Halo

CATASTROFICAMENTE CORAJOSO

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Gien era uma companhia ainda melhor do que imaginava ser, ouvi-lo falar sobre si era algo muito extraordinário. O jovem humano via a vida de uma forma tão simples e tão natural que impressionava até mesmo Tur.

Para ele não existiam diferenças que valessem a discórdia, distinções ou quaisquer outras coisas que pudessem diferir um ser de outro.

Para Gien, só existiam as características físicas e de personalidade, que tornavam cada um único e especial, mas que não influenciava sua visão sobre igualdade entre os humanos.

Ele conseguia enxergar muito mais do que crenças, bens, cor de pele ou sexualidade. Era como se aquele rapaz vivesse fora de órbita, como se não fosse daquele mundo. As pessoas eram sempre tão cruéis e criteriosas, julgavam tudo e a todos o tempo todo. Não era comum que existisse alguém que sequer se importava com isso.

Tur estava tão concentrado em suas palavras que sequer piscava, era como se aquele garoto loiro pudesse ver além da carne, como se ele enxergasse a alma das pessoas, a essência. Com certeza alguém intrigante de coração brilhante e expressões indecifráveis.

Havia se perdido, sequer tinha consciência de quanto tempo havia o observado em silêncio, ou do quão estranha poderia ser sua própria feição naquele momento. Com o rosto apoiado em uma das mãos, Tur sorriu sozinho, um sorriso discreto, mas carregado de pensamentos confusos sobre aquele que o acompanhava.

— Estou falando demais? — perguntou o loiro na tentativa de ter uma resposta real do semideus. Talvez por culpa da ausência de suas palavras diretas.

— Na verdade... — Tur começou lentamente, os dedos alcançando a caneca com café já pela metade, onde as pontas tocavam a borda marcada por seus lábios. — Estou fascinado. — explicou com calma. — Você me deixa imensuravelmente curioso, Gien.

O garoto, por outro lado, curvou-se minimamente sobre a mesinha redonda, o suficiente para que seu olhar ficasse na altura do outro, sustentando-o tão intensamente que poderia ler sua alma se tivesse uma. — Curioso bom, eu espero.

— Um curioso extremamente bom. — completou lentamente. Os dedos se afastando da caneca para alcançar os fios loiros que caiam sobre a testa do rapaz ao qual Tur fez questão de se livrar de uma pequena pluma qualquer que havia parado ali entre os fios.

Seu toque sutil foi o suficiente para que o outro fechasse os olhos lentamente ao encolher os ombros. Os olhos aguçados do demônio eram perspicazes o suficiente para notar o mínimo detalhe. Gien reagia não só com sua voz, mas com qualquer ação que tomasse, o que era incrivelmente atrativo.

O tempo passava diante de seus olhos, mas nenhum dos dois rapazes parecia se importar de verdade. Foi só quando o garçom surgiu diante de ambos, na tentativa de recolher a louça vazia, que tiveram noção do tempo e do escurecer do céu sobre suas cabeças. Era como se o tempo sequer passasse, como se não houvesse outras pessoas circulando pelas ruas, como se nada mais importasse de fato. Realmente não importava, mesmo que tivessem ali por horas.

— Acho melhor irmos. Realmente me perdi em suas histórias. — Tur anunciou ao se erguer da cadeira para oferecer uma mão como ajuda ao outro, que ainda estava a se levantar. — Fico encantado em ver o quão gentil é e o quão em paz parece estar com sua vida e suas escolhas, Gien. Poucas pessoas são tão gratas e tão satisfeitas com aquilo que tem e sempre buscam por mais, buscam por uma perfeição que sequer existe.

Tomando a mão do demônio, o pequeno humano sorriu ao endireitar a postura curvada e ajeitar as roupas amassadas sobre o corpo. — Devo ser grato pelo que tenho, é a minha vida, é o meu destino e é a minha história. Sou eu quem decido o rumo que quero tomar, mas é o meu Deus quem me aponta as melhores opções. — explicou, desta vez seguindo pela rua de pedras mal colocadas.