Jeferson
As minhas expectativas eram altas para o desfecho da reunião, mais do que fechar um grande negócio, o que estava em jogo era expandir a essência da Veloz: propiciar um serviço de entrega rápida a qualquer pessoa, independente do lugar, pois não existiam barreiras que a Veloz não transpusesse. E a barreira à minha frente era o grande complexo de construções localizados em Heliópolis, a segunda maior comunidade de São Paulo.
A localização do lugar era um desafio em si, as suas ruas íngremes, estreitas e de difícil acesso tornavam o trajeto uma tarefa árdua para os moradores, quiçá para as empresas de transporte.
Além disso a ausência de políticas públicas de segurança contribuiu para que a região se tornasse alvo de criminosos e fosse categorizada como zona de risco, segundo indicador interno da empresa de tecnologia.
Portanto, foi com um interesse genuíno que recebi em meu escritório a representante da liderança comunitária de Heliópolis, Cleide Santos. A mulher de sorriso grande e olhos escuros, chegou até a minha sala com um plano de ação e um discurso enérgico, Cleide falava em nome de toda a comunidade, apresentando as suas reclamações e anseios. Assim como outros bairros periféricos do país, Heliópolis sofria com a marginalização e exclusão da sociedade. Aquela era uma realidade que eu conhecia.
Cleide pontuou ainda que além dos problemas conhecidos por todos, o advento da tecnologia impulsionou a desigualdade social. Nos dias atuais chamar um carro por aplicativo e encontrá-lo minutos depois, se trata de uma tarefa comum para grande parte dos brasileiros, todavia para uma grande parcela da população esse não é um serviço facilmente ofertado, especialmente se a solicitação deste partir de uma região periférica.
Esse tipo de restrição se estendia para os serviços de aplicativos de comida e entregas, era como se o local de solicitação viesse seguido de um aviso em caixa alta: PERIGO ÁREA PERIFÉRICA. Os moradores relatavam falta de atendimento, longas esperas e até corridas que não chegavam ao destino, pois o motorista se recusava a entrar na rua X.
As empresas costumavam responder as reclamações dos clientes com a justificativa de que o roubo de carros frequente e assaltos a motoristas na região contribuem para essa reafirmação de zona de perigo e, para a segurança dos seus colaboradores, algumas medidas extras de segurança foram adotadas. Essas justificativas não diminuíam o transtorno de quem vivia ali, pelo contrário agravava o abismo social.
Segundo Marcelo Batista Nery, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, o Waze e os Correios trabalhavam com ferramentas de definição de áreas de risco. O problema de se atribuir um lugar como violento – além do transtorno de não conseguir chamar o transporte que deseja ou receber a correspondência – estava na estigmatização da população local. E foi com o desejo de modificar essa realidade e contribuir para a “desmarginalização” da região que finalizei o meu encontro com a representante de Heliópolis com o desejo concreto de levar a Veloz até lá.
Mudar a realidade da comunidade era a minha maior motivação, contudo não era um gesto totalmente altruísta.Apenas um tolo não enxergaria o potencial econômico dos milhares de residente do lugar, carentes por um serviço de entrega e a empresa poderia lucrar muito com a inserção nesse novo mercado, seria benéfico para todos. Mas antes eu precisava mostrar aos acionistas o que os meus olhos enxergavam: o potencial econômico daquele lugar.
Era verdade que o martelo final era meu, considerando que Peter sempre embarcava de cabeça nas minhas ideias, os acionistas e investidores juntos somavam 30% das ações, os outros 70% era dividido igualmente entre meu sócio e eu. Ainda assim, era de praxe esse tipo de reunião, por isso, Peter e eu passamos as últimas semanas debruçados sobre o projeto.
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O CEO da Minha Vida tinha que ser Você (DEGUSTAÇÃO)
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