer. De fato, alguns dos presentes chegaram a lhe lançar olhares atravessados, curiosos com o repentino silêncio naquela mesa... não que qualquer um estivesse prestando atenção na conversa deles, mas era uma atitude pouco comum a um ambiente que deveria ser... descontraído. Não carregado de tensão tal como estava.

"Vai me entregar, Potter? Vai dizer aos seus queridos amigos onde o malvado Malfoy está escondido?"

Harry quis sorrir diante do tom de voz debochado e arrastado. Draco devia ter certeza absoluta de que Harry não o entregaria para falar daquela maneira tão despretensiosa - Ligeiramente divertida, talvez. Balançou a cabeça, piscando um olho por de trás dos óculos de aros redondos.

"Não ganha nada com isso... certo? Que bem faria ao santo Potter ver seu antigo inimigo atrás das grades... ver alguém que perdeu tudo o que tinha... que perdeu a própria dignidade... o orgulho. Eh... parece que você não sabe apreciar algo tão frio e doce quanto uma vingança, Potter".

Harry encarou-o ao erguer a cabeça, fazendo Draco se calar repentinamente.

"Está coberto de razão, Draco. Não tenho qualquer motivo para lhe fazer mal agora. Apesar de tudo que já aconteceu e ainda que você ainda mantenha sua guarda levantada..."

"Eu não estou em guarda, Potter". respondeu Draco friamente, sentando-se ereto mais uma vez e estreitando os olhos claros.

O moreno sorriu de leve. Como era estranho ver Draco assustado... como era bom ver Draco submisso. Mas não... não deveria ir tão rápido...

"Por que não usa magia para ir embora... para fugir? Presumo que ainda tenha a sua varinha".

Draco não pareceu entender o motivo daquela repentina mudança de assunto. Suas sobrancelhas se juntaram quando franziu o cenho.

"Curioso justamente você me fazer essa pergunta, Potter. Já se esqueceu de quantas vezes o ministério baixou na sua porta... depois de executar uma mágica?"

Rindo-se, Harry apoiou um dos cotovelos na mesa, enquanto com a outra mão, acenava para um dos garçons mais próximos. Um deles perguntou-lhe o que desejava.

"Que vai querer?" virou-se para Draco, que ainda parecia curioso.

"Um licor". respondeu o loiro, ignorando o garçom ao lado deles.

"O mesmo para mim..." disse Harry, observando o garçom anotar os pedidos e se afastar. "Licor... é? Sempre pede algo tão fraco?"

Draco relaxou um pouco mediante o tom de voz divertido do moreno.

"Sempre..." respondeu-lhe olhando meio de lado. "É mais seguro".

"Mais seguro..." repetiu Harry, parecendo saborear as palavras. "Agora, quanto a sua afirmação... não, Draco. Eu não me esqueci de todas as vezes que recebi notificações por usar magia fora da escola. Agora você... tão bem quanto eu... deve saber que já passamos desta época, o ministério não pode mais controlar cada gesto que faço com minha varinha..."

Draco deu os ombros e virou o rosto, tamborilando os dedos sobre a mesa.

"Prefiro não correr o risco". Disse em tom conclusivo.

"Oh..." Harry sorriu. "Eu sempre me esqueço... você é um sonserino, sempre um passo a frente dos precipitados grifinórios, certo? Nunca se deixe levar pelo calor do momento... esteja sempre frio e apático... calculando as ações alheias, sabendo o quê esperar do próximo, estou certo?"

O loiro voltou os olhos para Harry. Tinha um sorriso forçado na face.

"É... você entendeu".

"Eu precisei..." respondeu Harry no instante em que o garçom trazia os dois cálices, se afastando com um meneio assim que deixou as bebidas sobre a mesa. "Conviver com os seus amiguinhos me fez aprender um truque ou dois, Draco".

Tomando o cálice nas mãos, o loiro bebeu um longo gole do licor e inspirou fundo antes de responder.

"Não fale como se isso fosse minha culpa".

Verdadeiramente surpreso, Harry deixou a boca pender de leve. "É isso que pensa... que eu lhe culpo... que eu o responsabilizo?"

"Quem mais? Fui o único que restou. A última mancha na imaculada paz que vocês conquistaram".

"Então é assim que você se vê, Draco? Uma mancha? Algo que deveria ser limpo ou dizimado?"

Um dar de ombros foi tudo que recebeu do loiro. Assistiu-o desviar os olhos outra vez, suspirando. Parecia incomodado. Preocupado. Sentiu que ele queria ir embora. Mas Harry não queria que ele fosse. Queria que Draco ficasse... queria continuar a conversa...

"Você parece distraído..." comentou em tom preocupado.

"Receberei o maior sermão de Norton..." disse o loiro a meia voz, os olhos correndo rapidamente por todo o salão. "Eu deveria estar com algum cliente e não aqui com você..."

"Ah... então é esse o problema?" Harry terminou com seu licor, um sorriso teatralmente cheio de más intenções estampado na face. Ele se levantou e estendeu a mão a Draco, que o mirou de modo interrogativo. "Quer me levar até seu quarto, Sr. Malfoy?"

O loiro lançou-lhe um olhar fulminante. Parecia desarmado, mesmo que as palavras tivessem saído firmes quando perguntou: "Então foi para isso que veio?"

A face de Harry ficou repentinamente séria.

"Sim. Foi para isso que eu vim".

Draco também se levantou e sem segurar a mão que lhe era estendida, o loiro deu as costas para Harry.

"Faça o favor de me acompanhar, Sr. Potter".

Continua.

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