➷➹➷➹➷➹➷➹➷➹➷➹➷➹Conseguiu se enxergar verdadeiramente olhando profundamente nos olhos daquele garoto, ali se via"comum".
Tur suspirou pesadamente na beira do mar, mais uma vez, agraciado pelos sons das ondas ao se chocarem nos corais. A noite que deveria acalmar seus sentidos aflorados o deixava ainda mais atordoado ao se lembrar da face serena daquele humano. Um humano como tantos outros, mas que simplesmente não conseguia esquecer.
Havia algo em Gien, muito mais intenso e atrativo do que aquilo que Lúcifer dizia ser o mais importante.
Precisava ter a confiança daquele garoto se quisesse que a poção para liberdade de seu pai fosse eficaz, pois só teria uma chance. O ritual era longo e precisaria tê-lo vivo e consciente, seria o mesmo que se condenar diante de um homem.
Deixou seu corpo cair fraco, de joelhos sobre a areia fofa da praia, alguma coisa em seu interior gélido queria gritar, gritar tão forte e devastadoramente que poderia ser capaz de fazê-lo perder a cabeça. O faria mesmo sangrar?
As palavras do Deus de Tártaro lhe incomodavam a mente, bem mais do que imaginou que incomodaria. Era para ser um ritual comum, como tantos outros que já havia feito, mas de alguma forma tudo se transformou no seu próprio caos e seu pai sabia muito bem disso.
— Por que tinha que ser ele? — resmungou ao estapear os próprios joelhos cobertos pelo tecido da roupa que usava, o corpo pesado só queria desistir de tudo aquilo.
Ser rei não deveria ser tão difícil, já lhe bastava toda a provação que teria ao transformar-se, agora ainda tinha... isso.
Havia uma velha lenda entre os imortais de todos os reinos: todo imortal carrega a marca de seu mortal.
Todos são destinados a alguém específico, como opostos que são involuntariamente atraídos por um motivo desconhecido, como se suas vidas tivessem sido criadas para se encontrar em algum momento.
Era como um ímã muito forte, assim como Lúcifer havia sido atraído por sua mãe no passado, Tur soube no momento em que colocou os olhos sobre Gien, que ele era o seu mortal.
O problema de tê-lo como seu mortal, era que no momento em que lhe tirasse a vida, sua marca desapareceria para sempre, condenando-o à eterna solidão, isso sem contar na dor que sentiria com a perda de seu par.
Os que a sentiram dizem ser ainda pior que a própria morte, pior que enfrentar a ira de Lúcifer. Seu pai sabia disso, já que havia ceifado a vida de sua esposa, por isso o encarregou de destruir o próprio destino.
Realmente cruel.
Deveria agir como um verme e se submeter a uma tortura inexplicável para que? Tudo para libertar o monstro que se dizia ser seu pai, para vê-lo destruir os humanos, um a um. Para vê-lo reinar na Terra, enquanto tinha o filho ao reinar o submundo. Era isso que ele queria: controle total de tudo.
Precisava ter certeza de que aquele garoto possuía sua marca, uma marca única e que ninguém mais deveria ter. Tur precisaria se aproximar de Gien o suficiente para procurá-la, já que, era um lugar único em cada pessoa. Deveria encontrá-la, queria encontrá-la, uma marca que até então era só sua. Matar Gien seria como matar a si mesmo, dolorosa e conscientemente.
Tur só não sabia ainda como Gien poderia mudar o seu destino, afinal, jamais imaginou que pudesse se encontrar com o seu humano em algum momento. Era tudo novo e ele só queria desvendar todas aquelas sensações que deixavam-no vivo.
[...]
Não precisava de muito para sentir-se vulnerável, bastou Tur colocar seus olhos na figura delicada sentado naquele charmoso café para que algo lhe percorresse a espinha. Era uma sensação ainda desconhecida, nova e completamente diferente de tudo que já havia sentido antes. Seu coração petrificado bateu pela primeira vez, deixando-o sem ar.

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Halo
Hayran KurguTur é um semideus. Filho de Lúcifer com uma humana, ele está prestes a passar por uma das provações mais difíceis de sua existência: sua conversão à semideus completo e tomada do trono de Tártaro, as terras do submundo. O problema de se tornar um s...