Jaskier esperou o bruxo e passou boa parte da performance, querendo ou não, encarando o lugar que Geralt deveria ter ocupado. Ele estava cercado pela multidão que adorava, que o adorava, então por quê diabos se sentia tão vazio? Talvez "vazio" não fosse a expressão que procurava, Jaskier só sentia algo pesado no peito, algo muito desconfortável e que doía. Não, não era como o medo, talvez fosse decepção? Ele não entendia o sentimento que surgia ao encarar o lugar que Geralt iria ocupar. E pensar o quão idiota foi em mudar seu repertório no último momento apenas para agradar ao bruxo.
- Jaskier, eu- — O bruxo tenta se aproximar quando acabam se encontrando na pousada e Jaskier não para pra o ouvir. O bruxo continua tentando se fazer ouvido, mas quando alcança o braço do trovador, Jaskier se solta brucamente.
- Só... Me dá um tempo. — Jaskier diz após um momento de um silêncio desconfortável — Eu vou ser bem claro pra que sua massa insensível cheia de ondas cerebral entenda: Eu estou bravo com você, Geralt. Não quero você tocando em mim. Não quero você vindo falar comigo com desculpas esfarrapadas.
Geralt ficou em silêncio e não tinha certeza de para onde ir naquela noite, Jaskier não parecia realmente satisfeito em o ver ali. Geralt sabia que tinha vacilado, que devia ter ido por Jaskier e poderia ficar com Yennefer depois. Mas ele não conseguiu dizer não para mulher e, no fim, iludiu o trovador.
- Vá para ela... — Jaskier diz, se mantendo de costas pra Geralt — Ou eu vou sair, se bem que nós dois podemos concordar que não seria justo.
- Jaskier, eu vou ficar. — O bruxo diz dando um passo para mais perto, o bardo reage indo pra mais longe.
- Então você vai mesmo me fazer sair? — Ele bufa e se ajoelha, arrumando uma bolsa.
- Jaskier, não é para você sair. — O bruxo iria tocar no ombro do bardos mas recebe um tapa na mão.
- Não encosta em mim. — O bardo repetia, só que dessa vez saiu como um resmungo — Por favor... Só... Me deixa sozinho.
O bruxo anda para trás em silêncio, então olha para Jaskier uma última vez e o "click" da porta ressoa, então o som das botas seguindo pelo corredor.
Aquela sensação de antes era a esperança frágil que construiu naquela última madrugada junto a Geralt, esperança que fazia seu coração pulsar com força, sendo pisoteada até não restar nada. Uma sensação motivada por um sentimento mais forte do que ele pensava conhecer. Ele tinha medo daquilo na verdade ser "amor". Ele não queria amar Geralt, ele só se magoava nesse jogo cruel. Geralt construiu com carinho e cautela esperança, em forma de uma ponte que levou Jaskier até o topo. Mas então Geralt não apareceu, a ponte se despedaçou e o topo afundou.
- Dizem que você é o "sexo frágil" — Ele diz para uma lilás que compunha um buquê que recebeu de um de seus fãs — Mas uma competição contra você não seria justa... Enquanto você pode ser uma tempestade devastadora que sempre vai conseguir o que quer, eu sou um tolo que só acabará julgado como um boçal incômodo... Acho que esse sempre será o fim da história, afinal, o seu beijo já o roubou de mim... Eu perdi antes mesmo de entender as regras.
- Jaskier? — Eskel chama batendo na porta. O trovador não sente vontade de responder, mas limpa o rosto enquanto pesa essa escolha. Eskel não esperou muito mais — Eu estou entrando.
Após anunciar, a porta abre e Jaskier sequer tem tempo de enxugar o rosto com as lágrimas recém derramadas. Jaskier estava estressado, mas apesar disso não tinha a menor vontade de descontar em Eskel. O bruxo de vermelho se aproxima e senta ao lado de onde o bardo estava ajoelhado.
