Brian Adem era um advogado formado na Universidade de Los Angeles. Renomado, já havia aparecido em capas de jornais e revisas pelos casos que defendera. Seu pai era imigrante turco católico; sua mãe, filha de irlandeses (o que explica o nome ‘Brian’). Já havia se casado duas vezes e tinha uma filha do primeiro casamento. Gostava de viajar pelo mundo e colecionava souvenirs dos muitos lugares que visitara.
Foi em uma dessas viagens que Brian conheceu Natália. Foram apresentados por amigos – na verdade, pelos chefes dela – e saíram algumas vezes. Natália gostou dele quase que automaticamente, e ela era uma companhia muito agradável, além de ser muito bonita.
Não demorou muito para que Natália demonstrasse que estava apaixonada. Fazia apenas 15 dias que conhecera Adem, mas já estava envolvida em tudo por ele. Se viam quase todos os dias; ela recebia flores no escritório, mensagens no celular. No Facebook dela, músicas com declarações suspeitas.
Adem parecia ser o primeiro homem que havia mexido de verdade com ela. Maduro, não era de jeito algum semelhante aos rapazes mais novos com quem Natália se envolvera antes, incluindo os pais de suas filhas. Adem parecia enxergar o fundo da alma dela; ele parecia entender seus anseios. Eles passavam horas conversando e o inglês um pouco emperrado de Natália não era empecilho. Não eram exatamente iguais, mais se entendiam – e queriam ficar juntos.
Viajaram juntos – passaram uma semana em Ilha Grande, com permissão do chefe de Natália – e se aproximaram ainda mais. Nos momentos de intensidade, Natália achava que não poderia se sentir mais feliz e completa. Adem se mostrou ainda mais atencioso, engraçado e sábio. Natália não se via com outra pessoa.
Porém, seu novo amor partiria do Brasil em alguns dias. Voltaria para os Estados Unidos e a distância seria imposta. Natália havia acabado de pensar nisso quando, no café da manhã, Adem fez uma proposta:
—Vamos comigo para Los Angeles?
Como?
—Demora um pouco para o processo de visto, eu sei. Mas eu pago. Venha viver comigo em Los Angeles por um tempo. Dois, três meses, talvez. Veja se você se adapta ao país, à cidade. Se gostar, você fica. Eu adoraria ter você por perto.
Mas e minhas filhas, ela perguntou.
As filhas, a vida de Natália. Tudo o que fazia era pelas filhas; até seu emprego, fora de sua área de formação, era pelas meninas. Mudar de país seria bom para elas? Pela experiência, talvez, mas não seria difícil? Será que mudar não traria um impacto grande demais na vida delas?
Se fosse por ela somente, Natália teria dito sim no momento em que ele fez a sugestão. Mas não era tão simples.
—Eu pago os vistos dela também. Se não quiser atrapalhar o estudo delas, vá nas férias. Apenas me diga quando e eu compro as passagens de todas vocês. O que me diz?
SIM EU ACE… não era tão simples.
Havia muitas coisas a avaliar além das filhas e suas capacidades de adaptação em outros países. Havia a família de Natália (principalmente a mãe, que morava em sua casa), os amigos, tudo o que construíra ali. Havia também os pais das meninas. Precisaria conversar com Humberto e André, os pais de Manuela e Mariana, respectivamente. Humberto talvez não ligasse – ele nunca se importou muito com a filha -, mas André… ah, o André. Como seria convencê-lo a permitir que Mariana se mudasse de país?
Ao voltar de Ilha Grande, Natália perdeu várias noites de sono pensando em todos os aspectos da oferta de Adem. Certa noite, decidiu pegar o telefone e ligar para André, explicar a questão. Pegou o celular já tremendo um pouco, com medo do que ouviria de volta.
—André? Sou eu…
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Efeito dominó
Narrativa generaleNatália, André e Lourenço são bem diferentes, mas suas trajetórias se cruzam. Como pilhas de dominós, suas convicções e certezas vão caindo.