Ela é encantada

Capítulo 5

Precisava pensar num plano. RÁPIDO. 

Verifiquei que a mensagem tinha sido mandada a mais ou menos meia hora. Ela poderia chegar a qualquer momento. Eu precisava falar com o V para ele não sair do quarto enquanto ela estiver por aqui. Será que ele ia aceita?  E se eu implorasse? Ai meu Deus. Agarrei meu crucifixo e rezei. Tudo ia dar certo, meu sonho dependia disso.

Corri para o banheiro, dei uma ajeitada no cabelo, tentando parecer o mais arrumada possível. Fui até a sala aos tropeços, saí catando tudo que não fosse meu para esconder em algum lugar. Minha tia é muito observadora, ela vai notar qualquer coisinha estranha e desconfiar. 

O celular apitou, mensagem da tia. "Tô chegando". Meu coração parecia que ia pular da boca. V estava jogado em um dos sofás, mexendo no celular, como sempre. Agarrei ele pela gola da camiseta e fui puxando para o seu quarto. 

Ele se assustou com a minha força, não sabia que do que eu era capaz. Mas uma mulher de Deus quando esta desesperada é capaz de tudo. 

- Ei ei ei! Pera lá! Que que é isso! - ele reclamou enquanto eu fechava a porta do quarto. - Endoidou de vez agora?

- Sem tempo irmão! Minha tia tá chegando e se ela me ver com você aqui ela surta e mata nós dois na mesma hora! Só colabora agora e depois eu faço o que você quiser. - eu falei sem pensar, a ansiedade me consumindo.

- Só aceito porque eu não estava fazendo nada. - ele responde calmo. Fiquei surpresa com ele ter aceitado. - mas tem uma coisa que você precisa saber

No mesmo momento ouvi batidas na porta. Saí voando e dois segundos depois tia Verônica adentrava o apartamento que nem um furacão. 

- Minha querida! Estou morrendo de saudades! Como você ta? Tudo bem? Ta tão magrinha! Precisa se alimentar direito, não só pedir porcarias pelo celular. E os estudos? Já fez alguma amiga? O pessoal da igreja ta sentindo a sua falta. Quando você vai voltar? - ela me atropelou com uma bateria de perguntas. 

Eu mal conseguia respirar.

- Por que você tá tão ofegante? Fazendo algo errado? - ela pergunta desconfiada. 

Congelei. Pensa em algo. RÁPIDO.

- N-não, que isso tia. Impressão sua. - ela odeia que discordem dela. Sua BURRA! - quer dizer, acordei muito cedo, acabei cochilando e acordei em cima da hora quando você já estava chegando. Mal tive tempo de arrumar as coisas. 

Ela concordou, ainda meio disconfiada. Andou pela sala, checando cada centímetro quadrado, inspecionando cada canto. Era uma verdadeira detetive. O esperado de alguém da profissão dela. Finalmente ela sentou no sofá, mas ainda olhava ao redor, atenta. 

- Minha querida, eu vim correndo para cá e faz um calor tremendo. Estou morrendo de sede. Poderia me trazer uma aguinha? - ela pediu, meio seca. 

- É pra já tia! - disse e corri para a cozinha. Não correr, de verdade, porque o lugar não era tão grande assim, e a cozinha ficava logo ali. 

- prontinho! - disse voltando com um copo e uma jarra de água gelada. 

- Porque essa porta está trancada? - dizia ela enquanto forçava a porta do quarto de V. 

Quase joguei tudo para o alto. Que enxerida! 

- Ahhhh, quando eu cheguei aqui já tava fechado e eu não tenho a chave. Deve tá com algum problema, sei lá. - disse, tentando parecer natural. Se acalma Mia! 

- Ah sim... mas ninguém tinha me falado isso. - ela respondeu, convencida. 

- Deve ser porque não acharam necessário... afinal só eu vou morar aqui e mais ninguém né hahahaha! - ri de nervoso.