Parte 1

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Pov S/N

A noite estava chuvosa, olhei para o lado e vi o meu noivo Mark mexendo em seu celular, ele nem tinha olhado pra mim nas últimas duas horas em que estávamos naquela sala fria e sem vida. A televisão estava ligada, mas nenhum de nós prestava atenção ao filme que passava ali. Troquei de posição no sofá, estava inquieta e incomodada. Já fazia tempo que o nosso relacionamento não era bom, nunca me senti tão infeliz quanto naquele momento.

Olhar para o meu passado me trazia um misto de tristeza e arrependimento. Eu abri mão de tanta coisa por conta desta relação e agora eu sentia como se eu tivesse jogado fora três anos inteiros da minha vida. Eu me arrependi de tanta coisa, me afastei da minha família, dos meus amigos, deixei de fazer tudo o que eu mais amava, eu me distanciei do Seokjin e, sinceramente, dentre tudo era isso o que mais me doía.

Jin era o meu ombro amigo desde que eu tinha sete anos de idade, aquele em que eu sempre pude confiar, um irmão mais velho. Ele sempre foi a minha família. Eu me sentia tão burra, tão ingrata de ter me afastado dele. Todos os dias eu pensava em ligar, mas sabia do seu ressentimento e por isso sempre desistia da ligação.

Agora sentada ali naquela sala, eu me sentia tão vazia e fria como os cômodos daquele lugar. Me via como nada além de uma noiva troféu. Eu nunca fui importante para o Mark, eu só não queria enxergar isso. A relação abusiva, as grosserias, a frieza, as traições, tudo acontecia com tanta frequência que eu deixei de me importar. Triste, né? Quem quer viver desse jeito? Era normal eu me sentir um nada, alguém que não merecia ser amada.

Mas naquela noite, depois de tanto tempo sofrendo, eu tomei uma decisão. Decidi me libertar daquele martírio em que eu vivia, era assustador pensar em ficar sozinha depois de tanto tempo, mas eu precisava recuperar a minha vida outra vez.

Me virando para o Mark, eu perguntei tentando manter uma última migalha de esperança:

- Mark... – ele nem mesmo levantou os olhos do celular.

- O que foi, Sn? – eu suspirei e perguntei.

- Você me ama? – continuei não obtendo nada além da sua total indiferença.

- Já vai começar? Por que você tem sempre que me fazer essas perguntas idiotas? – eu já estava acostumada com as patadas.

- Te perguntar sobre o seu amor por mim é idiotice para você? – Mark finalmente olhou para mim e tudo o que eu consegui enxergar foi desprezo.

- Amor é para os idiotas! Eu já te falei isso 1 milhão de vezes, mas você insiste em não entender! – ele voltou a olhar para o celular encerrando a conversa. Porém, eu tinha tomado uma decisão e era só aquilo que eu precisava para agir.

- Eu sei o quanto você acha estupido demonstrar amor a alguém. E eu sei também o tanto que eu lutei para te fazer ser alguém diferente. Eu te dei inúmeras chances de ser um namorado melhor, mas eu estou desistindo agora. – nesse momento meu noivo largou o celular e me encarou.

- O que você está dizendo, garota? Você está pensando em me largar? – ele solta uma risada debochada.

- Sim, Mark. Eu estou deixando você neste exato momento. – minha voz vacilou um pouco, porém a minha postura continuava firme. A risada dele soou alta e retumbante.

- Você vai terminar comigo e vai para onde? Você não tem ninguém além de mim! – ele se levantou do sofá. – Já cansei dessa palhaçada, Sn! Eu vou dormir e não encha mais o meu saco! – Mark se encaminhou para as escadas.

- Não é uma brincadeira, eu estou mesmo terminando com você! – gritei para ele. Meu noivo se virou para mim e agora ele parecia acreditar no que eu dizia.

- Você sabe muito bem que eu sou o único que aguenta a garota intragável que você é, Sn! Ninguém, além de mim, vai te querer! – ele anda até mim e segura o meu braço. – Vai deixar todo o seu conforto para trás? Você tem uma vida de rainha ao meu lado, vai largar isso tudo por causa de amor? – a palavra sai como um veneno da sua boca. Eu apenas o encaro. – Então vai! Pode ir embora, você vai estar me fazendo um favor! Mas eu vou esperar você voltar rastejando para mim! – ele larga o meu braço e vira de costas.

- Adeus, Mark. – eu falo baixo, pegando a minha bolsa que estava pendurada ali perto e saio batendo a porta.

Sim, eu saí apenas com a roupa do corpo, tive medo de perder a coragem quando estivesse arrumando as minhas malas. Eu nunca havia me sentido tão perdida e ao mesmo tempo tão livre.

Pov Jin

Mais uma noite em que eu trabalho até me sentir completamente esgotado. Já havia se tornado rotina eu chegar por volta da meia noite em casa, pronto para tomar um banho e cair na cama exausto. Essa era a minha vida já fazia algum tempo. Voltar para aquele lugar vazio não era algo que me agradava e por isso eu trabalhava até tão tarde.

Todos os dias em que eu abria a minha porta de casa, não conseguia deixar de encarar o apartamento em frente ao meu e me lembrar dela. S/n... a garota que fez parte de praticamente toda a minha vida, aquela que eu não guardei nenhum segredo por anos a fio, mas que escondi o desejo mais absurdo que já senti por uma mulher. Eu nem sei em que momento eu deixei de vê-la como minha melhor amiga e passei a quere-la como minha namorada. Sei lá, já faz tanto tempo que convivo com esse sentimento, que ele simplesmente passou a ser parte de mim.

Quando S/n começou a namorar, eu pensei que fosse enlouquecer, eu tentei de tudo para que ela terminasse com aquele cara e não era só porque eu queria estar no lugar dele. Eu sabia que o Mark não prestava, estava estampado na cara dele para todo mundo ver, mas a S/n não viu. Ela parecia idolatrar o cara e eu fiquei ali parecendo que estava apenas querendo a infelicidade dela. Sei que ela ainda tentou me manter por perto, só que eu não aguentava vê-la com ele e tudo o que eu fazia era criticar o seu relacionamento. Eu fui um cuzão e tenho plena consciência disso.

S/n foi se afastando de mim aos poucos e eu achei que com o tempo o meu sentimento por ela também fosse sumir, porém isso nunca aconteceu. Mesmo tendo outros relacionamentos, eu nunca consegui entregar o meu coração a mulher nenhuma porque ele já tinha uma dona.

Aquele em que ele ainda te ama - Kim SeokjinOnde histórias criam vida. Descubra agora