Doce amor | NA AMAZON

Capítulo cinco: Quase

ANA LUIZA BARBOSA (BARBIE)

O Bar Blé costuma ser uma das primeiras opções para os moradores daqui de Lucas e Vigário, é um estabelecimento bem conhecido desde antes da reforma que Jorge fez pra fazer umas melhorias.

Dia de final de semana isso aqui virava um formigueiro, tínhamos que colocar mesa até na calçada para o pessoal poder consumir, ainda mais quando tem a presença de alguém tocando pagode, e apesar de ser cansativo é daí que vem as minhas gorjetas muito bem pagas, já consegui garantir o dinheiro de um aluguel inteiro só com às gorjetas que ganhei.

É claro que não é só moradores que aparecem por aqui, vez ou outra reconhecemos alguns frentes que vem almoçar ou até mesmo curtir a noite com alguma companhia agradável, Jorge nosso gerente e proprietário conhece cada um só de olhar e sempre pede para ficarmos atentas e se possível o mais longe possível porque eles quando se interessam por alguém é muito difícil se desinteressar depois. Já deixei claro que comigo não tem essa não, atendo qualquer cliente da mesma forma profissional de sempre e se vier de ousadia pra o meu lado vai ficar na voz porquê não posso xingar.

É incontáveis às vezes que retruquei alguns desses frentes que vieram se criar pra cima de mim, a arma no cós da cintura deles não me intimida mais, se eles querem respeito é bom saber respeitar os outros também.

Tanto que a minha fama aqui teve maior repercussão, geral me deu como difícil sendo que eu sou apenas na minha, não me interesso por ninguém dessas bandas e tô bem vivendo assim, faz anos que eu não me envolvia com ninguém e desde a última dor de cabeça que eu tive eu quero distância da espécie.

Homens no geral só trazem problemas no final das contas, não adianta se encantar com rostinho bonito e palavras bonitas, uma hora iria se tornar um problemão.

Essa era a definição para Isaac Santista, ele não sabe mas eu sei muito bem quem ele é, desde que levou a irmã na minha casa e esteve presente para dar em cima de mim que eu fiz uma pesquisa ao seu respeito com Mônica.

Filho do Tito, mais conhecido como o líder do tráfico aqui de Lucas, o cara é temido pela metade da população das favelas, não tem uma só pessoa que não conheça a história do cara e da Aline, sendo Isaac o fruto da relação dos dois.

Estão compreendendo a noção do problema que Isaac é? Não consigo nem imaginar o b.o que daria se eu cedesse aos seus desejos de ficar comigo.

Se estivessemos em outra época poderíamos nos conhecer, iríamos nos curtir e eu poderia me envolver com ele sem estresse, mas na época de hoje isso é impossível.

E não há desejo, atração que seja, que me faça ceder aos meus desejos.

— Barbie, mesa quinze. — Jorge me tira dos meus devaneios, o som ambiente invade meus ouvidos e eu viro a cabeça na direção do balcão. Jorge estava me olhando por cima dos óculos de grau atrás do caixa. — Seja rápida e distante, é o Tito.

O que?

Fico sem reação ao ouvir a menção do nome do cara, ele me dá calafrios só por ser ele. Não gosto de está perto desses tipos de frentes, ele exerce um poder muito grande sobre todos e a cada instante penso que ele vai descobrir quem eu sou e me julgar igual faz com todos os outros que saem da linha.

Pigarreio e me aproximo com o cardápio em mãos, ele não está sozinho, conversa com outro homem aparentemente da sua idade. Cabelos curtos, barba com cavanhaque e bigode, eles não aparentavam ser tão velhos quanto o pessoal dizia que eles eram.

Eu pensava que traficante envelhecia só na prisão, para mim eles não passavam dos trinta. Também nunca entendi muito sobre esses traficantes que saíam por aí mostrando a face para Deus e o mundo, deveriam ser esses que ficam escondidos não? Vão botar a cara no sol pra quê, se prejudicar mais?