Capítulo 1 - À Noite Se Foi

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        San Angeles, Alliceland
                         1989

Às horas passavam, a cidade de San Angeles ficava cada vez mais escura. Uma hora, surgiu um turbilhão de estrelas no céu que brilhavam intensamente. Apesar de ser uma noite extremamente fria e coberta de neve, ela estava simplesmente maravilhosa. Desejei estar na cama por um momento, nos braços do amor da minha vida, embora eu não tivesse mais ninguém ao meu lado além de mim mesmo e minha vida solitária.

Meu coração sempre esteve naquela cidade de neve. O que explicava a verdadeira razão pela qual eu nunca fui embora de lá. Eu adorava passear ao redor daquele lugar maravilhoso, observando o seu formato, as luzes da rua iluminando as pessoas, o barulho dos carros invadindo os meus ouvidos. Todo aquele cenário parecia um mundo de fantasia. Um lugar onde eu desejava pertencer.

A neve caia do alto para o chão abaixo, fazia um terrível frio dominar todos os cantos da cidade, o tempo todo. Podia-se ver vários pedestres caminhando pela calçada. Geralmente, vestindo roupas feitas a partir de tecidos fortemente resistentes, com a missão de manter o corpo sempre esquentado e livre do frio.

Todos soltavam fumaças de suas bocas, como se estivessem fumando um cigarro, um charuto ou abusando de qualquer tipo de droga que fosse. Eu estava entre as pessoas na calçada. Caminhava em passos moderados, com as duas mãos nos bolsos do casaco. Vivia quase todas às noites perambulando pelas ruas de San Angeles, Alliceland. Em busca de um destino, um sentido para minha vida, uma companhia ou algo que matasse um pouco do meu tempo, tédio ou mesmo, alguém que finalmente pudesse espantar a minha solidão para sempre.

A cada segundo, meus passos avançavam, meus pés mudavam de rumo, faziam curvas e passavam pelos enormes corredores vazios e sombrios, apenas com luzes fracas. O que criava uma atmosfera de pânico em mim. Mesmo assim, o medo tornava-se o coração do amor. O amor que eu nutria pelo o amor da minha vida. A cada dia que passava. Depois de alguns minutos de uma ansiedade fatal... finalmente pude chegar ao meu destino. Entrei no bar de sempre, me sentei no fundo, bem longe de outras pessoas. Onde a iluminação era bastante fraca. Tocava After Bridge - Broken wings. Naquele mesmo lugar, estavam também vários homens e mulheres bebendo juntos, outros sozinhos.

Após observar o ambiente, chamei um jovem branco que trajava seu uniforme de trabalho.

— Uma cerveja, por favor! — Fiz o pedido. Ele acenou com a cabeça indo pegá-lo.

Demorou cerca de cinco minutos para que um rapaz alto, atlético e aparentemente de dezoito anos, entrasse e viesse na minha direção. A cada segundo que seus passos se aproximavam de mim, meu coração batia mais rápido do que o habitual. Parecia que ia pular pela boca.

— E aí, beleza? — Ele me saudou chegando mais perto.

Ele sentou-se do outro lado. A mesinha era como uma fronteira que separava a gente. Mesmo assim, o seu olhar indescritível e misterioso atravessava a distância que havia entre nós.

— Beleza! — Minha expressão facial não foi acolhedora nem ameaçadora. Apenas neutra.

Ele era negro e muito bonito. Seus olhos eram escuros como a meia-noite. Seus cabelos eram da mesma cor. Com a cabeça raspada nos lados.

Continuamos a conversa normalmente, enquanto cada um tomava sua cerveja. A minha estava quase no final, pensava em ir embora assim que eu desse o último gole. Porém, ele chamou o garçom pedindo mais duas cervejas para si e mim. Talvez ele tivesse planejado tudo desde o começo, talvez sua intenção fosse me manter lá por mais tempo. Pensei.

— Um convite desses não se pode recusar! — Aquilo soou como uma segunda intenção disfarçada de um singelo convite. 

— Não, obrigado. Tenho que ir agora. Amanhã o dia será muito longo. Tenho que resolver algumas pendências da faculdade. — Revelei todos os meus planos do dia seguinte, só para me afastar do desconhecido.

SEM LÁGRIMAS PARA CHORAR (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora