A imensidão dos olhos azuis cintilantes

1.3K 102 14
                                    

Eu odeio as manhãs.
É o momento do dia em que a luz começa a surgir.
Onde, em algum lugar do mundo, pessoas dão vivas pela luz.
Mas não eu.
Amon.


Azriel.

Se o mundo não poderia ficar pior para Azriel, o mundo respondeu que sim, poderia. 

Ele se encontrava na vasta dimensão do céu azul claro, com pequenos raios de sol atravessando as frestas das nuvens brancas de formas derivadas. Uma brisa morna tocava em seu rosto.

Uma manhã normal de primavera.
Onde o gelo do inverno passado começaria a derreter, dando lugar ao florescimento da vida.

De longe, ele avistou o pequeno chalé dela.
Em momentos como este, momentos tristes, Azriel não sabia a quem procurar.

Então pensou nela.

Ela não daria respostas padrões sobre aquilo que tanto incomodava Azriel.

Ela seria ela.

Amon.

Amon, após ser despertada de um sono bom e profundo, repletos de morte, sangues e facas, desce as escadas de seu pequeno chalé espumando de raiva.
Quem a acordaria três da madrugada?

Com a espada na mão e reflexos ligados, ela não percebe perigo, mas mesmo assim abre a porta bruscamente e puxa quem quer que seja para dentro do seu pequeno chalé. Prensando a pessoa na porta e fazendo-a fechar com força. A espada já posicionada no pescoço do sujeito que ousou a acordar.

- Amon? - Ela escuta uma voz rouca e familiar vindo da pessoa prensada na porta e o larga com tudo.

- Azriel? - Amon bufa incrédula e encara ele, que no escuro via pouco das suas feições. - O que faz aqui? - Pergunta confusa.

- Eu... Precisava conversar - ele caminha na direção a cozinha de Amon mesmo no escuro e se vira para encara-la, que ainda continuava sem fala. - Tem bebida?

- Tem, claro.

Amon continua atônita por alguns segundos e entra na sua pequena cozinha de madeira polida escura. Abre um dos armários de mármore, pegando um vinho tinto e taças.

Eles se sentam na mesa de madeira com quatro cadeira, de frente ao outro, e bebem por alguns minutos antes de Azriel por fim falar:

- É a Mor.

- O quê tem ela, Azriel? - Amon nota que ele não a olhava nos olhos e fica um pouco preocupada com isso.

- Você sabe que eu sempre gostei dela, não sabe? - Ele estrelaça as mãos em cima da mesa nervoso, ainda desviando o olhar dela.

- Sim, eu sei. - Azriel não continua a falar e ela se irrita. - Azriel - ela chama mas ele não a olha. - Azriel, olhe para mim.

Ele por fim olha em seus olhos, mas se arrepende no mesmo momento, por cair na imensidão dos olhos azuis cintilantes dela, e não conseguir mais parar de olha-la.

- Azriel, você tem que me dizer o que o encomoda. - Diz com gentileza hesitante.

- Eu passei 500 anos apaixonado por ela, Amon - ele continua encabulado. - E ela... Gosta de mulheres.

- Azriel, eu... sinto muito - ela abaixa a guarda, algo que nunca fazia com ninguém, e afasta as mãos dele e estrelaça com as dela.

- Eu não entendo o por quê - diz Azriel confuso e triste.

- De ela nunca ter contado para você? Eu também não, Azriel. Mas sei que você merece ser feliz, merece um amor. E vai encontrá-lo.

Ela acaricia as mãos dele com a dele com o polegar, e ele aperta as mãos dela em resposta.

- O que eu posso fazer por você? - Pergunta depois de um silêncio confortável com seus toques sutis com as mãos.

Suas mãos estrelaçadas passavam vibrações por todo o corpo de Amon, e as vezes, quando os polegares dele acariciavam a pele fina do seu pulso, as vibrações se tornavam um tipo de impulso incontrolável que ela nunca sentiu.

- Eu não sei - ele responde por fim.

- Eu sei, e estou farta dessa sua tristeza. - Amon se levanta e puxa ele consigo com uma mão e garrafa do vinho com a outra, indo em direção ao corredor da porta.
Que ao lado consistia uma sala de estar com móveis modernos em tons de carvalho.

Eles conversam por horas sentados nos sofás da sala, sobre coisas totalmente aleatórias a cada momento, como se lutassem contra as horas para poderem ficarem juntos.

Azriel.

Azriel percebe que a cada gole de vinho direto da garrafa, ela ficava mais solta e falava mais. Algo que ele não esperava dela.

Amon sempre foi uma bruxa muito reservada, e morar em um lugar deserto no meio da floresta confirmava isso.

A bruxa sempre foi sozinha, e nunca de muitos amigos, na verdade ele nem sabia se ela tinha amigos.

Os toques das suas mãos foram extremamente reconfortantes e ele não sabia o por quê.

Ele não percebeu o quanto ela estava bêbada até ela se levantar cambaleando para pegar outra garrafa de vinho na cozinha. Quase caindo, se não fosse por ele com seus reflexos rápidos de batalha, levantar-se rápido e a pegá-la.

- Amon, melhor parar por aqui com o vinho - ele fala com diversão na voz.

- Por quê? - Amon diz com o tom manhosa e os olhos dela cravam nos olhos dele com um pedido silencioso. Azriel engole em seco com a beleza dela.

Amon poderia ser uma bruxa com um passado mortal, mas sua beleza era indiscutível.

A pele era branca como a neve, as feições delicadas, com seus lábios fartos e nariz pequeno. Seus cabelos vermelhos como fogo realçavam os olhos azuis cintilantes e suas pequenas sardas no nariz.

Ele se perde por um momento nela, mas consegue lutar contra a vontade de parar de olha-la. "Como eu nunca percebi ela antes?"

- Amon, você já está bêbada, melhor ir dormir.

- Mas por quê? - Ela se aproxima mais do corpo dele, colando-os.

- Por que sim, Amon. - Ele fala com um pouco de dificuldade com a proximidade do corpo pequeno dela, e algumas partes do corpo dele ganham vida magicamente.

- Você é chato - Amon o solta abrutamente mas cambaleia e o agarra de novo. Bufa baixinho como uma criança que não ganhou seu doce, e o encara com um pequeno biquinho de raiva. - Ok, você venceu.

Ele ri baixinho e a pega no colo, e Amon encosta sua cabeleira ruiva no ombro de Azriel.

Após subir os degraus da escada do chalé e coloca-la na cama de seu quarto, ele sorri vendo a se aninhar as cobertas grossas da cama de dossel e dormir rapidamente.

Azriel zela seu sono por alguns minutos e nota o biquinho que ela fazia com a boca as vezes, como fizera antes, e a franzidinha com o pequeno nariz como se cheirasse algo ruim. Mas logo voltava a expressão neutra do sono profundo.

Última vez editado: 17/02/2021.


Como Eu Nunca Percebi Ela? (Azriel & Amon)Onde histórias criam vida. Descubra agora