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Minha Culpa

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem

Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem...

Sou um reflexo...um canto de paisagem

Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!

Sei lá quem sou?Sei lá! Sou a roupagem

De um doido que partiu numa romagem

E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...

Uma estátua truncada de alabastro...

Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,

Num mundo de maldades e pecados,

Sou mais um mau, sou mais um pecador...

— Florbela Espanca

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O que fazer quando todo seu mundo voa pelos ares, em menos de um segundo, enquanto você apenas assiste?

Sasuke corria feliz em minha direção e no instante seguinte a fumaça obstruiu minha visão e um barulho ensurdecedor atingiu os meus ouvidos. Meu coração acelerou antes mesmo de entender o que acontecia. Onde está o Sasuke? Tentei correr para meu irmão, mas as mãos de meu amado apertaram meu pulso e Shisui jogou-me no chão e debruçou seu corpo por cima do meu em uma tentativa de me proteger.

Boom.

Boom.

A boca de Shisui se movia como se falasse alguma coisa, mas não conseguia ouvir nada. Outras duas bombas foram detonadas e o som das explosões deram lugar aos gritos de dor e desespero, soluços de choros e pedras desmoronando. Pensando bem, talvez os gritos e soluços fossem meus. Ergui minha cabeça e as lágrimas que rolavam em meus olhos tornaram ainda mais difícil observar o caos bem a minha frente.

Meus ouvidos doíam com o zumbido alto que soava, tudo parecia estar turvo e quando consegui me levantar, caí novamente. Meu corpo não respondia aos meus comandos, eu queria correr, eu precisava encontrar o Sasuke. Meu peito doía e minha respiração se acelerava, por mais que inspirasse o ar não chegava até mim. Shisui me arrastou pelos braços até um ponto menos atingido. Ele segurava meu rosto e tentava chamar a minha atenção, eu não entendia, não escutava, mal conseguia ver com toda a poeira no ambiente.

A primeira maravilha do mundo estava completamente destruída. Suas paredes históricas agora não passavam de uma mera lembrança e pedras espalhadas pelo chão, sem sobrar uma única pilastra de pé. A fumaça era intensa, mas não escondia as pessoas caídas ao chão, membros sem os seus corpos, o sangue escorrendo por baixo dos escombros. Mas o pior era não ver nenhum sinal de Sasuke, como se ele nunca tivesse estado ali. Era assombroso, angustiante, desesperador.

Meu irmão é o que tenho de mais valioso nessa minha deplorável existência. Lembro do dia em que ele nasceu e como minha vida parecia finalmente ter ganhado algum sentido. Sasuke era tão pequeno, tão indefeso e, ainda assim, era o ser mais perfeito que já havia visto no mundo. Naquele momento eu soube que deveria cuidar dele, deveria estar sempre ali estendendo uma mão para ele e o livrando de todas as coisas más que essa vida pudesse o causar, no entanto não pude protegê-lo quando ele precisou de mim.

Entre o Sagrado e o ProfanoOnde histórias criam vida. Descubra agora