Capítulo 2 - Dia 25 de Agosto

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Hoje é o "enterro" da Amy, falo com aspas pois não iremos enterrar realmente o corpo da Amy, pois ele ficou com a polícia para a investigação, a mãe dela que quis preparar esse "enterro" pois ninguém sabe quando irão liberar o corpo dela, e ela queria se despedir da filha dela, pode se definir como um memorial em um cemitério que a mãe da Amy alugou para que ficasse vazio. Chegando lá já visualizei a mãe da Amy, Olívia Fincher, ela estava chorando em frente a um altar que fizeram com fotos e pertences da Amy, aquela cena quebrava meu coração. Olívia criou a Amy sozinha nos últimos anos, depois que o pai dela morreu a três anos atrás, nem consigo imaginar a dor dela, perder a única filha, deve ser no mínimo horrível. Caminhei lentamente até ela, que estava cercada de alguns parentes.

— D… Dona Olívia?... — Ela me olhou instantaneamente, coitada, estava com o rosto inchado de tanto chorar. Ela instantaneamente correu pros meu braços e me abraçou forte, e retribui. Sempre tivemos uma ótima relação porque praticamente vivia na casa dela passando o tempo com a Amy.

— Mataram a minha menina Clear! Mataram a minha filha! — Ela falou desesperada.

— Eu sei dona Olívia… Eu sei… — Falei já começando a chorar.

— Quem? Quem faria isso com ela Clear? — Ela olhou nos meus olhos, ainda abraçada comigo, buscando respostas, que nem eu tinha.

— E… Eu não sei Olívia… Eu não sei… — Ela me olhou com carinho e me abraçou mais ainda, ficamos um bom tempo ali abraçadas e chorando, até que nos soltamos e fui para um lugar isolado do cemitério, que parecia um jardim repleto de flores, ele era um lugar que Amy gostaria que fosse enterrada, ou lembrada como é o caso.

Depois de longos minutos ali sozinha, sentada na grama e pensando em tudo que estava acontecendo. Ouvi passos se aproximando, e uma sombra se formou na minha frente, impedindo o contato do sol com minha pele. Olhei para cima e encontrei os belos olhos azuis do Ben, sim, o namorado da Amy. Nunca fomos tão próximos, nos falávamos apenas por causa da Amy e ele parecia ser uma pessoa boa. Mas nunca senti muita verdade e amor no relacionamento dos dois, os últimos dias eles mal se falavam direito, parece que estavam juntos só por estar, sabe?

— Oi… Posso sentar aqui? — Disse me olhando, um olhar triste e distante.

— Claro. — Respondi e ele se sentou ao meu lado, observando junto comigo a paisagem à nossa frente, ambos em silêncio.

— Como você está? — Ele perguntou quebrando o gelo.

— Bem que não seria, minha melhor amiga morreu. — Respondi grossa e só depois de ter falado que entendi o que falei. Caralho Clear! Ele também está sofrendo, só perguntou para quebrar o gelo. — Me desculpa. — Olhei para ele e ele para mim. — Os últimos acontecimentos me deixaram com os nervos à flor da pele.

— Eu sei, eu entendo. — Ele voltou a olhar para a paisagem. — Aquela sensação de que você está perdido, como se fosse um castelo de cartas que desabou em um piscar de olhos. — Ele dá uma pausa. — E aí, sua ficha cai e você sente um mix de emoções, raiva, rancor, tristeza, arrependimento…

— Sim…

— Mas não podemos fazer nada.

— É… Nada… — Digo relembrando da minha ideia de investigar esse assassinato.

— Bem… Mas vamos ter que superar por bem ou por mal… — Ele parecia falar aquelas palavras para ele mesmo acreditar.

— Sim… Superar… — Soltei um longo suspiro e continuamos ali, sentados e em silêncio, que não era constrangedor ou tenso, aliás era um silêncio bom.

— Por quê? — Perguntei depois de alguns minutos quebrando aquele silêncio e olhando fixamente para aquele par de olhos azuis, buscando alguma resposta.

— Eu também não sei… — Ele falou e colocou uma mão livre no meu rosto para secar uma lágrima solitária que caia do meu olho, e continuou com ela lá fazendo um carinho gostoso. Por um momento não me lembrava de nada ao nosso redor, só conseguia enxergar aqueles olhos azuis. Acorda Clear! Ele é o Ben, namorado da sua melhor amiga, quer dizer, da minha falecida melhor amiga.

Depois de longos minutos assim, ouvimos um pigarro atrás de nós. Nos afastamos no mesmo momento, e olhamos para trás encontrando uma tia da Amy.

— Oi Clear. — Ela falou olhando para mim, tinha um olhar carinhoso como se me quisesse consolar. Acho que ela não reparou no que estava acontecendo aqui.

— Oi. — Respondi.

— Ben, você pode me ajudar a lidar com os jornalistas na porta do cemitério? Eles estão impossíveis! — Falou desviando seu olhar para ele.

— Jornalistas? — Perguntou eu e Ben em uníssono.

— Sim. Você pode vir comigo?

— Claro, eu vou. — Ele se levantou da grama e fiquei o observando. — Se cuida Clear. — Ele acariciou minha cabeça carinhosamente e saiu com a tia da Amy em direção ao portão do cemitério. Nem deu tempo e já escutei novamente passos, vi uma sombra e alguém se sentou do meu lado.

— Ah, é você Valerie.

— Oi Clear. Você viu aqueles jornalistas lá na frente? Eles estão doidos querendo informações. Foi uma luta conseguir entrar.

— Fiquei sabendo. E você falou com eles?

— Só respondi o que sabia, que não era quase nada, se não não iam me dar espaço pra entrar. Fiz errado?

— Não, assim eles se acalmam um pouco.

Eu e Valerie ficamos mais uns minutos sentadas na grama e voltamos ao local do memorial. Acompanhamos uma missa que a mãe da Amy havia organizado e já estava no final do memorial. O altar da Amy ficaria ali naquela sala alugada pela Dona Olívia até liberarem o corpo dela para fazermos um enterro. Chorava sem parar olhando aquele altar e sentindo a ficha cair de que nunca mais iria ver ela. Sempre vou me lembrar de você, minha eterna melhor amiga Amy Fincher.

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