[3.2]

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[12.01.21]

Namjoon aprovou a coleção nova e pedi a Taehyung que viesse à empresa, onde eu poderia colocá-lo diante de um espelho e escolher quais cores e brocados ficariam bons nele.

Taehyung veio sem objeções. Agora entendo que ele gostava de se olhar no espelho e ver minha devoção a ele e à sua imagem; de se ver moldado pelas minhas roupas e pelo meu olhar, que o engrandeciam de uma forma desesperada.

Em minha companhia, Taehyung podia se ver como eu o via, e tenho certeza de que isso o agradava muito. Dava-lhe uma espécie nova de prazer que o fazia me olhar e me tocar daquela forma urgente das nossas últimas vezes juntos. Era como se ele quisesse se sentir idolatrado e amado como eu fazia — como apenas eu fazia. O tolo, o submisso obcecado que se prostrava de joelhos e esperava para ser colocado no chão, humilhado e satisfeito.

Foi por isso que ele veio naquele dia, sem objeções, protestos, reclamações ou um único suspiro cansado. Veio como se não quisesse nada, como se só obedecesse o contrato. Mas agora acho que estava ansioso para ver meus olhos, que sempre imploravam por cada átomo seu.

Ele entrou em silêncio, sem cumprimentos nem frases soltas. Nada sobre o tempo lá fora ou as roupas; nada sobre mim nem sobre ele. Chegou trajando um terno preto por cima de uma blusa vermelha e botas pretas lustrosas. Seus olhos pareciam madeira molhada. Além disso, ele havia pintado o cabelo de vermelho naqueles poucos dias que estivemos separados.

Enquanto eu pedia sua opinião em algumas cores, tecidos e brocados, contrastando-os com sua pele nua, ele me observava com atenção. Era um olhar de puro contentamento. Parecia ansioso para que eu fizesse qualquer elogio — que mais soasse como prece ao pé de um altar cheio de velas, flores e oferendas — e o chamasse para sair, embora se conservasse calado.

Rocei minhas digitais pelos caminhos das suas veias nas mãos, e seus dedos longos se fecharam. Ficamos em silêncio enquanto nossos corpos se aproximavam inelutavelmente como polos opostos de ímãs.

Eu estava perdendo o foco rápido demais. Afastei-me abruptamente e ele virou o rosto para o espelho.

— Falta muito? — sua voz saiu lenta.

— Não. — Quietude incômoda. — Você tem algum compromisso?

— Não.

— Então saia comigo — pedi, muito embora meu tom não houvesse sido tão convidativo. Pareceu muito mais desinteressado do que eu estava, e na realidade, eu estava ávido por ele.

Taehyung não me olhou diretamente. Encarou-me de modo sério pelo espelho. Depois de um tempo, deu um pequeno sorriso e assentiu.

— Aonde quer ir? — perguntou.

— Aonde você quiser.

Taehyung soltou uma risada anasalada, esticando o braço para pegar suas roupas. Ele se trocou enquanto eu me sentava em uma banqueta e observava seus movimentos.

— Então você é um voyeur, Jeongguk? — comentou, com olhos que pareciam ter jeito de brincadeira, mas a voz estava séria.

— Não, estou mais para um apreciador de arte — brinquei de volta e sua expressão mudou. Eu inflava demais seu ego e nem mesmo percebia. — Aonde quer ir?

Taehyung deu de ombros, aproximando-se de mim.

— Não quero ter um lugar para ir... nem para voltar — respondeu. — Podemos nos perder por aí, o que acha?

Fiquei quieto, magnetizado pela sua imagem.

— Quem pintou seu cabelo? — indaguei, enfim, antes que eu pudesse me parar.

Me ame a 100°COnde histórias criam vida. Descubra agora