Capítulo 4

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Gizele

— Hora de trabalhar, Gigi — encarei meu reflexo no espelho totalmente satisfeita com a minha blusa branca, de manga longa, feita em seda que parecia acariciar minha pele.

Ela, usada em conjunto com a saia preta, me deixavam com ar de blogueira chique patrocinada por marcas famosas. Mas a verdade era que eu tinha uma loja de roupas e bom gosto era fundamental. Precisava me vestir bem para incentivar minhas clientes.

 A Líber era como a minha segunda casa. E não digo isso porque morria de trabalhar. Não, na verdade era porque me sentia tão à vontade ali quanto no meu apartamento. Eu amava cada espaço, cada detalhe e cada peça que entrava naquele lugar porque eu mesma tinha participado da construção dele.

Atualmente, a Líber contava com oito funcionários.  Seis vendedoras, um gerente de vendas e a Vilma. Uma empresa terceirizada cuidava da limpeza pesada semanalmente e a Vilma tirava o pó e fazia café para nós. Eu tenho um gerente. Do sexo masculino. Minha gerente anterior, a Bárbara, foi demitida por justa causa. Fiquei surpresa e triste por precisar fazer isso, mas a mulher estava se aproveitando das roupas da loja para uso próprio.

Basicamente, ela levava a roupa que gostava e depois de usá-la, colocava de volta no cabide para a venda. Não tirava a etiqueta, portanto não daria para perceber se ela não danificasse a peça. Mas foi aí que comecei a receber reclamações de algumas clientes por causa do perfume que estava exalando das peças. Nós não colocamos cheiro nas roupas, além de ser impossível ter um que agrade todas as pessoas, existem alergias e muitos outros fatores para que não achássemos viável tal coisa. Por isso, as reclamações acenderam um alerta em mim. Não podia acusar ninguém, mas no fim ficou comprovado que se tratava do perfume da gerente. Óbvio que para comprovar, precisei de novas câmeras de segurança e uma conversa franca com a mulher.

Foi assim que acabei precisando demitir a Bárbara e recorrer a uma empresa de Recursos Humanos. Solicitei que eles me enviassem pessoas para entrevista, descrevendo quais habilidades eu buscava e o que esperava do futuro funcionário.

Quando recebi o perfil de um candidato do sexo masculino quase não quis dar prosseguimento a seleção. Em que um homem poderia me ajudar naquele contexto? Minha empresa era voltada para o público feminino e formada, unicamente, por mulheres. Depois de muito analisar, aceitei entrevistá-lo. Um pouco desconfiada, achando que não fosse dar certo desde o primeiro segundo, mas tudo saiu tão inesperadamente bem que acabei contratando-o: ele era o melhor candidato. Já ia fazer um ano que ele trabalhava na Líber e até aqui, não tinha do que reclamar.

Na verdade, ele era um dos mais elogiados pelas clientes que frequentavam a loja e, muitas vezes, escolhiam ser atendidas por ele do que pelas vendedoras. Desvio de função? Talvez, mas eu já deixei claro que não era necessário ele executar aquele serviço.

Enquanto eu me aproximava a pé da loja, depois de deixar meu carro em um estacionamento particular, pensava em como tinha sorte por adorar o que eu fazia.

— Bom dia, meninas — disse ao entrar na loja recém-aberta — e menino — completei ao encarar o Ítalo.

— Bom dia, Gizele — responderam em uníssono. 

— Já chegou? Achamos que você fosse passar aqui só a tarde, por causa da festa de ontem — Clécia disse, recebendo olhares de repreensão que enxerguei por baixo dos meus óculos escuros.

— Foi apenas um jantar — suspirei um pouco frustrada — e não terminou tão bem quanto achei que fosse — dei de ombros.
Clécia trabalhava na loja desde a inauguração. Ela já me ouviu lamentar algumas vezes e também já me fez gargalhar com suas histórias pessoais. Não éramos melhores amigas, mas nossa relação ia um pouco além da empregadora/empregada, por isso não estranhei aquela pergunta feita de maneira tão espontânea. Os olhares de repreensão das outras pode ter se dado porque depois da demissão da Bárbara as coisas ficaram um pouco mais formais, assim elas devem ter estranhado a espontaneidade da outra.

O CEO da Minha Vida tinha que ser Você (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora