Capítulo 5

53 6 0
                                    

Fui até a praça de encontro com o coração na mão e o receio de que talvez Bernardo não aparecesse... mas tudo bem, sempre aprendi que apesar de tudo devo saber me virar sozinha e ser independente.

Porém minha insegurança foi embora quando avistei Bernardo sentado próximo dali foleando um jornal.

- As notícias do Rio de Janeiro devem ser bem atrativas mesmo, pois já fazem dois minutos que estou aqui o observando e você nem se deu conta - Disse sentando-me próxima ao meu novo amigo.

- Louise! Que bom que veio, fiquei com receio de que tivesse me achando um louco ontem e hoje resolvesse me dar um bolo - Disse ele com um semblante divertido.

- Jamais, você está sendo um ótimo amigo aqui no Rio... quer dizer, o único - rimos em uníssono.

Era inevitável não notar o quanto as mulheres daquela praça me olhavam de forma fixa sem disfarçar o semblante de que comentavam sobre mim.

- O que foi Louise? Você está bem? - Bernardo questionou me preocupado.

- aaah nada, está tudo bem - Disse tentando disfarçar mais ainda observava as moças que fofocavam sobre mim.

- Não se preocupe com elas, afinal não é todo dia que uma moça aparece vestida de calças por aqui - Disse percebendo o que me incomodava.

- aaah Isso é uma jardineira e de onde eu vim as mulheres já não precisam mais serem vistas em longos vestidos apertados, desconfortáveis e quentes- rimos.

- Ok moça moderna, então vamos que temos muito o que ver aqui hoje

Saímos em direção às ruas do Río de Janeiro como dois aventureiros, eu nem imaginava por onde estava indo mas Bernardo parecia conhecer aquelas ruas como a palma de suas mãos.

Fomos a praças, pontes, museu, praias e tudo de mais lindo que o Río de Janeiro teria a oferecer, eu não imaginava que algo tão diferente da minha realidade na Europa viria a me agradar tanto a ponto de me fazer querer viver para sempre aqui.
Por fim entramos em uma livraria a qual eu implorei para que entrássemos pois eu não via o momento de pegar um livro brasileiro em mãos. Quando entramos no estabelecimento uma movimentação no caixa nos chama atenção.

- Senhora como pode não ter esse exemplar se acabou de ser lançado - Um garoto com aparência de uns dois anos mais novo que eu suplicava por algo a uma mulher que ao parecer era a dona da livraria.

- Olha aqui garotinho, se eu digo que não tem é porque não tem, e se for só isso retire-se já pois está atrapalhando as minhas vendas - curta e grossa respondeu

Bernardo me esperava ao lado de fora enquanto eu procurava um livro para ler hoje quando chegasse em casa, então lembrei-me de uma obra que vi hoje no mesmo jornal que Bernardo lia então resolvi procurar por ela.

- olá senhorita, como está?! Estou a procura de um livro chamado “o cortiço”, sou nova por aqui e não sei onde encontrar - Supliquei ajuda a mesma senhora que minutos atrás atendia o rapaz.

- Olá seja bem vinda, tenho sim, é uma excelente escolha - Esticou-se até um balcão pouco visível e trouxe o livro em suas mãos - aqui está

- Ei eu acabei de lhe pedir esse livro e a senhora negou dizendo que não havia esse exemplar aqui - O garoto que antes discutia agora carrega revolta.

Observando a cena entendi que quando os vi conversando era porque ele desejava um livro que ela negava ter, mas que por coincidência quando pedi o mesmo livro ela me trouxe o exemplar.

- Olha aqui garoto, eu sou a proprietária daqui e vendo para quem eu quiser, agora saia daqui antes que eu chame a polícia para você, esse não é um estabelecimento para um negrinho como você - Nesse momento meu coração se partiu e eu não sabia expressar o quão estúpida aquela mulher era.

- Senhora não faça isso, se o garoto tem dinheiro para pagar ele tem direito de comprar - Digo tentando amenizar a situação e vendo que o garoto tinha um dinheiro em suas mãos reservado para aquele livro.

- Moça eu estou lhe vendendo e não para ele, caso não queira eu irei guardar - Disse fria e olhando no fundo dos olhos do garoto.

- Pois então eu irei de ficar - Afirmei pagando pelo livro e pegando-o - Aqui está agora é todo seu faça bom aproveito - Dei o livro ao garoto que ficou todo feliz, diferente da senhora que cospia fogo pelas ventas.

- Você não pode fazer isso - Disse ela na sua irá

- Posso sim afinal já paguei e o livro é meu.

- Obrigado, você é um anjo, não é fácil ter nascido com “a cor da pele errada” - Ironizou o garoto tentado ver um lado bom na história e saindo feliz enquanto saíamos dali.

Saí da livraria me despedindo do garoto e encontrando Bernardo sentado ali esperando enquanto terminava de ler seu jornal.

- Ué não foi em busca de um livro ? - Afirmei com a cabeça - Então cadê o livro?

- Não encontrei - Menti, pois não era necessário relembrar a situação - Então vamos continuar

- Vamos, quero que conheça um amigo meu, talvez você goste dele.

Saímos dali e depois de andar algumas ruas paramos em frente uma sala que mais parecia uma editora de jornal do que uma casa... e eu estava certa, quando ele abriu a porta revelou uma imensa editora.

Estava tão animada para conhecer os amigos de Berndardo, pois se o mesmo era legal imagine os amigos. Porém quando meus olhos se cruzaram com o par de olhos que atravessou pela porta...

- Louise esses são meus amigos: Eva, Bento e Otávio - Eu sabia que aqueles traços me eram familiar, um misto de emoções se formou em meu interior e eu não sabia explicar o que senti

- Oi Louise! Prazer, Eva, seja bem vinda. Eu amei suas vestes - Disse uma linda garota que esbanjava simpatia.

- Eu sou o Bento, e digo o mesmo sobre as vestes - Disse rindo.

- E você Otávio, não vai se apresentar? - foi a voz de Bernardo.

- Não precisa, já nos conhecemos, eu só não imaginava que o nome da marrenta que eu esbarrei ontem a noite era Louise - Como ele pode se referir a mim como marrenta.

Eu não sei se sentia raiva dele por ontem a noite ou se estou surpresa de poder vê-lo por perto. E nem se quer sei o que vai acontecer daqui em diante mas eu sinto que Algo está por vir....

...............<>...............

Loiuse Angelle Onde histórias criam vida. Descubra agora