Torta - the witcher

Sentimentos Enterrados

Geralt não voltou ao quarto ao decorrer da semana e logo Jaskier já se organizava para ir embora em poucos dias. O trovador sentiu falta de ter o bruxo como companhia ao passar das noites, mas ele não teve coragem de procurar Geralt, por mais que Eskel tenha falado de atitude, ele tinha medo. Ele já tinha abandonado sua casa, perdendo as pessoas que ele amou, pessoas que após ele decidir algo, deram as costas para ele. Se ele decidisse algo imprudente como arriscar tudo com Geralt, ele também poderia perder Geralt de vez. Geralt o daria as costas, assim como sua família fez. Ele perderia todos, de novo. Ficar sozinho daquele jeito não era algo mensurável para Jaskier. Agora ele tinha 28, conhecia o mundo, tinha vivido diversas aventuras e encarou a morte várias vezes, mas encarar a solidão 10 anos depois? Aquilo não parecia uma opção.

- Quando eu era um garotinho, mamãe disse para mim: Escolha sua flor favorita que lhe darei a semente. — Jaskier começa a cantarolar enquanto arruma suas coisas, já não suportando o silêncio do lugar e o barulho em sua mente — E eu disse: Dentes-de-leão! E Ranúnculos! são tão lindos! — Jaskier acaba se encarando no espelho, no fim a música não ajudou o tanto que ele queria — E ela disse: Não seja tolo, criança. Essas são apenas ervas.

Mais uma dor surgiu em sua mente, seu nome. Ele já se denominava Jaskier — Ranuculus — bem antes de sair de casa, seu nome de batismo já não era pronunciado em anos, era o modo de dizer que não existia mais “o nobre, Julian”. Ele tinha medo de se lembrar daquele lugar, o lugar que deveria o proteger e acolher apesar de tudo, o lugar que tinha as pessoas que ele amava mas o colocaram para fora quando ele assumiu seu desejo. Como Jaskier, nunca estava sozinho. Como Dandelion, nunca era esquecido. Era confortável saber que os nomes poderiam o salvar da catástrofe que era, mas parecia mais fácil ele voltar a ser “Julian” do que assumir e arriscar tudo com Geralt.

- Ah, que lástima. Ele nunca mais será o mesmo. — Jaskier continuava cantando, não queria mais pensar — Ele nunca mais será o mesmo! Oh, que lástima! Me chame do que quiser! Você não me impede de crescer! Pode me puxar da terra se não me quer no seu jardim! E-

- Que bela performance. — Uma voz feminina interrompe Jaskier, quem é pego de surpresa pela situação e apenas se afasta da mulher que estava na janela — Se quer permanecer vivo, não destranque essa porta.

- Senhorita, em que posso ajudar? — Jaskier pergunta nervoso, tirando a mão da maçaneta.

- Fique parado. — Ela diz e no momento seguinte avança nele, quem desvia por reflexo e corre pro outro lado do quarto — Mandei ficar parado!

A mulher pula em cima de Jaskier, o derrubando com tudo no chão. Ele bate com força a cabeça, ela empurrava contra o piso de madeira com força. A última coisa que ele vê é um broche na roupa da mulher, era uma mercenária. Então tudo fica escuro.

- Relaxe, você vai render um bom dinheiro e tem boas chances de não sair morto. — Ela diz, apesar de saber que ele não iria ouvir.

×

- Eskel, para onde Jaskier foi? Ele te disse alguma coisa? — Geralt diz entrando no quarto de Eskel e Lambert, fazendo esse último pular da cama.

- Jaskier saiu? — Eskel pergunta calmamente, apesar de percebe Geraltnuk tanto mais nervoso que o normal.

- Jaskier sumiu. — Geralt diz e fecha a porta do quarto. Eskel olha pra Lambert para ter certeza que não foi o único que não entendeu, Lambert só dá de ombros e volta ao livro que lia.

- Geralt, como assim “sumiu”? — Eskel questiona, aindo de seu quarto indo até o quarto que Jaskier e Geralt, supostamente, dividiram.

- “Sumiu” de “desapareceu”, Eskel. — Geralt diz, revirando o quarto em que Jaskier deveria estar.

- Bem, se você estivesse aqui, poderia saber pra onde ele foi. — Eskel diz um tanto despreocupado, até receber um olhar de Geralt que ele não entende — É o “sumiu” perigoso? Ah...

- Ele te disse alguma coisa? — Geralt pergunta enquanto olhava ao redor e observa as malas inacabadas pelo quarto — Eu sei que eu deveria estar aqui, Eskel, mas eu... Não sabia o que fazer. Ele pediu espaço e eu achei que deveria fazer isso.

- Ele não disse nada sobre sair... Talvez tenha algum compromisso de última hora? Podemos perguntar ao moço da recepção. — Eskel diz e estava ao lado da porta, mas Geralt quem atravessa primeiro, indo para a recepção em passos largos — Ei, me espera!

Jaskier tinha dito para o deixar sozinho, embora nenhum dos dois realmente desejassem isso. Geralt sabe que deveria ter ficado, insistido, mas não teve coragem. Geralt sabe que falhou, que Jaskier tinha se magoado, sabe que estragou tudo mais uma vez e que Jaskier não o querer por perto era uma consequência justa. Mas aquilo não era um motivo para Geralt não se preocupar com Jaskier sumindo sem avisar, não conseguia deixar de martelar que algo poderia ter acontecido com o – não mais seu – trovador.
Foram várias pessoas, o taverneiro, o hoteleiro, a artista e algumas outras pessoas do grupo de Jaskier e ninguém tinha o visto naquele dia. Jaskier não saiu, ele simplesmente desapareceu. Geralt já estava tenso com toda a situação e quando seu por si, teve que pagar um carrinho de mão para um vendedor de frutas por ter acabado chutando o anterior rua a fora. Eskel interveio antes de qualquer ação dos guardas e levou Geralt para longe da multidão.

- Geralt, temos que ser mais racionais agora. Não tem como Jaskier sumir sozinho. — Eskel diz conforme andava com o lobo branco — Ainda mais sem deixar rastros... Um portal!

- Portais sempre deixam um vestígio. — Geralt olha pra Eskel, com certa esperança sendo estabelecida. Ele iria achar Jaskier! — E eu conheço uma feiticeira capaz.

- Pela primeira vez eu concordo com você sobre ser uma boa ideia ir atrás dela. — Eskel diz e olha em volta, como se visse uma trilha no ar — Boa sorte com o portal, eu vou procurar pela área, com sorte chego em você antes do fim da diversão.

- Obrigado, Eskel. — Geralt diz e parte atrás de Yennefer. Só que dessa vez, com outra pessoa em mente.