Capítulo Oito.

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— Michelle? — Camila chamou no meio de toda aquela escuridão e amontoado de pessoas. As vozes altas denunciavam a indignação. Bela hora para que a luz caísse, no meio da festa do terceiro ano. — Michelle?!

Um corpo forte e alto esbarrou contra Camila, fazendo que a garota esguia cambaleasse uns bons passos para trás. Ela guinchou, se arrependendo de ter negado a companhia de Michelle até o banheiro. Descer as escadas para o primeiro andar tinha sido um inferno, mas andar naquele meio de adolescentes suados e bêbados já estava sendo uma prova de fogo.

— Camz? — Michelle chamou do outro lado da sala, num tom tão alto que Camila pôde ouvir facilmente. A última arregalou os olhos tentando enxergar naquele monte de escuridão. Quem tinha fechado as cortinas?

— Eu tô aqui!

— Aqui aonde? Não dá pra ver nada, Camila!

Michelle tateou para frente e para os lados, encostando em uma dúzia de corpos até sentir a textura de uma cômoda, quase derrubando um vaso de porcelana, ou vidro. Ela se encostou na madeira e tomou impulso para conseguir se sentar sobre ela. Preferia estar fazendo aquilo sobre um sofá, mas muito dificilmente encontraria um daqueles, e se encontrasse provavelmente estaria lotado de jovens desmaiados sobre. Com um pouco de esforço ficou de pé sobre a cômoda, quase desequilibrando algumas vezes.

Dali, via pelo menos o contorno das cabeças das pessoas amontoadas ali dentro. A casa estava totalmente cheia, uma verdadeira lata de sardinha. Michelle passou os olhos pelo espaço, procurando por Camila.

— Camila? — chamou, olhando atentamente. — Camila!

— O que? Cadê você, Michelle?

A mais velha pôde sentir o tom choroso na voz de Camila. Sentiu o peito apertar, se sentiu culpada por ter convencido ela a ir junto para a festa, e de não ter ido junto até o banheiro.

— Levanta a mão, Camila. Levanta e acena! — Pediu, apertando os olhos e tentando saber de onde vinha a voz da mais nova.

Do outro lado da sala, Camila mordeu o lábio piscando forte algumas vezes. A garota odiava o escuro, e odiava se sentir amassada dentre aquele tanto de gente. Era um pesadelo em dose dupla… dupla não, tripla! Ela também odiava se sentir sozinha. Respirando fundo e tentando não se sentir mais nervosa, ergueu a mão direita o máximo que pode, se sentindo uma idiota, porque estava escuro, como Michelle a enxergaria?

— Levantei! Mich, cadê você? — ela chamou, sentindo os olhos serem banhados pelas primeiras lágrimas. Alguém perto dela estava muito quente (nada que fosse uma surpresa, o Rio de Janeiro era sempre quente) e o calor que emanava da tal pessoa deixava Camila enjoada, parecia ainda mais apertado.

— Espera, não abaixa a mão, já te acho. — a de olhos verdes pediu, os olhos percorrendo todo o local em seu breu absoluto. De repente, notou um movimento quase imperceptível dentre toda aquela escuridão, era Camila, com sorte. A mãozinha e o bracinho minúsculo e esguio balançavam de modo desesperado. Michelle se sentiu muito culpada. — Te achei! Fica paradinha aí que eu já chego.

Pediu em voz alta, não entendia como aquela galera toda podia continuar conversando percebendo que ela estava no meio de uma missão de vida ou desespero de Camila. Desceu da cômoda com cuidado, mas se apressou a andar para o meio daquela pequena multidão quase que na ponta dos pés. Ainda conseguia ver a mão de Camila na altura da cabeça dos garotos mais altos. Estava bem perto da escada para o segundo andar. Quem estivesse lá em cima, provavelmente não estaria se incomodando com o escuro, pois lá ficavam os quartos da família que morava ali.

Mais rápido do que esperava, chegou até Camila. Pegou a menina pelo pulso, ouvindo ela reclamar de susto e tentar se soltar. Com uma espécie de instinto, acertou sua bochecha com um beijo. Michelle apostou mentalmente que se fosse em outra situação, teria errado a bochecha e lhe beijado os lábios macios e quase sempre molhados de gloss rosa claro. Uma droga ter senso de direção mesmo no escuro.

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⏰ Última atualização: Jul 13, 2022 ⏰

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