Capítulo 11

2 3 4
                                    


- Você pode me explicar o que eu vi no sabado Mia? Então quer dizer que é só começar a morar sozinha que você vai ficar recebendo garotos na sua casa? Foi pra isso que você quis fazer faculdade? Primeiro, para de ir na igreja, depois resolve fazer faculdade, aí quer morar sozinha, e ainda começa a sair com garotos desconhecidos? Você tá querendo ficar falada, como uma vadia? - minha tia disse fervendo de raiva. 

Eu tentava me controlar, mas não podia conter as lágrimas que rolavam pelo meu rosto. Eu não o que explicar. A vida é minha, eu já 19 anos! Eu tenho que ser independente! Eu não posso deixar a vida ser controlada assim!

- Me responde você tia! Por que você nunca fala nada do meu passado?! Por que tantos mistérios? Eu estou cansada de não poder falar da minha infância!

- Não mude de assunto, Mia Montenegro! Primeiro me explica o que tá acontecendo contigo! Você não era assim! Não faz nem uma semana que você se mudou e eu já não te reconheço! Se continuar assim vou ter que te tirar da faculdade e você vai voltar a morar comigo. 

Uma raiva começava a subir pelo meu peito acima. 

EU não estava me reconhecendo. Mas não podia me conter.

- Você não pode fazer isso! Esse é o meu sonho, você sabe disso!

- Escuta, aqui! Eu posso fazer sim, eu te criei sua pirralha!

- VOCÊ NÃO É A MINHA MÃE! NUNCA FOI! - gritei cerrando os punhos.

Só pude ouvir o estalido do tapa que ela me deu no rosto e logo depois a ardência na bochecha. 

- NÃO FALE ASSIM COMIGO!

Fiquei cega de ódio. Não pude me controlar.

Num momento, eu sentia meus dedos se fechando ao redor do pescoço. E no instante seguinte eu a pressionava contra a parede. As lágrimas queimavam em meu rosto. Lágrimas de dor, lágrimas  de raiva.

- O-o q... Mia... - ela tentava falar, sufocada.

- CALA A BOCA. - eu respondi gritando. - CALA A BOCA! CALA... A... BOCA! - minha mão apertava o seu pescoço com cada vez mais força. Só então reparei que a estava erguendo no alto com apenas um braço. Cerrava os dentes, tentando conter o choro. 

Por um segundo, voltei a mim, e a larguei no chão. Ela tossia, tentando pegar ar. Eu me virei, não querendo o que tinha feito com a mulher que me criou. 

- Eu... quero respostas! E não vou sair daqui sem elas. - disse firme. Minha voz estava irreconhecível

- Você... - ela tentava falar com dificuldade - não suporta a verdade! Você é fraca ainda, Mia Montenegro. 

- Mas eu preciso... -  fui interrompida por um golpe violento nas costas. Não soube o que tinha me atingido. Quando me virei, os olhos da minha tia tinham um brilho sinistro. 

- Agora VOCÊ me escuta, sua pirralha! Eu tive que te criar por dez anos, te ATURAR por dez anos! Você acha que foi uma coisa boa boa pra mim, sua mestiça! 

Fiquei chocada. O que ela queria dizer com isso? Tentei me levantar, mas rapidamente a minha tia se aproximou e pisou no meu peito, fazendo pressão. 

- Nem tenta! Você vai ficar no chão e vai me ouvir! Você tá passsando dos limites, e eu vou ser obrigada a tomar medidas mais duras! Tudo para o seu bem! Para o NOSSO bem!

- C-como, assim? - respondi sem ar. 

- Você acha que vou arriscar a sobrevivência da nossa família? Tanto tempo, tanto esforço, tanto sangue derramado para vir uma jovenzinha qualquer e estragar tudo! E tudo por que seu pai resolveu casar com a primeira vadia que deu mole pra ele! 

Senti a mesma raiva de antes ferver o meu sangue. Num ímpeto, arremessei a minha tia contra a parede, me pondo logo de pé. Eu bufava. 

- NUNCA MAIS OUSE FALAR DOS MEUS PAIS ASSIM! - gritei.

Pude notar o olhar espantado em seu rosto, como se ela não esperasse por essa reação. Eu não aguentava mais ficar ali. Querendo extravasar toda aquela raiva, dei um soco na parede mais próxima, abrindo um buraco nela. Mas na hora nem reparei o efeito do meu golpe. 

Saí correndo ali, as lágrimas descendo pelo rosto. No momento em que cruzei o portão de entrada, pude ver o V vindo na minha direção, corri para o outro lado e antes de virar a esquina reparei que ele estava entrando na casa da minha tia! 

Agora tudo parecia estar fazendo sentido. Este estava sendo o pior dia da minha vida!

Quando eu finalmente estava achando que o V era uma boa pessoa, vi a sua camisa ensanguentada no banheiro. Como isso poderia ser possível? Desesperada por respostas, fui até seu quarto e senti um cheiro muito forte de sangue. Aquela não era a única peça de roupa manchada. Debaixo da cama, havia várias como ela. E o pior de tudo: um brasão de família, idêntico ao que tinha na casa da minha tia e à lembrança mais antiga que eu tinha dos meus pais. 

As roupas sujas de sangue. Ele só saía à noite. Ele dormia o dia inteiro. Era pálido como cera. Nunca o vi comendo. Só havia uma resposta possível... e eu tinha medo de falar em voz alta.

Perturbada, eu nem dormi direito a noite inteira. Eu sentia que precisava conversar com a minha tia. Eu precisava tirar isso a limpo o quanto antes. Que porra estava acontecendo na minha vida?

Até que eu cheguei na minha antiga casa e precisei encarar uma Verônica Montenegro fora de si. 


Já em casa, eu não parava quieta. Contava segundo esperando a volta do V. Quando ouvi a porta de entrada se abrindo, corri até ele. Sua expressão era preocupada. Mais sério do que o costume. 

- V... 

- Mia...

- Eu preciso falar com você. - falei séria.

- Eu já imaginava. - ele respondeu se aproximando de mim e me segurando gentilmente os meus braços.

- Você sai todas noites e só volta ao amanhecer.

- Sim.

- Você dorme o dia inteiro e é sensível à luz do sol. Por isso seu quarto é sempre escuro.

- Sim.

- Suas roupas estão sempre sujas de sangue. 

- Sim.

- O que você é, afinal? - as lágrimas brotavam dos meus olhos.

- Você sabe muito bem. Lembra de quando me perguntou porque me chamo V?

Hesitei, segurando a respiração. 

- Você é Viciado, V? - perguntei chorando.

Ele ficou sem reação. Isso só confirmava as minhas suspeitas. Ele me soltou, respirou fundo, como se não acreditasse no que eu tinha acabado de falar. 

- Caralho... caralho.. - ele repetia olhando para baixo, incrédulo. - caralho, Mia. 

- O que, V?

- Você é muito burra, porra.    


----------------------------

Oieee! Faz tempo que não coloco um recadinho aqui pra vocês, não é mesmo?

Bem, esse capítulo pode ter parecido meio fora de lugar, meio corrido, mas tudo será explicado mais pra frente, conforme a história avança. 

Espero que vocês curtam esse aumento de intensidade repentino e fiquem curiosos pro que vem pela frente!! 

Agradeço a todxs que estão lendo e votando, vocês são uns lindos!!!

Bjoooos! 


Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 24, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Ela é encantadaOnde histórias criam vida. Descubra agora