Capítulo 9

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Acordei me sentindo bem descansada e disposta. Hoje seria um bom dia. Fiz as minhas orações matinais, levantei, fui ao banheiro, fiz as minhas higienes e decidi comer alguma coisa. Quando estava saindo do quarto, ouvi a porta do apartamento bater. Olhei para o celular e eram sete horas. O que será que ele faz a noite inteira que só chega ao amanhecer? 

Por um momento, imaginei ele com outras garotas, e senti uma pontada no peito. O que poderia ser isso? Estranhei. Será que ele trata bem as outras garotas e só implica comigo? Mas por que eu deveria me preocupar com isso? Balancei a cabeça para afastar esses pensamentos. 

Encontrei ele na cozinha. Estava bebendo água, uma garrafa inteira para ser sincera. 

- Bom dia. - falei em voz baixa, porém bem humorada. 

- E aí? - ele me respondeu com um sorrisinho no rosto. Estranhei essa reação. 

- A noite foi boa hein? -  arrisquei timidamente. 

- Você não imagina quanto... - ele respondeu distante. Parecia estar com a mente em outro lugar. Não disse mais nada e foi direto para o quarto. 

Por um segundo tive o impulso de puxar qualquer assunto apenas para ter com quem conversar. Mas quando vi, ele já tinha ido e fiquei em silêncio, contemplando a água da torneira cair num chiado constante, me lembrando do tempo em que morava com a minha tia. Lá eu sempre tinha com quem falar. Especialmente a Jovanna, ou Jove, como eu gostava de chamar, a empregada. Ela era muito simpática e sempre de bom humor. 

Eu não gosto de ficar sozinha.

De me sentir sozinha. 

Comi um sanduíche com um gole de café e fui para a sala. Sentada no sofá, vi que tinha a mensagem de um número desconhecido. Reconheci, pela foto de perfil, ser o Namjoon. Dei um sorriso, pensando em como  ele foi simpático ontem. E ainda se lembrou de mim! No entanto, será que ele estava sendo sincero quando disse que queria entrar no meu quarto? Espero que tenha sido só uma brincadeira... apesar de a reação do V ser um tanto fofa. 

Adicionei e o número e respondi ele, dizendo que também gostei de conhecê-lo. Disse que a sua companhia na faculdade poderá me ajudar bastante. Logo depois, mandei mensagem para a Analu para saber que horas eles vinham. Vou tentar fazer um almoço diferenciado.

Estava com preguiça de ir ao mercado. Não eram nem dez horas da manhã e já estava um calor infernal, com um sol de rachar. Nos últimos dias, eu me senti bem melhor porque o tempo andava nublado e mais fresco, mas o sol sempre me deixou mal, fraca, zonza, com dor de cabeça, sonolenta. Acho que tenho a pressão baixa... 

Respirei fundo, pedi forças a Deus e tomei coragem para ir. Pensei em avisar ao V que estava saindo e quem sabe perguntar se ele queria algo do mercado, mas não quis incomodá-lo. Ele provavelmente está dormindo depois de passar a noite inteira acordado. 

A rua estava bastante movimentada. Havia uma feira por perto e muita gente ia comprar legumes, frutas, verduras e outras coisas lá, além de comer o famoso pastel de feira. Apesar do sol, eu fiquei animada com a energia da rua. Foi um alívio sentir o ar-condicionado do mercado e estendi o máximo que pude de tempo ali dentro só para aproveitar o fresquinho. 

Depois de comprar as coisas para o almoço, iria fazer um fricassê, o prato preferido da Analu, fiquei indecisa sobre que bebida levar. Acabei optando por refrigerante e laranjas para fazer um suco. Vitamina C é sempre bom, não é mesmo? 

Já no apartamento, enquanto fazia o almoço, coloquei um show do Anjos de Resgate para dar aquela motivada. Não demorou muito a ficar pronto e logo depois a Analu já batia a minha porta. 

Quando abri a porta a primeira pessoa que eu vi foi o Andrei de braços abertos. Só me joguei sem pensar em seus braços, pois precisava de um consolo nesse período de adaptação a uma nova vida. Sentir seu perfume masculino de fragrância amadeirada, e um sorriso apareceu em meu rosto. Só então lembrei que ele estava comprometido e, muito envergonhada, dei um fim abrupto ao abraço. 

- B-boa tarde, Andrei. - disse corando.

- Boa tarde, Mia! Tudo bem? - ele disse gentilmente. 

- Tudo sim... - respondi convidando-os a entrar. 

Nem precisava falar, pois percebi que a Analu já estava jogada no meu sofá. Mas que safada! Pensei rindo, conhecendo bem a minha melhor amiga. 

- Ahh, o apartamento é lindo e tem uma ótima vista! - ela disse com olhos brilhando - só mesmo a sua tia para conseguir uma pechincha dessas! 

- Olha, sendo bem sincera, o preço até que tá sendo meio alto... - respondi revirando os olhos.

- Ah éeee! Menina!! - Analu falou alto. - o tal tá aqui? - me perguntou abaixando a voz. 

Assenti. Ela soltou um sorrisinho e o Andrei sentou em uma cadeira sem entender nada. 

- Vocês me explicar o que tá pegando? - ele perguntou confuso.

- Então... - eu não sabia nem por onde começar - você promete que vai manter segredo? 

- Claro! Minha boca é um túmulo! - ele respondeu confiante.

- É que... deu um rolo... e eu to dividindo o apartamento com um garoto... - disse a última parte quase sussurrando. 

Ele não mostrou nenhuma reação. 

- E...? - ele perguntou erguendo uma sobrancelha. 

- É um garoto! Solteiro! Morando comigo! Também solteira! E o pior de tudo: eu não conheço ele. - respondi alarmada.

- E você tá aqui a quase uma semana e não trocou nem um "oi" com ele? - ele perguntou, ainda sem entender. 

- Não foi bem assim... já conversamos, até algumas vezes. - respondi me lembrando de hoje mais cedo. 

- Então vocês nao são mais desconhecidos um para o outro. Claro que isso pode ser perigoso, mas não acho que vocês dois serem solteiros seja o ponto mais preocupante... ele tentou alguma coisa com você? - disse pensativo. 

Eu fiquei vermelha ao lembrar da nossa primeira interação. 

- Ele amostrou o pinto pra ela. - Analu disse rindo. Eu quase desmaiei.

- É sério isso?- Andrei perguntou incrédulo. - Se for, então é algo muito ruim! Isso é assédio! - ele falou preocupado. 

Eu fiquei assustada com o tom de voz dele e a palavra assédio me perturbou.

- Não! Não foi bem assim... é que a toalha caiu... e... e... ele não teve a intenção. - balancei a cabeça. - ele nem encostou em mim nem nada! Eu acho... - sussurrei essa última parte, preocupada.

- Mas ainda assim, é errado! - ele disse irritado. - eu nem conheço esse cara e já não gosto. Juro que se eu vê-lo na minha frente, não sei o que posso fazer... - ele continuou, revoltado. 

- Andrei, se acalma! Não foi nada tão sério. - estava me sentindo super mal. O Andrei não costuma ficar tão alterado assim. E talvez eu esteja exagerando a situação... - escuta, tá muito quente e vocês fizeram uma viagem longa. Por que você não lava o rosto no banheiro? Esfria a cabeça?

- Tá certo. - ele disse, meio que voltando a si.

No momento em que ele virou o corredor, ouvimos um clique e o som de uma porta se abrindo. V tinha saído do quarto. 

Olhei desesperada para Analu que me olhou de volta igualmente desesperada.  


Ela é encantadaOnde histórias criam vida. Descubra agora