Torta - the witcher

Promessas no vento

Depois do banho, ele e Jaskier conversam por mais algum tempo, relembrando alguns momentos que tiveram juntos até que descidem dormir. O clima estava leve depois do banho, depois de Geralt desabafar Jaskier já se sentia mais confortável quanto ao bruxo e logo se deitou ao lado dele na cama. Conversaram por mais longos minutos até que a lamparina foi apagada pelo vento da janela e Jaskier lembrou que ele tinha horário para comparecer na academia.

Geralt não pegou no sono. Ele assistiu o bardo dormir, tirou o cabelo que caia sobre o rosto dele e então observou sua respiração, como se pra ter certeza de que ele estava bem e no meio de toda essa observação, ficou tudo escuro. Geralt sentiu o corpo pesar e quando se sentiu recompor daquilo, ele não estava mais na cama com Jaskier, Geralt se encontrou em uma floresta e o sol brilhava forte no céu. Sua cabeça rodava e ele sentia aquele frio, do mesmo jeito que sentia quando atravessava os portais de Yennefer, então ele vê uma trilha de sangue no chão e vê que aquele é o único caminho que aparece o levar até algo.

- G-Geralt... — A voz rouca do bardo o chama e ele corre até lá. Chegando na clareira, ele se depara com Jaskier apoiado no tronco de uma árvore com um ferimento grave no peito — Como você pode deixar isso acontecer? Achei que... Estaria seguro ao seu lado...

- Se você realmente fosse bom como confia... — De uma outra ponta, também ferida, Yennefer surge — Não teria deixado isso acontecer. Mas não se sinta tanto, você logo esquecerá de nós.

- E pensar que arrisquei... Minha vida por você... — Jaskier dizia, ele estava pra cair mas Geralt não conseguia se mover — Toda vez que eu me encontro em uma pilha de merda dessas, é você quem está causando ela! Espero que consiga o que quer, eu perdi tudo que tinha!

- Você condena a todos nessa sua busca por humanidade... Quantos vão ter que pagar para você ter o que deseja? — Yennefer também estava para cair e então Geralt finalmente pode se mover, mas só teria tempo de pegar um deles e não consegue escolher. Ambos caem no chão e o gramado da clareira é preenchido de dentes de leão e Lilases.

- Cuidado com quem você se apega demais, bruxo, ou acabará matando a todos eles. — A voz da princesa amaldiçoada, Renfri, ecoa a sua volta e logo a dona surge. Renfri estava igual a última vez que se viram, era o mesmo traje mal-feito e cabelo cortado torto, o mesmo olhar machucado e ar arrogante — Você é o carniceiro de Blaviken, o Lobo Branco, um bruxo de Kaer Morhen! Você é Geralt! Hostil, sábio e conhece o mundo o bastante para entender que não deve ser fraco, gentil, humano... Ou além de perder tudo, irá sofrer cada perda.

- Nenhuma é inevitável, mas todas são absolutas. — Triss Merigold dizia, surgindo em meio a toda a cena, ela arranca um dente de leão do chão e o assopra na direção de Geralt — Deveria abandonar o que é mais frágil e focar nos seus deveres... Seu destino é encharcado em dor e sua presença só amaldiçoará aqueles a sua volta.

E então ele acorda quando os dentes de leão chegam em seu rosto. Jaskier estava com metade do corpo voltado para cima do bruxo e tinha uma mão em seu rosto.

- Também teve um pesadelo, velho amigo? — Jaskier diz, os relâmpagos que atravessam a janela permitem o bruxo a ter um vislumbre em detalhes da expressão do bardo. Sua visão se acostuma ao ambiente logo e ele percebeu que Jaskier já deveria ter acordado fazia algum tempo, parecia cansado e de certo modo triste — Você estava agitado, já estava para te acordar mas você o fez sozinho.

- Obrigado. — Geralt diz e passa as mãos no rosto, suspirando cansado e sente Jaskier levantar da cama. Ele observa o trovador ir até a janela.

- É uma chuva e tanto...

- Você disse "também", não foi? — O bruxo se senta na cama, olhando o trovador — Quer falar sobre isso?

- Não foi... Só... — O trovador encara a janela, mas se volta para o bruxo e acaba encarando o chão — Só percebi que tem escolhas que eu me arrependo muito... Que se eu não me decidir logo, eu vou perder tudo... Sei lá, sonho complicado, né?

   - Mas parece ter sido bem esclarecedor. — Geralt consta e indica para Jaskier sentar ao lado dele. O bardo aceita e senta ao lado do bruxo, deitando a cabeça no ombro dele enquanto o bruxo acariciava suas costas.

- Mas e você? Quando fica todo aberto para afeto, é porquê você precisa ouvir algo. — Jaskier apoia a mão nas pernas do bruxo para poder o olhar enquanto corrigia a postura — No que seu amigo genial aqui pode te ajudar?

O bruxo se aproxima de Jaskier, tão próximo que o bardo sente a respiração lenta do bruxo tomar um ritmo acelerado e o próprio trovador mal conseguia conter a própria respiração. Ele fecha os olhos quando o bruxo se curva sobre ele e sente os braços do bruxo o envolvendo em um abraço. Era estranhamente trêmulo, aquilo não parecia algo vindo de Geralt mas era Geralt.

- Só me dá um minuto assim... Por favor. — Geralt diz encaixando a cabeça na curva do ombro de Jaskier.

- Claro, Geralt. — Jaskier diz o abraçando de volta e acaricia Geralt, entregando o maior conforto que conseguia. Então eles ficam assim por mais algum tempo. Não era igual a sempre, mas estavam no futuro, nunca seria igual. 

Quando o sol nasce, Geralt acorda e se depara com Jaskier enxugando os cabelos com a toalha, ainda não tinha pego a camiseta e mantinha uma toalha em volta da cintura. Depois de organizar tudo que precisava, eles saíram juntos, a caminho  da performance de Jaskier. Algumas pessoas os pararam pelo caminho, a maioria para falar com Jaskier e sobre o trabalho dele, pessoas que o trovador se portava como um pavão orgulhoso para responder.

- Geralt. — Uma voz feminina chama. Seus cabelos negros voando com o vento e os passos imponentes — Achei que não iríamos nos encontrar dessa vez. Estava me evitando ou o que?

- Yennefer. — O bruxo diz e solta a mão do trovador para se aproximar da mulher — Foi só a primeira noite, não precisa de tanto.

- Geralt, eu vou indo. — Jaskier diz seguindo em frente.

- Ah, certo... Te encontro lá, Jaskier. — O bruxo percebe o desconforto do amigo mas Yennefer não era do tipo que gostava de ser deixada de lado.

- Então, já que o empecilho já se foi... — Yennefer diz conforme ambos assistem Jaskier seguir andando em passos duros — Podemos tirar um tempo para conversar, talvez beber um pouco?

- Yennefer, não posso ficar muito tempo. — O bruxo diz conforme a mulher laçava o braço no dele e começa a guiar-o para a direção oposta a que Jaskier foi.

- É coisa rápida, Geralt. — A mulher diz — O trovador te teve a noite toda, tenho direito em o ter por alguns minutos.

No fim, foram longos minutos, minutos que preencheram horas inteiras. Geralt não falhava com suas promessas, mas no fim, ele não tinha realmente prometido.