o começo de seis lados

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Aubrey Hall

Madrugada de 28 de dezembro de 2020.

"É quase uma da manhã, Pen!"

Penélope não conseguiu abafar o grito de espanto que saiu de sua garganta e quase jogou o celular para o alto com o sobressalto que teve ao ouvir a voz de Colin nas suas costas. Ele riu, claro, como sempre riria de qualquer coisa vindo dela.

"Que merda, Colin!" Ela exclamou e foi tentando recobrar a respiração. "Você me assustou!"

Era madrugada e Penélope achava conforto e esconderijo na enorme biblioteca de Aubrey Hall, tinha naquele sofá em frente a lareira o seu local preferido e mais confortável da casa. Também era onde ela se sentia mais escondida e quieta.

"Mesmo?" Ele indagou e se jogou no sofá espaçoso ao lado de Penélope, pondo as pernas dela - que estava muito bem acomodadas ali - em seu colo. "E o que você fazia tão secretamente e tão concentrada que não me ouviu chegar?"

Sim, no silêncio da madrugada, tudo ficava muito audível em Aubrey Hall.

"Eu estava conversando com Daphne. Ela está se mudando para o apartamento de Kate essa noite," se explicou, agora já mais calma.

"Com suas coisas também, eu acredito," ele completou e nesse momento escolheu acarinhar a pele macia de Penélope que cobria sua canela da perna direita.

Ela tentou não se importar ou tratar aquele gesto como ele realmente era – e como Colin tinha intenção de ser – apenas um carinho entre amigos que eram quase primos. Mas sua pele se arrepiou e Colin notou, tinha que ter notado pois ele estava COM AS MÃOS NA PELE ARREPIADA DELA. Porém nada disse. Deve ter pensando que era apenas do frio do início de inverno, ela deduziu. Aquilo foi suficiente para não a deixar mais nervosa.

"Você ainda não contou a mamãe que você irá morar com Daphne ano que vem?"

Penélope suspirou e assentiu confirmando as palavras de Colin.

"Ela sempre me acolheu tão bem. E Daphne acabou de sair de casa. Como irei contar a ela que também estou indo embora?"

Colin apertou sua perna num gesto de conforto a Pen – o que não foi recebido como nada disso por ela – e assentiu compreendendo seu raciocínio. Violet certamente não reagiria tão bem, tinha medo do que pessoas estranhas fariam a Penélope e ter a menina debaixo de sua asa a deixava mais tranquila, mesmo sabendo que uma hora ela teria que sair.

"Eu posso lhe ajudar com isso, não acha?" Colin sugeriu. Algo se acendeu dentro de Penélope, mas do que já estava aceso antes. Colin sempre a surpreendia com seus atos de heroísmo para com ela, no entanto Penélope sempre classificaria aquilo como mera pena, mesmo que ela secretamente desejasse que ele tivesse intenções completamente diferentes e totalmente mais proibidas. "Talvez se nós dois conversássemos com ela, Violet seria mais receptível a ideia."

"Você faria isso por mim?"

Ele assentiu e sorriu de lado para ela. Penélope tentou não perder a respiração.

"Claro que sim, Pen," ele confirmou. "Você é quase uma irmã para mim."

E, com aquelas palavras, o coração de Penélope – que antes batia rápido e desesperado por Colin desde o momento que ele a assustou minutos atrás – ficou mais gelado que a neve que caía por cima de Aubrey Hall.

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Apartamento DKP

Nothing Hill, Londres

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