Você corta seus pensamentos antes que eles divaguem para sempre. Suas bochechas ficam levemente vermelhas, um pouco envergonhado sobre a profundidade com que você consegue analisar a voz dele. Para substituir o silêncio, você escolhe uma das várias canções que ele cantou várias vezes e começa a cantarolar junto com o melhor de sua capacidade. Você não sabe o nome, mas a melodia foi cimentada em sua mente pelas incontáveis noites agitadas que lhe trouxe paz.
Você não ouse tentar cantar a palavra; não há como você fazer justiça em comparação com ele. Então você cantarola junto, sorrindo gentilmente ao se lembrar das partes que ele repetiu várias vezes até ficar satisfeito com a maneira como cantou.
A última coisa que você espera ouvir é a voz dele participando.
Seus olhos se abrem, assustados em silêncio enquanto a voz dele se mistura com a sua calmamente. Suas palavras não são tão claras esta noite, e você pode ouvir a tensão em sua voz. Se é de exaustão, dor ou angústia, você não sabe dizer, mas o desejo de descobrir o que o está incomodando o incomoda.
Um arrepio desce pela sua espinha quando a suave canção de ninar se transforma em uma melodia assustadora simplesmente pelo timbre de sua voz, enchendo o ar com um peso que você pode sentir praticamente em seus ombros. Ele gagueja levemente enquanto seu zumbido desaparece, de repente hesitante em preencher a noite como ele fez inúmeras vezes.
Você começa a cantarolar novamente antes que ele possa desaparecer completamente, deixando-o saber que você ainda está lá. A voz dele ganha um pouco de confiança com sua ajuda, harmonizando-se com a sua voz firme em vez de tentar forçar o alcance dele. E mesmo que você nunca tenha feito contato antes deste momento, vocês dois criam música juntos enquanto os postes de luz e as ruas silenciosas ouvem ansiosamente. Ele vai e vem ao liderar a música, às vezes deixando que seu cantarolar seja a melodia enquanto ele começa a tocar com pequenos ohs e ahs antes de retomar a letra rapidamente. É uma conversa que você nunca teve antes, que não exige apresentações educadas e costumeiras manchadas pelas aparências. Você não sabe o nome dele, o rosto dele, nada sobre ele, mas cantarolar junto com sua voz parece mais uma conexão com outra pessoa do que você já sentiu.
Mas então a música está terminando muito rápido, caindo no silêncio mais uma vez quando vocês dois tocam suas últimas notas. Você prende a respiração e segura o peitoril da janela com mais força, esperando para ver o que virá a seguir.
Mais uma vez, seu garoto misterioso está cheio de surpresas quando você ouve o som inconfundível de um bocejo.
“Obrigado.” o menino diz baixinho, apenas alto o suficiente para ouvi-lo acima do seu coração batendo rápido. Você nunca o ouviu falar antes, e a surpresa de toda essa noite faz com que você esqueça que esta é sua chance de finalmente dizer algo a ele.
O parapeito da janela acima de você se fecha, sinalizando o desaparecimento do menino muito em breve. Você morde o lábio com força, xingando-se por perder a oportunidade de dizer algo enquanto teve a chance. Mas, pelo menos ele sabe da sua presença agora, e ele sabe que alguém tem ouvido seus shows particulares o tempo todo.
Mesmo que seu único público agora seja a cidade adormecida, você deixou as palavras escaparem de seus lábios de qualquer maneira: "Obrigado."
