Descobrimento

172 19 3
                                    

Armin se assemelhava a uma ovelha prestes a ser sacrificada, com os olhos de íris azuis ligeiramente vidrados nas grandes portas do belo salão do castelo que nunca conseguiu chamar de lar. Enquanto os corpos calorentos rodopiavam pelo salão, fingindo não saber do fim da pequena ovelha.

          A música ressoava pelos majestosos cantos do grande salão, os instrumentos sendo primorosamente tocados enchiam o lugar de vida. Porém era inegável que o coração do jovem quebrava um pouco mais a cada nota do piano. "Ah o piano" lamentou silenciosamente em seus pensamentos. "Se porventura essa trapaça for descoberta, não terei mais acesso a nenhum" finalizou o lamento.  

           Apertou suas mãos, que estavam  perfeitamente alinhadas na frente de seu corpo, em resposta ao seu nervosismo. As luvas que lhe cobriam as mãos eram delicadas, bordadas em renda. Por cima do tecido um anel simples enfeitado com uma bela pedra azul, se encaixava em seu dedo anelar direito, um presente enviado para a sua irmã.

          Por mais que fosse o herdeiro do trono ele sabia que nada levaria dali, caso alguma coisa fugisse do seu controle. Uma vez que se fosse, não haveria lugar nenhum a retornar. Sentiu um arrepio e olhou para o lado, vendo que seu pai encarava suas mãos pressionadas, relaxou-as imediatamente. O homem mais velho então se virou novamente para os convidados.

          Olhando de fora, o jovem parecia perfeitamente alinhada e esbelta. Usando um belo vestido azul com detalhes dourados feitos a mão com tiras de ouro, com mangas desciam azul até a metade da parte inferior dos braços, onde uma renda branca se estendia até chegar aos pulsos, mostrando o status que ostentava. A renda branca perto das mãos denota no mínimo um status elevado, afinal só alguém que não precise usar as mãos para nada ousaria colocar uma peça tão delicada e fácil de sujar ali. A de Armin permaneceria imaculada no branco impecável como fora feito, por toda a noite. Os fios loiros estavam presos em uma armação elaborada, com pequenas rosas emaranhadas estrategicamente entre seus fios encaracolados, usando de alguns apliques para dar mais volume e comprimento nos cabelos. As pequenas rosas brancas entre seus fios representavam a pureza e lealdade, o contraste com os fios dourados da "princesa" era de tirar o fôlego de qualquer um. Sim, princesa, era quem Armin era no momento, depois de ter aceitado a proposta absurda de sua irmã de tomar o seu lugar no baile e garantir que tudo fosse perfeito. Por tanto, era certo, como a lua que a princesa era dona de uma beleza inegável e inigualável.



          Christa era além de sua irmã gêmea, o ser mais precioso do mundo para si. Não era novidade para ninguém que Armin tinha dificuldades de negar o que fosse a ela, como também era conhecido que a loira se aproveitava muito disso. O melhor exemplo era a loucura sendo cometida neste instante pelo loiro. Se alguém o reconhecesse seria o fim dos irmãos.

          O contexto para tudo isso começou a anos atrás, antes de seus nascimentos, quando o rei se envolveu com uma mulher "vulgar" e acabou engravidando-a. A mulher não queria ser mãe e o rei muito menos se alegraria de bastardos. Então, logo que descobriu a gravidez, a mulher desapareceu. Retornou um ano depois como se nada houvesse. Porém, o karma a acompanhou e dois meses após retomar sua relação com rei do ponto que havia parado, inventando uma desculpa qualquer para seu sumiço, adoeceu. Morreu aos poucos e nos últimos suspirou mudou a vida dos gêmeos para sempre revelando suas existências. O rei não os procurou, mas mandou que os guardassem de perto. A intenção era mantê-los para emergências, o que logo se mostrou necessário, quando o herdeiro primogênito tornou-se um "ostentador inútil" segundo o próprio rei. Mandou que os trouxessem do orfanato em que estavam e tratou de contratar exímias governantas com o trabalho específico de transformá-los em membros da realeza adequados. Armin se destacou em todas as áreas do conhecimento, sua etiqueta e postura eram invejáveis, e sua capacidade de aprender chegava a ser assustadora. Christa por sua vez, era a mais selvagem, com um ódio mal contido, era feroz nos treinos com espadas e com o arco tinha uma mira certeira. Era claro como os cristais que embelezavam os salões do castelo que o loiro assumiria o reino, o que não deixava o clero nada feliz, entretanto, não havia nada que se pudesse fazer. Entregar o reino nas mãos de Jean estava fora de cogitação.

Doce OceanoOnde histórias criam vida. Descubra agora