1.1 - O dia mais frio do verão

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8 de agosto de 1998

- Mãe, eu quero ir pra casa... - um garoto implora para a mulher que está sentada ao seu lado

- A gente já vai, filho. - ela responde, se abanando com um leque velho

Era uma igreja pequena, com uma arquitetura antiga e entediante. Os bancos de madeira e seus ruídos, as janelas amareladas pelo tempo, um órgão empoeirado e um púlpito vazio.

Jesus permanece na parede, alternando entre o observar e o sofrer.

Os ventiladores não eram o suficiente, funcionando em uma velocidade pífia que não refrescara ninguém ali. Entretanto, todos estavam persistentes em seus trajes pretos.

Flores azuladas cobriam o seu corpo, um mar de acrilégias que se movimentava com a brisa que entrava pela janela. Nada além de seu rosto pálido e algumas mechas azuladas do cabelo estava à mostra. Algumas marcas de deterioração já apareciam nas extremidades da pele, a necromaquiagem não era uma das melhores.

Entre o silêncio absoluto de amigos e familiares, apenas um choro incessante se sobressaia, acompanhado de gritos e sussurros. Uma mulher aos prantos se apoiando no caixão, sentindo o peso do mundo em suas costas e o pesadelo diante de seus olhos.

As moscas que pousam nos olhos fechados, andam pelas narinas, mas voam dispersas à tentativa da mulher de sentir mais uma vez o rosto pálido em sua frente. Respirando fundo e suando sem parar, mas isso era a última coisa que prestaria a atenção.

Antes que pudesse se acalmar, a equipe funerária entra silenciosamente. Todos observam. Alguns apenas fecham os olhos e outros desabam em um choro alto e são abraçados. Um homem se aproxima em passos silenciosos, em respeito. Mas apenas isso foi o suficiente para que a mulher em prantos entrasse em desespero.

Suas mãos cravaram na madeira escura, gritando o mais alto possível, sentindo as lágrimas quentes escorrendo pelo rosto. Alguns conhecidos se aproximaram para lhe segurar, piorando a situação. Nada além de uma mãe em choque, desgastando as cordas vocais pela sua filha suicida.

O homem colocou a tampa do caixão, posicionando em silêncio enquanto o restante da equipe fechava rapidamente, encerrando mais um velório.

Era o fim.

AutodestrutivoOnde histórias criam vida. Descubra agora