Wishes Came True

1.7K 112 486
                                    

Ordem das músicas: The One, Hoax, State of Grace

I guess you never know, never know
And it's another day waking up alone

Annabeth nunca se acostumaria àquela cidade. Não aconteceu quando era criança e o pai a forçara a morar ali, e não estava acontecendo naquele momento, em que escolhera morar ali. Era apenas que... quando tomou a decisão de morar em San Francisco, ela não imaginava que estaria sozinha, não imaginava que sentiria – além de toda a sensação errada de estar do lado que não deveria do país – uma parte de si mesma faltando.

Mais do que apenas uma metade, faltava toda uma história, que começara aos doze anos, com um garoto estranho de olhos verdes arrastando um sátiro semiconsciente para o Acampamento Meio-Sangue; um garoto que ela aprendera a amar com o tempo, que roubou seu coração, e então, um dia, o levou embora, como se não fosse grande coisa.

— Eu não posso deixá-los enfrentar isso sozinhos, Anne. São nossos amigos, eu achei que você entenderia — o coração dela ardia e sangrava, como se Percy o tivesse perfurado com a adaga amaldiçoada, a mesma que matara Luke, a mesma que ela havia perdido no Tártaro. Nem mesmo tinha forças para perceber as próprias lágrimas.

— Não, eu achei que você entenderia... Nós não temos mais nada a ver com isso. Eu não quero mais missões, Percy. Eu não quero mais temer que você não volte. Nós tínhamos combinado... Sem missões, sem deuses, sem monstros. Só nós dois, em Nova Roma... lembra? — a água parecia transbordar do mar que eram os seus olhos quando o filho de Poseidon balançou a cabeça, pegando a mochila e saindo pela porta. Ele não olhou para trás, não viu a namorada desmoronar no chão, não viu os cacos do coração dela se espalhando de tal forma que ela sabia que nunca conseguiria remontá-lo novamente.

Annabeth não conseguia mais olhar para o mar. Não sem ter vontade de vomitar, não sem parecer que estava caindo no Tártaro, de novo e de novo. Sozinha dessa vez.

Contanto que estivessem juntos.

Mais uma promessa quebrada, e ela não achava que sobreviveria a outra.

Por isso ela só seguira com a própria vida, com os planos que haviam feito para ambos, e que agora ela fazia sozinha. Ela estava... Bem? As aulas de arquitetura eram o sonho de sua vida, e ela estava muito mais ousada, aceitando propostas que nunca aceitaria, se jogando sem paraquedas, sabendo que a pior queda da sua vida ela já havia sofrido.

Se mantinha no centro da cidade, se ocupando com o movimento, com as próprias tarefas, com as vidas agitadas (embora não tanto quanto eram em Nova Iorque) das pessoas que a ignoravam vagando pelas ruas, fugindo de qualquer indício: de monstros e do mar. Fugia de qualquer coisa que a lembrassem dele: coisas azuis, praias, conchas, o próprio colar que estava guardado na gaveta mais bem trancada de seu dormitório no campus. E ainda assim, às vezes o sentia tão perto, como se fosse vê-lo em um ponto de ônibus, ou esperando-a em casa, com aquele sorriso que lhe arrancava o fôlego.

Ou abrindo a porta de uma cafeteria, como a que ela estava naquele exato momento, para encontrá-la e contar como estavam sendo os estudos, e o quão grande a pequena Estelle estava ficando – o que a fazia saltar todas as vezes que o sino da porta anunciava a entrada de alguém, como agora, fazendo todo o seu interior murchar ao ver que não era ele, mas duas crianças: uma menina loira, de uns quatorze ou quinze anos, acompanhada de um garoto, bem mais novo, com cabelos tão pretos e olhos tão verdes, que ela precisou desviar o olhar.

― Seb, não corra assim! Mamãe nunca mais vai deixar a gente sair sozinho se você se machucar!

― Ah, Lily, não seja tão mandona! Eu só quero ver o que eles têm! Será que alguma das comidas deles é azul? ― aquela frase quase a matou. Chegou muito, muito, perto. Era uma coisa boa que não tivesse mais um coração para quebrar.

Golden Age - PercabethOnde histórias criam vida. Descubra agora