Capítulo 7

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Oi gente tudo certinho?
Bom, voltei com um capítulo num ponto de vista diferente dessa vez. Demorei? Demorei. Mas eu tava totalmente numa correria louca sem tempo de escrever nada, ainda mais num ponto de vista que eu não tava habituada. Mas realmente espero que gostem. Ah eu fiz um Instagram de autora e postarei coisas relacionadas aos meus livros lá. Podem interagir comigo por lá também e tudo mais. Sigam por favor é @autora_trbrito
Sigo de volta tá.
É isso. Boa leitura e até breve.

Capítulo 7

Por que eu havia confiado à ela todas aquelas informações? Não somos amigos ou algo do tipo. Lenan é apenas uma conhecida que se solidarizou com minha história de vida lamentável.
Por que eu chorava feito um desgraçado abraçado à ela?
Era ridículo. Certamente digno de pena. E talvez fosse mesmo.
— Sinto muito – Lenan me fitou à poucos centímetros de meu rosto e deslizou o dedão em minha bochecha secando as lágrimas.
— Eu nem sei o que dizer...
— Era eu quem não deveria dizer nada, você não tem que ficar me ouvindo sobre como minha vida é lamentável.
— Não, eu fico grata por ter confiado em mim pra desabafar. É legal – Sorriu e estalou a língua – Sinto que podemos nos entender bem.
Por alguns segundos apenas a observei em silêncio. Seu sorriso, seus lábios carnudos pintados de um vermelho profundo. Seus olhos amendoados quase desapareciam quando seus lábios se curvavam sorrindo.
Eu gostava de seu cheiro. Era doce, frutado, morango talvez? Poderia ser de seu shampoo ou seu perfume, mas era bom.
Me instigava à mordê-la.
No sentido mais obsceno da palavra.
— Você cheira bem – Observei feito um boboca.
— Hum? – Resmungou confusa – Ah... Sim – Riu – Obrigada, é meu novo body splash, frutas vermelhas. Bom que alguém gostou, é a primeira vez que uso.
Eu fedia a cigarro.
— Podemos continuar falando sobre cheiros, só pras coisas ficarem mais leves – Sugeriu e pisquei os olhos algumas vezes, secando o rosto com as mãos – Ou sobre seus desenhos... Eu realmente gosto deles. Tem algum aqui?
Ela parecia se esforçar para melhorar o clima pesado que eu havia deixado.
— Tenho. Tenho alguns.
Peguei os papéis amontoados num antigo baú de velharias e os entreguei à Lenan.
De certa forma eu me importava com sua opinião.
— Não são tão bons quanto poderia ser...
— Eu gostei – Passou os dedos por um dos desenhos – Eu meio que me identifico com eles. São como sentimentos, não são? A solidão, o vazio existencial? Se parece com o que vi no Instagram.
— Ah... – Suspirei – É, são expressões de como me sinto, e vazio é como me sinto.
— Você é bom, tem talento – Esboçou um sorriso – Gostaria de ser boa em algo também – Lamentou-se
— Não dizem que você é a melhor entre as líderes de torcida?
— Não sei se posso chamar isso de talento, qual faculdade eu faria? Eu nem sequer sei o que fazer da vida depois do colégio. Você pode fazer arte ou algo do tipo em uma boa faculdade.
— Vou ser tatuador – Afirmei convicto.
— Deveria pelo menos cogitar uma bolsa em alguma faculdade.
— Eu tenho ficha criminal – Apertei a mandíbula – Tentativa de homicídio, lembra? Enfiei uma faca nas costas do meu padrasto, Eu já aceitei a ideia de que nenhuma boa faculdade vai me aceitar. E não quero fritar hambúrguer pelo resto da vida. Tatuagem é legal. Tenho um amigo que pode me ensinar tudo que sabe. Vou ficar bem – Coloquei para fora o que ainda não havia confessado sequer à minha mãe.
— Quando tiver seu estúdio, posso ser sua assistente – Inclinou-se aproximando de meu rosto – E poderemos fazer mais do que só tatuagens – Olhou dentro de meus olhos e senti minha respiração descompassada.
Era difícil raciocinar quando a boca de Lenan Jacobs estava à poucos centímetros da minha.
O que ela estava fazendo? Algum tipo de joguinho ou era apenas seu jeito natural de lidar com seus “amigos”?
— Já fez alguma? – Indaguei num sussurro.
— Não ainda, você pode fazer a minha primeira, bem aqui – Virou-se, levantou os cabelos exibindo a nuca – Poderia um dos seus desenhos originais. O que acha?
Por um momento me imaginei esmagando seus lábios vermelhos contra os meus, a deitando contra o chão empoeirado, suas mãos abrindo o zíper de minha calça, minhas mãos deslizando sobre suas coxas grossas, descendo sua meia calça.
— O que você diz? Não ficaria legal?
— É... – Recobrei meus sentidos – Ficaria ótimo em você – Pigarreei e me afastei – Hum, eu acho que deveríamos voltar pra casa.
— Ah – Me olhou desapontada?
— Seu pai vai se preocupar.
— Ele não sabe que saí da festa. Nem tem como saber.
— Eu acho melhor a gente ir Lenan – Me levantei e bati as mãos em minha calça removendo a poeira.
Visivelmente contrariada ela aceitou minha mão que estendi para que se levantasse.
— Vou te acompanhar até em casa se não se importar.
— Tudo bem.
Caminhamos num silêncio incômodo até sua casa. Lenan parecia frustrada.
Me desculpe por não proporcionar uma noite tão memorável quanto deve ter sido a festa do Mason.
— Não tem que se desculpar, foi divertido, só não precisava acabar tão cedo.
Parou em frente à uma bela e típica casa suburbana com paredes de tijolinhos, dois andares, um belo gramado verde e uma bandeira dos Estados Unidos içada.
— É aqui que eu moro.
— Daora – Admirei a casa dez vezes maior que o muquifo que eu dividia com minha mãe.
O sonho da classe média americana.
— Eu trabalho amanhã cedo, preciso dormir.
— Tá tudo bem. Foi melhor que merda que o Mason faça.
— Você realmente o odeia.
—Temos um histórico complicado que ninguém precisa saber. Só precisamos saber que ele é um lixo. É o bastante.
Interessante.
— Com isso eu devo concordar – Ri e chutei uma pedrinha na calçada.
— Foi bom passar um tempo com você Noah.
Balancei a cabeça agradecido.
— Nos vemos amanhã então.
— Às quatro.
— Até amanhã Noah.
— Até amanhã Lenan – A observei caminhar pelo caminho de concreto até a porta da casa e girei sobre os pés rumo ao outro lado da cidade.
— Noah?
Parei e olhei para trás.
— Você realmente quis fazer aquilo? Com seu padrasto? – Indagou e um arrepio percorreu minha espinha.
— Sim, eu quis – Fui sincero.
Eu quis enfiar a porra de uma faca em suas costas e meu único arrependimento foi ter sido pego.
Lenan assentiu em silêncio e entrou em sua casa.

O vazio que habita em nósOnde histórias criam vida. Descubra agora