IV

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Tem gente que quando pega a mão da gente

Faz a gente querer que o tempo pare

Que dure eternamente

É tão gostoso, tão doce, tão quente

Tão doido, isso é tão a gente

Mil Coisas - Emicida

O lado bom de ser um seminarista no Vaticano, é que você fica tão ocupado, fazendo coisas que não quer fazer, que os dias, semanas e meses passam tão rápido que você nem percebe. O lado ruim de ser um seminarista no Vaticano, é que você é um seminarista no Vaticano e ainda vira padre no final.

Eu sei que o mundo não gira ao meu redor, mas eu acho curioso que absolutamente tudo que eu queira fazer ou é proibido ou vai me levar direto para o inferno. Tenho certeza que enquanto criavam as regras eles se perguntavam "isso vai gerar algum tipo de prazer, conforto ou bem estar?" e se a resposta fosse "sim', eles proibiam.

Jesus pôde ir em festas e beber com os amigos, mas eu tenho que ficar em jejum rezando.

Nem Ele ia querer ser padre desse jeito.

O fato do tempo parecer passar rápido, não faz com que minha estadia aqui seja agradável, não chega nem a ficar menos pior. Os meses seguintes foram tão ruins quanto o primeiro e quase me sinto satisfeito por isso, eu já estou aqui tempo o suficiente para saber que minha situação poderia ser bem pior.

Eu venho tentando me dedicar mais ao seminário, não por mim que continuo não dando a mínima para isso, mas por Shisui que fica muito perturbado toda vez que volto da sala de disciplina. Dormimos juntos quase todas as noites e ele não me deixa mais perder a hora, nem sair do quarto amarrotado.

Depois de quase um ano até um animal decoraria as orações e os ritos básicos e isso seria um problema a menos. Repare que eu disse seria. A verdade é que nada do que eu faço é suficiente e, dia após dia, lá estou eu sendo chicoteado, amarrado, espancado até quase desmaiar. Eu não reclamo, em todo esse tempo o cardeal não ouviu um único lamento de dor vindo de mim. Eu sei que isso o diverte e ele vai cada vez mais longe esperando o dia em que eu finalmente irei desmoronar. Mas, no que depender de mim, ele vai morrer esperando.

E ainda assim, às vezes, quando não apanho demais, eu acho que nunca fui tão feliz antes. É surreal a capacidade que Shisui tem de conseguir transformar o pior dos dias em algo bom. Eu não sei se é o jeito como ele me olha e sorri, o jeito como ele cuida de mim e se preocupa comigo, o jeito como ele me chupa e chama o meu nome enquanto goza, ou tudo isso junto e muito mais, o fato é que eu nunca amei alguém assim antes. Com cada célula do meu corpo, com todas as minhas forças, com todo o meu amor. Shisui é a minha casa, mas não a casa em que eu nasci e me criei, é a casa que eu sempre sonhei em ter.

É engraçado pensar que eu finalmente encontrei o amor no mesmo lugar onde vivo os piores momentos da minha triste vida, mas esse não é um deles, porque nesse momento, Shisui pressiona seu antebraço em minhas costas me deixando preso contra a parede e sua respiração quente e ofegante bate na minha nuca aumentando minha excitação.

A luz fraca do sol no fim da tarde atravessa os vidros coloridos dos vitrais da capela como em um caleidoscópio iluminando seu interior com inúmeras formas e cores. 

— Tachi, acho que não é uma boa ideia. — Shisui sussurra ao meu ouvido, mas sua mão livre desce pelo meu abdômen e agarra minha ereção. — Alguém pode aparecer. — Ele diz enquanto inicia um vaivém ritmado com a mão.

Entre o Sagrado e o ProfanoOnde histórias criam vida. Descubra agora