- Você parece mal, quer falar sobre isso? — Eskel oferece enquanto passa a mão pelos ombros do bardo, o abraçando de lado. Eles estavam de frente para a janela e logo a chuva começaria a cair. Depois de encarar a janela por algum tempo, ele e Jaskier cruzam olhares e o trovador abaixa a cabeça, negando lentamente — É alguma coisa com o Geralt, não é?
- É tão na cara assim? — Jaskier solta, afirmando o que Eskel suspeitava.
- Geralt me contou da vez em que você jurou exterminar um clã de elfos se matassem ele. — Eskel diz com um sorriso no rosto, um olhar distante — Se alguém me dissesse isso, principalmente um humano, eu provavelmente entregaria o mundo para essa pessoa. Você merece sofrer por alguém que te olhe, como você olha pro Geralt.
- Eskel! — Jaskier diz vermelho e com a voz ridiculamente fina. Ele não queria ouvir que era óbvio que ele amava Geralt, ele queria ouvir que aquilo provavelmente foi apensas uma confusão.
- Sim, o Geralt aprecia sua coragem e ama seu canto, além de que ele sente sua falta e considera você a pessoa mais importante do mun-
- Se ele considerasse, eu não estaria sempre em segundo plano. — Jaskier interrompe Eskel, afinal, já era tarde demais pra negar — Se ele considerasse, ele não me faria sentir como se algum dia fosse um desperdício em estar por perto...
- Você está certo. — Eskel diz e solta o bardo, mas não se afasta — Mas muito errado. Ele se importa muito com você, você deve ser a pessoa mais importante do mundo pra ele simplesmente pelo fato de que ele não precisa de você.
- Uau, era pra me motivar? — Jaskier responde com ironia.
- Você não me entendeu. — Eskel ri — Geralt não tem absolutamente nada no mundo que o prenda a você fora o próprio desejo. Eu, Lambert, Vesemir, Nenneke... Nós só estamos ligados a ele por sermos "família" e ele está preso a sua família, gostando ou não. No caso de Yennefer, não é segredo que eles estão juntos por um desejo em que magia está envolvida. — Eskel faz uma pausa e olha diretamente para ele — Mas que obrigações morais ou mágicas prendem vocês dois?
Após aquelas palavras, Jaskier permaneceu em silêncio. Eskel tinha um ponto, afinal, não existia nenhum motivo para eles sempre voltarem um para o outro. Eram dois solitários que se uniram e decidiram viajar juntos, mas a história poderia ter acabado ali e não acabou. A história continuou por mais de 5, 8, 10 anos. Droga, ele podeira evitar? Se há um prêmio em perder para a emoção, Jaskier sabia que ele seria o vencedor. Ele não queria admitir de forma alguma que poderia amar o bruxo.
- Se seu primeiro instinto é defender, cuidar e fazer de tudo para não deixar algo acontecer com aquela pessoa...— Eskel diz ao notar o incêndio no olhar do trovador — Então não é amor?
- Não. — Jaskier diz, surpreendendo o bruxo — É só... Afeição. Somos amigos. Só isso.
- Jaskier, existe uma linha entre o amor que se tem por um amigo e o apreço pela pessoa. — O bruxo continua — O jeito que você olha pra ele não nega, assim como o jeito que ele fala sobre você.
- Mas ele prefere a Yennefer...
- Então volte pro jogo, vá beijar o rapaz. — Eskel diz casualmente — Mostre que você está ali pra ter iniciativa. O faça escolher. E se a magia for mais forte, ao menos você não vai ter a dúvida do "e se?"
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Torta - the witcher
FantasyEu tentei ser um amigo, Geralt, mas você me dá essa gratuidade? "torta sem recheio"? Quem ele pensa que é para fazer críticas assim? - Você não gosta do meu canto e agora o que? Não gosta das roupas? E mesmo se defendendo com sarcasmo, depois de tud...