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[07.01.20]


Adentrei o salão olhando ao redor, esperando encontrar um garçom com uma bebida, mas conforme meus passos avançavam, só o que eu via eram as roupas bonitas circulando para cá e para lá em corpos desconhecidos. Esperava não encontrar Namjoon antes de tomar pelo menos um pouco de bebida. Eu sabia que deveria ter comparecido ao desfile para lhe dar apoio, mas não me pareceu uma boa ideia sair em fotos pela imprensa a fora com meu pai me perguntando sobre a faculdade de Direito. Boas notas, diploma, o escritório da família — nada de perder tempo desenhando estes croquis. Coisa de menina.

Avistei Namjoon em uma roda, conversando animadamente. Bem, quando se o conhece por muito tempo, aprende-se que seu modo animado de se portar em diálogos é mexer a cabeça solenemente. Levei um segundo tentando identificar com quem ele conversava, o que foi um completo erro, porque foi tempo suficiente para que ele desviasse o olhar e me visse. E, embora eu tivesse me afastado rapidamente em busca de um garçom, meu melhor amigo pediu licença em seu jeito educado e ziguezagueou pelo salão o corpo impecavelmente arrumado em suas roupas elegantes. Não demorou nada para que eu ouvisse sua voz próxima demais, me dizendo em tom gélido e levemente assustador:

— Você está atrasado.

Vire-me e me deparei com sua expressão não muito convidativa e certamente nada simpática. Contudo, em meu costume, eu sorri de modo desafiador à sua seriedade e bati em seu queixo, provocando-o. Pude ver como precisou da força do inferno para não empurrar minha mão como geralmente fazia. A boa impressão na frente dos outros é tudo que conta.

— Não se preocupe — eu disse, procurando por palavras amenas —, tenho certeza de que você foi ótimo, mesmo que tenha quebrado algo por aí enquanto não estive aqui — e falhei, obviamente, acabando por provocá-lo sem querer.

— Era para você ter vindo ao desfile.

— Eu sei. Sinto muito.

— Você disse que viria, Jeongguk.

— Eu sei, eu sei! Sinto muito, mas sabe como é... — dei de ombros.

— Sei bem, seu pai chegou de última hora falando algo sobre você não poder ser quem realmente é nem fazer o que realmente gosta, então você colocou o rabo entre as pernas e resolveu fugir das fotos desta noite.

— Olha, eu só não te dou um soco porque você é meu melhor amigo e eu mesmo já te disse coisas assim — respondi revirando os olhos e dando-lhe as costas. Saí andando e pude senti-lo em meu encalço:

— Pergunte logo — ele disse e, mesmo de costas, podia vê-lo revirar os olhos também. Parei e mordi os lábios. Maldito, era nisso que davam tantos anos de amizade. Olhei-o e murmurei:

— E as minhas roupas?

Namjoon sorriu.

— Estavam ótimas, todo mundo adorou.

— Ótimo. Isto é realmente ótimo. — Contive minha empolgação.

— Claro — ele revirou os olhos. — Preciso voltar às conversas chatas. Aliás, você deveria se juntar a mim, com seu ótimo nome falso.

— Uhum, uhum — Assenti sem dizer nada e ele revirou os olhos novamente, ciente de que eu não me juntaria tão cedo. Namjoon me deu as costas e sumiu, e eu finalmente pude olhar ao redor com atenção. Olhei para as roupas e enfim para as pessoas. Noites assim sempre acabavam bem para mim. Bebidas, pessoas bonitas, cheiro de roupa e perfume caros... não haveria lugar melhor para mim, certamente. Encontrei finalmente um garçom e andei mais um pouco observando os vestidos enquanto escolhia alguém para me aproximar. Então me espantei. Não esperava encontrar um de meus croquis andando pelo ambiente, andando em direção às enormes portas francesas que davam para a varanda. Olhei pela janela e o vi do lado de fora, encostado ao balaústre, contrastando com o céu escuro. Algumas pessoas conversavam com ele. Podia ver as risadas, inaudíveis para mim, e os ombros subindo e descendo. Observei o caimento da minha peça no corpo do rapaz. Analisei cada detalhe e imaginei se mudaria algo, mas o que eu podia fazer? Eu sempre acertava, de modo que meus modelos jamais precisavam de algo a mais para lhes dar mais beleza ou vida. Até ver aquele rapaz, e perceber que as roupas em seu corpo tinham qualquer coisa de diferente — um diferente muito melhor.

Me ame a 100°COnde histórias criam vida. Descubra agora