ferida

777 92 62
                                    


Aubrey Hall

Três anos atrás ...

Noite de ano novo.

"Eu deixei a sua última mala com o resto das suas coisas hoje mais cedo," Portia murmurou, na sua estranha forma de desejar Penélope um feliz ano novo e se despedir da filha.

A pedido de Violet – e algo que Penélope aceitou sem hesitar – a filha de Portia moraria com os Bridgerton a partir daquele dia. Segundo a terapeuta de Penélope, uma pessoa não pode se curar em um ambiente em que adoeceu e se tinha uma pessoa responsável por todos os gatilhos psicológicos de Penélope, era sua mãe Portia.

"Você não vai ficar para a virada do ano?"

Todo ano os Bridgerton promoviam um baile de Ano Novo no imenso e luxuoso palácio de Aubrey Hall, com alguns convidados seletos. Portia não era desejada ali, e muito menos considerada seleta, mas Violet – uma pessoa tão boa como sempre fora – se sentia no dever de convidar a "meia irmã". Não eram irmãs de sangue pois o pai de Violet foi casado com a mãe de Portia por apenas três anos, mais ainda sim ela via como família. Especialmente por Portia ser mãe de Penélope, a quem ela sempre desenvolveu um enorme carinho, afeição e era madrinha de batizado.

Portia revirou os olhos e suspirou: "Não estou no clima e certamente não me sinto confortável no meio de tantas pessoas falsas."

Você é quem é a falsa, pensou Penélope.

"Tudo bem," foi tudo o que a mais nova disse em resposta. "Feliz ano novo!"

"Ah, será muito feliz para você sim, Penélope," a mãe respondeu e Penélope previu uma resposta ácida e rancorosa que viria em seguir. "Você conseguiu os Bridgerton do seu lado e me fez a vilã da sua história ilusória e seus fingimentos de crise de ansiedade e pânico. Acha que eu não sei que tudo isso era para se fazer de coitada na frente de Colin?"

A inveja de Portia para com a nova situação de Penélope e ser sempre desejosa de ter a vida que Violet tinha, de alguma forma, seria o pior pesadelo de Penélope se ela não fechasse todas as portas para Portia de imediato. Um arrepio percorreu a espinha de Penélope e o ardor nos seus olhos dizia que ela logo teria outra crise. O choro se entalou em sua garganta e a vontade de gritar foi dolorosa. Ela não sabe como, mas se conteve. E Portia, vendo nos olhos da filha que havia alcançado um ponto doloroso, continuou:

"Nem mesmo se você perder esses trinta quilos que tem a mais e abrir a sua boca mais vezes, Colin Bridgerton olharia para você. Meninas como Laura Heins e Catherine Jensen são as que atraem o interesse dele. Você sabe, mais bonitas, mais magras e mais simpáticas."

Penélope não daria aquele gosto para Portia e engoliu o desespero e a ansiedade que formou dentro de si. Tudo se formando por escutar coisas parecidas sua vida inteira, por sempre ser humilhada e menosprezada naquela casa por seu peso e personalidade, por saber que o amor da sua vida nunca a olharia com os olhos que ela gostaria que Colin olhasse e por ainda deixar que Portia a afetasse tanto.

Só permitiu que a primeira lágrima descesse por seus olhos quando viu o carro da mãe a metros e metros de distância dela, saindo da propriedade dos Bridgerton. Limpou o rosto molhado, com raiva e ressentimento, e sentou-se no batente da enorme escadaria de entrada do palácio, mantendo-se escondida ali nas sombras por mais tempo que desejava. Tentava dizer a si mesma que seria melhor dali em diante, que os Bridgerton a amava como alguém da família e realmente se curaria de todos aqueles problemas no minuto que Portia alegremente saiu de sua vida. Que ela era apenas a mulher que a havia parido e que segurava nenhuma importância mais em sua vida, que Violet e Edmund a protegeria como eles haviam prometido que fariam.

the bridgeOnde histórias criam vida. Descubra agora