VIII

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VIII

O alarme soou alto duas vezes através das ruas empoeiradas. Todos souberam que uma tempestade de areia de grandes dimensões estava a caminho. Logo o céu começou a escurecer por causa do excesso de terra no ar.

A guarda foi mobilizada e se deslocou para o centro da cidade para garantir que não houvesse pânico e que todos cumprissem os protocolos de segurança. TH os ajudou nesse esforço por algumas horas, conforme programado. Ele acompanhou um grupo aos armazéns no lado de fora do portão sudoeste e esteve com YG no Mercado da Mirra quando as mercadorias eram guardadas e as estantes sem cobertura, desfeitas e armazenadas.

Conforme decisão do Príncipe NJ, residentes do perímetro externo da cidade e estrangeiros foram levados aos templos públicos. Neles, os príncipes fizeram estoques de água, comida e bens de primeira necessidade. Médicos e bruxos cura assumiram os postos designados nos templos. O que podia ser feito.

Enquanto se movia de um ponto a outro da cidade, avisando a quem de direito sobre as ordens dos príncipes, conduzindo quem precisasse a lugar seguro, TH pensava em JK.

No quanto queria vê-lo. No quanto se importava mais com ele do que com tudo que acontecia. Sentia medo dele desaparecer, quando evidentemente já faria falta demais para TH seguir sendo o mesmo. E no meio de tudo aquilo, quando nada podia para proteger JK, esse sentimento só causava desespero.

O sol se punha por volta das oito da noite naquela época do ano, por isso estava claro quando conseguiu retornar ao palácio, atravessando os pátios vazios, livres para a poeira e o vento, correndo pelas escadas em direção ao portão privativo.

NJ estava em uma das guaridas, uma pequena torre com frestas erguida no ângulo mais saliente da fortificação. TH passou por ali e o viu tentando convencer Jin a ficar com ele na área protegida e não descer.

Os bruxos já estavam em formação do lado de fora, cerca de duzentos metros diante do muro, voltados para a mancha de areia escura que avançava rápido na direção de Astrar. Todos usavam máscaras e roupas compridas de couro para se proteger da poeira. Eles estavam se concentrando. Mantinham-se quietos, em silêncio, mas TH podia ouvir sua magia trepidando. JK estava um pouco a frente com H. TH se pôs a seu lado, mesmo que a guarda de apoio ficasse um pouco atrás. Não havia muitos deles, apenas um pequeno grupo para dar suporte ao Lírio.

Os dois se olharam. JK pareceu repreendê-lo por estar ali na linha de frente, onde não era lugar para a guarda. O lobo sentiu mais forte a eletricidade no ar, beijando-lhe a pele, mas não se afastou.

Logo que se viraram para a tempestade novamente, ficou visível à frente da coluna de poeira uma zona de raios e clarões, porém protegida da areia e do que mais o vento pudesse carregar àquela velocidade. JK fechou os olhos com força e abriu para enxergar melhor. Levou em seguida ao rosto o binóculo que H lhe passou.

Viu alguma coisa se movendo dentro do redemoinho. Uns dois mil metros de distância. 'JM', soube na hora.

Seu coração imediatamente se acelerou. JM finalmente estava perto, a alcance. Sem perceber, deu alguns passos em sua direção, rompendo a formação do Lírio. H e TH o acompanharam e o lobo colocou a mão em seu ombro e seu braço, impedindo-o de continuar. H então apontou para cima, "JK"

E bem em cima de onde JM estava, havia um rasgo no céu. E era possível ver, através dele, outro céu, mais escuro, mais alto e distante. Foi a visão mais estarrecedora da vida daquelas pessoas. Mesmo para bruxos religiosos, mesmo para guerreiros que esperavam o fim do mundo, aquela visão era o fim de tudo.

Seu estômago estava embrulhado, a boca seca, JK estava com medo. Medo de quê, ele não sabia, medo de perder as pessoas, conforme ia se apegando. Ele queria preservá-las a todo custo, e este mundo onde elas existiam. JM e TH...Mas o que ele podia fazer contra aquilo? O que qualquer um podia fazer?, desesperou-se.

Tempestade de AreiaOnde histórias criam vida. Descubra agora