Capítulo 2

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Segunda-feira, 08:50


Saímos da sala ao soar do sino, acompanhadas por uma multidão de adolescentes pelos corredores.

— Agora vai me dizer por que o chamam de psicopata? – Olhei ao redor, esperando que ele não estivesse próximo.

— Porque ele é! – Afirmou Cherry, guardando seu livro de História no armário. Franzi o cenho, insatisfeita com sua resposta vaga.— Certo, não se lembra do Noah Harris? O veterano, do último ano, no ano passado.

— Não, nunca o notei antes. Ele repetiu de ano? É isso? O que tem de tão ruim nisso?

— Ele repetiu porque estava em um reformatório. Foi liberado quando completou dezoito anos e o juiz o considerou "inocente" - fez aspas no ar - na última audiência. Não entendo por que ele voltou para a escola. Ele é perigoso!

— Pode me dizer por que o chamam de psicopata?

— Ele tentou matar o padrasto – Cherry se aproximou e sussurrou - À facadas! Não sei como o homem sobreviveu. O garoto que me ajudou mais cedo era o mesmo que tentara homicídio.

Não fazia sentido. Simplesmente não fazia sentido.

— Ele tentou dizer algo para você quando entrou na sala?

— Ah... é... Nós meio que trombamos mais cedo.

— Trombaram? - Arqueou as sobrancelhas.

— Sim, eu... Eu... Aquele garoto que chamam de "Mago", ele... – Fechei os olhos, enjoada – Ele tentou me... – Senti minha respiração falhar – Ele quis...

— Lenan! – Cherry me abraçou. – Meu Deus, e você não vai denunciar ou contar a alguém?

— O Noah...

— O que ele te fez?

— Ele me ajudou, acertando um soco bem no rosto dele.

— Ai meu Deus, Noah Harris nocauteou o "Mago"? E para te salvar? Meu Deus, meu Deus! – soltou algumas palavras em coreano – Se eu contar, ninguém vai acreditar!

— Não conte! Eu só espero não ter que ver a cara daquele lixo novamente.

— Vou garantir isso. Vou quebrar a cara daquele filho da mãe. Mas tem certeza de que não quer expor esse desgraçado?

— Tenho. Estou tão cansada de tudo. Só quero paz.

— Me prometa que, se ele tentar algo, você vai denunciar. – Ergueu o mindinho. – Promete?— Prometo. – Fizemos um juramento.

Cherry era a garota mais incrível que eu conhecia. Tão forte, sempre pronta para ajudar. Poderia parecer intimidadora por seu jeito brusco de agir e falar, mas era só um coração mole por baixo das jaquetas militares, calças cargo, coturnos surrados, e qualquer roupa de brechó, que ela dizia ter história e isso as tornava melhores que roupas novas. Não era o esperado para uma líder de torcida, mas Cherry não era comum.

— E a Mads? Ela está bem?

— Ah, você sabe. – Deu de ombros enquanto caminhávamos para o meu armário. – Chorou, eu consolei, o Mason veio falar com ela, deu um monte de desculpa, e ela aceitou, como sempre fez centenas de vezes, e eu não entendo, Lenan, simplesmente não faz sentido!

— Eu sei. – Peguei um livro de Inglês do meu armário. – Nós conversamos tanto com ela. Até sugeri um terapeuta, sempre tentamos, Cherry. Mas até que ela aceite a realidade, só nos resta estar aqui para ela.

O vazio que habita em nósOnde histórias criam vida. Descubra agora