Capítulo 4

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- P-prazer em conhecê-lo. - balbuciei envergonhada, apertando a mão dele. A sua presença botou a casa de pernas para o ar. Não entendi nada. 

Ele pegou uma coxinha na bandeja que o Andrei segurava e seguiu seu caminho, falando com todos na festa, rindo muito, tirando fotos, comendo e bebendo. 

- Enfim, voltando ao que importa. E como tu vai resolver a situação lá? Sua tia já sabe? - Analu perguntou em voz baixa.

- Eu não faço ideia, mas ela não pode saber de jeito nenhum. Senão meu sonho de me formar vai por água abaixo. - eu disse.

- Ah é verdade, você começou a facul essa semana, né. Tá fazendo o que mesmo? - ela perguntou. 

Abri a boca para responder, porém fui interrompida porque anunciaram que iam cortar o bolo. Várias pessoas pediam ao Harry para fazer um discurso e uma chuva de flashes inundou a sala. Senti ser empurrada junto com Andrei, Analu e Ivy. Quando vi estava na mesa do bolo junto com a família dela. Não consegui me livrar e tive que tirar todas as fotos. Agora posso dizer que sou oficialmente uma Abravanel. 

O restante da festa foi bem animado e divertido. Comi muito e conversei com outros amigos da Analu, alguns também eram da igreja. Para meu alívio, não conseguimos voltar ao assunto. Eu acho que se tivesse que falar disso de novo, desmaiaria. 

Mesmo contra a minha vontade, tinha que voltar para o bendito apartamento. Bem que ele podia não estar mais lá, ou tudo não ter passado de um delírio, ou, sei lá, que ele não quisesse a minha presença e se mudasse. Pensando melhor, ele é o filho do dono. Eu é que sou a "intrusa". Preciso tomar cuidado para ele não me chutar pra fora. Suspirei e segui meu caminho. 

Chegando lá, vi que o apartamento estava todo escuro. A porta estava trancada, para minha esperança de tudo não ter sido mais que doideira. Fui direto para o banheiro, fiz minhas necessidades, tava super apertada para fazer xixi. Tomei um banho, pus meu pijama e fui dormir. Felizmente foi uma noite sem pesadelos. 

Na manhã seguinte, acordei bem cedo para ter tempo de me arrumar para a aula. Saindo do quarto, olhei para a porta do outro quarto e fiquei curiosa para saber o que tinha ali. E

Estava destrancada.

Meu coração acelerou. Me senti como se tivesse invadindo um banco. 

Abri a porta devagar e estranhei a escuridão, parecia ainda ser de noite. Olhei para a janela e as cortinas eram grossas e pesadas, cobrindo toda a claridade de fora. Além disso, reparei em uma cama de solteiro, desarrumada, e um guarda-roupa grande de madeira. Vi dois sapatos jogados ao pé da cama e, em cima dela, uma coisa que não consegui identificar. 

Dei um passo adiante para tentar ver melhor, senti um calafrio percorrer minha espinha. O que poderia ser aquilo?

- Bu! - ouvi um sussurro muito perto do meu ouvido, soltei um grito e caí pra dentro do quarto, de quatro. 

- Minha Nossa Senhora! Seu fantasma! - gritei. Ele olhava para mim com os braços cruzados e uma sombrancelha erguida. Pelo menos dessa vez estava de roupa.

-  Decepcionada por me encontrar vestido? - disse com a voz baixa e fria, enquanto tirava o casaco. 

Cobri os olhos de vergonha. Ele vai me atormentar com isso até o fim da minha vida! 

- C-claro que não, s-seu bobo! - gaguejei vermelha. - eu s-só estava...

- Bisbilhotando no meu quarto. - ele disse me interrompendo, parecia entediado. 

- De jeito nenhum! E-eu só achava q-que você... era um sonho... - eu disse baixinho. 

Ele me olhou ainda com cara de tédio e disse monótono:

- Me viu pelado uma vez e já se apaixonou? Você é do tipo romântica então? - ele disse.

Me senti desfalecer. Falar com ele era um tremendo esforço. Lembrei que eu ainda estava caída no chão e num pulo me pus de pé, tentando manter o controle. Deus mim ajuda!

- Não é nada disso. É que eu não te vi mais depois daquela hora... - eu disse.

- E eu te devo satisfações sobre meu dia? - ele respondeu pegando o celular e começando a digitar. 

Ele passou por mim para se jogar na cama e eu tive que sair do seu caminho para não levar uma trombada. Ele parecia me ignorar completamente. Já que estávamos ali naquela situação, resolvi abrir o jogo.

- Você... você... tem algum problema em morarmos juntos? - disse suando de ansiedade. Nem parecia que eu tinha acabado de sair do banho.

- Se for pra você ficar grudada em mim 24h, sim, eu tenho vários problemas. - ele disse sem desviar os olhos do celular, ainda com aquele tom entediado.

- Você não é o centro do universo. - disse rolando os olhos, irritada. - é que eu preciso muito morar aqui por causa do meu sonho de terminar a faculdade. 

- Não me importo. - ele respondeu. - só não fica encima de mim. 

- Agradecida. - falei tentando me controlar. - e já que estamos conversando agora, gostaria de me apresentar apropriadamente. - eu disse. Eu queria causar uma boa impressão, que inspirasse respeito. 

- Me chamo Mia Montenegro, tenho 19 anos, nasci e fui criada aqui. Meus pais morreram quando eu tinha dez anos e desde então tenho sido cuidada pela minha tia, Verônica Montenegro. Ela que conseguiu para mim esse apartamento. Só que somos muito religiosas e ela não suportaria me ver morando junto de um rapaz solteiro e desconhecido. Então, se você puder ser discreto, eu ficaria muito grata. Meu sonho é terminar a faculdade de...

- Eu sei, eu faço a mesma faculdade que você. - ele disse me cortando.

- Ah é. E você? - perguntei. 

- Taehyung Kim, prazer. - ele disse sem tirar os olhos do celular.

- Só isso? - perguntei meio decepcionada. Queria saber mais sobre ele. 

Ele se sentou na cama e disse meio cansado:

- Pode me chamar de V. - ele disse andando na minha direção.

Esbocei um sorriso, como se tivesse ficado mais próxima dele.

- V? Por que V? - perguntei curiosa.

Ele ficou com a testa a apenas poucos centímetros da minha. Pude reparar em seus olhos escuros como a noite. Me senti minúscula.

- Eu teria que te matar se te contasse. - ele disse e saiu do quarto. Senti um calafrio percorrendo a minha espinha. - e sai do meu quarto. - ele gritou da cozinha.

Só então me lembrei de que tinha aula e corri para a faculdade. Quando eu já estava na porta, lembrei que ele estava na minha turma. 

- Ué, você não vai hoje não? - perguntei. 

- Ta loca? Hoje é sábado. - ele respondeu frio e seco. 

Só então me dei conta da burrada. Mas confesso que fiquei aliviada. Tinha muita coisa para fazer. Fui para o meu quarto e dormi mais um pouco. 

Acordei e vi que já passava das duas da tarde. Caramba! Minha tia finalmente me respondeu.

Tia: Oi linda, você esqueceu seu xarope. To passando aí pra te entregar e aproveito e vejo como estão as coisas. 

Levantei num pulo! Ai meu Deus! 




  



Ela é encantadaOnde histórias criam vida. Descubra agora