Mais uma noite, mais um expediente no bar de Otose. Desta vez, Gintoki percebeu um movimento um pouco maior do que no dia anterior. Após tirar as etiquetas das roupas ainda cheirando a novas, o albino foi encarregado de assumir a pia, onde lavava pratos cujos petiscos já haviam sido comidos pelos clientes e copos usados para beber saquê. A iniciativa da troca partiu da própria viúva, que gostava de atender e conversar com os fregueses além de, claro, ouvi-los no balcão.
Aos poucos o bar recebia mais clientes que saíam de seus trabalhos para fazerem um happy hour básico, principalmente porque o fim de semana apenas estava começando. Embora persistissem as baixas temperaturas daquele inverno, a clientela vinha em bom número e, por consequência, colocava mais dinheiro em caixa.
Tudo indicava que aquele poderia ser um dia mais tranquilo de trabalho para o albino, pois parecia pouco provável que se repetisse aquele incidente da véspera apenas vinte e quatro horas depois do ocorrido. Trabalharia em paz e sossego para fazer jus ao dinheiro que recebera adiantado da velha...
... Só que não.
A porta corrediça se abriu violentamente, permitindo que uma corrente de ar gelado entrasse. Gintoki reconheceu o homem da noite anterior e revirou, aborrecido, os olhos rubros. Pensava que não teria que lidar com freguês chato pelo menos naquela noite, mas estava redondamente enganado. Ele não era o único a perceber o recém-chegado, pois viu que Otose voltava a se colocar atrás do balcão para receber Murayama.
― Seja bem-vindo! – ela cumprimentou. – O que vai querer hoje, Murayama-san?
― Não quero nada mais nesta espelunca... Não, enquanto aquele moleque estiver aqui. O fato de estar usando roupas novas não o faz menos molambento!
― Se você não gosta dele, não vou obrigá-lo a continuar aqui como meu cliente. – Otose disse. – Mas não acharia nem um pouco ruim se me pagasse pelo prejuízo de ontem.
― Quem tem que me pagar – o homem disse enquanto pousava a mão esquerda sobre o cabo da katana que trazia consigo e encarava o albino. – é esse sujeitinho de cabelo ruim. Eu não estou disposto a carregar pelo resto da minha vida a humilhação de ter sido derrotado por um idiota brincando de samurai com um cabo de vassoura.
Murayama era mais um idiota que dizia querer lutar para recuperar sua honra perdida e realmente queria desafiar Gintoki para tal. Otose olhou para o jovem albino, cuja expressão de enfado era bem evidente. Estava na cara que ele não parecia muito afim de lutar. Na véspera, percebera a postura que ele mantinha ao empunhar a vassoura, o que lembrava um pouco seu falecido marido. Era uma postura de um combatente da guerra, não tinha dúvidas. Enquanto ela cuidava do bar, às vezes via seu marido treinando com sua katana, devido ao seu trabalho como policial no Distrito Kabuki. Ele fora convocado para lutar naquela guerra contra os alienígenas invasores e morrera em combate.
Por essa razão, a viúva tinha quase certeza de que aquele jovem que ela acolhera também havia sido um combatente.
― Não vai me dizer nada, moleque? – o homem insistia. – Se não lutar comigo, mandarei meus homens destruírem este lugar.
Desta vez, Murayama estava acompanhado por bem mais do que os quatro homens da véspera. Ele não parecia um executivo, mas sim um yakuza. Dirigiu um sorriso sinistro para o albino e sinalizou para um de seus comandados, que desembainhou a katana e cortou uma das mesas ao meio num rápido golpe.
Obviamente, essa pequena demonstração de ameaça foi o bastante para a maioria dos clientes do bar sair correndo para salvar suas peles...
... E causar mais prejuízo ao bar.
Gintoki decidiu sair de atrás do balcão. Trazia consigo uma espada de madeira à cintura enquanto vestia a manga esquerda do quimono branco e deixava o braço direito livre. Pelo naipe daqueles homens e do tiozinho que os liderava, não se surpreenderia se fosse mesmo um yakuza ou algo do gênero. Ele portava uma katana cujo porte, por lei, era restrito apenas aos servidores do governo e às forças policiais. Só por isso, já estava na cara que ele poderia ser realmente perigoso.
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Crônicas de um samurai desempregado
FanficApós uma guerra que durou vinte anos, os reflexos ainda são sentidos anos depois de seu final. O encontro entre uma dona de bar e um jovem ex-combatente em um cemitério é o ponto de partida de mudanças para ambos. Aqui começamos as "Crônicas de um s...