Segunda-feira, 07:00
"Hoje será um ótimo dia!"
Eu repetia essas palavras como um mantra para mim mesma.
"Vou entrar naquela escola, sorrir e fazer tudo ser incrível!"
Prendi meus cabelos escuros e lisos em um rabo de cavalo simples, à altura dos ombros.
O outono começava a trazer um frio mais intenso. Coloquei um casaco mais grosso do que o habitual para a estação.
Leotie estava inquieta, balançando os pés enquanto comia um pedaço de waffle sentada na minha cama.
— Por que está demorando tanto? – perguntou com a boca cheia.
— Porque eu preciso ficar bonita! – Apliquei um batom púrpura nos lábios e um pouco de blush nas bochechas.
— Mas você já é bonita! – ela comentou, olhando para mim com seus grandes olhos verdes, tão parecidos com os da mãe.
— Não, você é muito mais bonita – sorri. – Acho que precisamos descer, papai deve estar nos esperando. – Leotie pulou da cama, com sua mochila amarela de abelhinhas.
Peguei minha mochila e seguimos para baixo.
Papai estava na cozinha, com um prato de waffles pronto para mim.
— Não acha que está demorando muito para se arrumar, Lenan?
— Ela precisa ficar bonita, porque eu sou mais bonita que ela, pai! – respondeu Leotie, e não consegui segurar o riso.
— É o que ela diz, pai – dei de ombros e peguei um waffle.
— Não temos tempo para você tomar café da manhã...
— Está tudo bem, eu como no caminho – peguei mais alguns waffles e levei para o carro.
Papai nos levava para as nossas escolas todos os dias. Leotie para o jardim de infância e eu para o ensino médio. Pela janela, observava a paisagem dominada por folhas laranjas e amarelas que cobriam os quintais e ruas molhadas pela chuva fina da noite anterior.
Eu adorava aquela atmosfera melancólica, que parecia combinar com meu estado de espírito atual. Meus amigos odiavam o clima, preferindo o verão, como se fosse significativamente mais quente e diferente. Mas estávamos longe da Flórida, em uma pequena cidade no interior de Minnesota.
A melancolia daquele outono refletia meu humor dos últimos dois meses, tentando passar por tudo sem desmoronar. Esboçando sorrisos para que meu pai não tivesse mais preocupações e para que Leotie pudesse ter uma infância o mais normal possível.
— Tem certeza de que vai ficar bem, Lenan? Se quiser, posso pedir mais alguns dias para a sua diretora, ela vai entender.
— Tenho certeza, pai. Vai ser bom rever meus amigos e voltar para a equipe de torcida, vai me fazer bem – forcei um sorriso.
Papai suspirou e notei sua expressão preocupada. Beijei sua bochecha antes de sair e mandei um beijo para Leotie, que o pegou e riu da nossa brincadeira.
— Te busco no final da aula.
— Eu tenho treino da equipe de torcida hoje, então saio mais tarde.
— Me ligue então, tudo bem?
Assenti com a cabeça, sorrindo, e segui meu caminho para o colégio.
Pensei em revisitar o campo de futebol antes de entrar na escola.
Sentia falta daquele gramado, das arquibancadas, dos garotos correndo pelo campo, das meninas da equipe de torcida; era como um segundo lar para mim. Caminhei até a cerca de arame que fechava o campo. A grama úmida brilhava timidamente sob os poucos raios de sol. Segurei a cerca, fechei os olhos e respirei profundamente. Seria bom voltar a treinar, desviar meus pensamentos para outra direção, longe da realidade. Tudo estava calmo, longe da agitação dos corredores, quando senti alguém me tocar onde ninguém não autorizado deveria tocar.
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O vazio que habita em nós
Teen FictionNuma fria cidade do interior de Minessota, Lenan uma popular líder de torcida rainha das festas, conhecida por ficar com os veteranos, e por ser o rosto mais famoso do colégio, tenta colocar sua vida no lugar depois da morte de sua mãe. Noah um garo...