Capítulo 02

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Ana Vitória

Entrei no salão toda suada e com a respiração desregulada por conta do sol que estava fazendo hoje.

Não é possivel cara, Deus criou o Rio pro ser humano ter uma demonstração do inferno.

Maycon: Graças a deus tu chegou! Tem uma mona dando pitaco aqui sobre um horário que não tem o nome dela marcado!

Vitória: Ela quer manicure? — ele concordou e eu revirei os olhos — as vezes me pergunto por que não saí de um útero rico, pelo menos evitaria de trabalhar com pessoas desse tipo.

Maycon: larga a mão desses papo, garota! Vai lá que eu tenho uma cliente na cadeira pra terminar o corte.

Já no início do salão dava para ver uma mulher sentada na poltrona por conta do espaço ser curto, mas para falar a verdade esse é o melhor salão de beleza aqui da cdd... todas as patroas vem aqui e só aceitam funcionários com certificado do curso.

Vitória: Bom dia senhora, em que posso te ajudar?

A mapoa levantou que nem uma princesa e empinou aquele nariz plastificado.

— marquei um horário com a manicure daqui semana passada, hoje quando cheguei, aquele viadinho veio com a patifaria de que meu nome não estava na lista — ela aponta para maycon que na hora virou para ela com um carão — mas eu já devia saber que salão de beleza em favela não fornece um trabalho bem feito — a mona pegou sua bolsa e me encarou — essas coisas de pobre um dia vão me causar rugas de tanto nervoso.

Fiquei incrédula tentando raciocinar quantos crimes essa mulher cometeu agora.

homofobia, xenofobia e...

Beatriz: Vem aqui piranha, o que você acabou de falar do meu salão de beleza?

Espiei por cima do ombro e vi minha chefe parada em frente a entrada, Maycon já começou a bater palma e foi pro lado da nossa amiga.

— Disse que é coisa de pobre e não menti! Olha só que mukifo, e pra pagar um funcionário viadinho tem que ta faltando muito dinheiro!

Quando ouvi ela tentando insultar Maycon mais uma vez, lhe encarei indignada e cruzei os braços.

Maycon: Ta tentando me ofender mona? Teu marido me chama de coisa pior na cama.

Arregalei os olhos e quase ri, mas fui interrompida pela batida que a mulher deu em meu ombro e seguiu até meus amigos.

Sera que ela sabe o erro que ta cometendo em querer briga com esses dois?

Xxx: se der um passo a mais eu ligo pro meu marido que é traficante.

A cliente loira que estava na cadeira se pronunciou e a mulher já arregalou o olhão.

Beatriz: Faço questão de pegar uma fuzil pra meter bala nessa tua cara falsificada — minha amiga se aproximou da mulher — acho melhor tu sair daqui agora, se não vai sair só dentro do caixão.

A mapoa não abaixou a guarda, mas também fez a decisão sensata de meter o pé dali, e foi quando o salão já estava silencioso que a gargalhada de Maycon ecoou por todo o lugar.

Maycon: Eu racho com essas mona com síndrome de rico — meu amigo volta a fazer o cabelo da cliente e eu ri com eles — inclusive viada, quem é teu marido? Deve ser vapor novo do grego né, porque eu nunca te vi aqui com ele.

Xxx: Meu marido é conhecido por "canela" mas ele chama César, nós éramos de sp mas decidimos nos mudar aqui pro rio quando o Grego ofereceu um cargo na boca principal. Eles são grande amigos — a mulher era linda, parecia ter em torno de uns vinte e dois e sua beleza é de arrepiar — Inclusive meu nome é Karen, prazer.

Maycon: Que poder! Satisfação mapoa.

Vitória: satisfação!

Beatriz: bem vinda ao morrinho do meu coração! e saiba que nosso salão ta de portas abertas pra ti.

Eu gostaria de ficar lá jogando papo fora com eles, mas precisei me trocar e já tinha cliente pra atender. Terminei meu expediente era seis e meia e já não perdi tempo, fui me trocar, principalmente porque hoje combinei de ir comer um lanche com o pessoal daqui.

Maycon: Gata tu ficou mais linda ainda com esse loirão, namoral... eu só faço coisa linda.

Karen: Obrigada bixa! Pode passar nesse cartão aqui — ela entregou um cartão roxo e piscou para mim — ai como eu sou nova aqui e gostei de vocês, que tal irem num pagofunk que vai ter domingo lá na casa do chefe? Meu marido disse que eu poderia convidar meus amigos, mas nem deu tempo de socializar então...

Nessa hora lembrei do churrasco que minha irmã comentou, provavelmente era o mesmo evento já que minha irmã andava com esses bandidos mesmo.

Beatriz: opa! Já pode confirmar minha presença e amizade nega.

Maycon: Igualmente!

Queria responder algo, mas era complicado... quando minha mãe estava no leito de morte dela, eu tinha quinze anos e ela me fez prometer que não iria me envolver que nem minha irmã, e na verdade nem tinha vontade mesmo.

Vitória: Preciso ver se não vou fazer nada no dia... mas com minha amizade pode contar também!

Karen deu tchau para todos e fechamos o salão no auge do cansaço, inclusive duvido que íamos conseguir sair hoje, mas que se foda já que amanhã era sábado e o salão abria um pouco mais tarde.

Beatriz: Sei que tu fez a promessa lá pra sua coroa, mas se for seguir nessa ideologia tu não vai viver amiga! Tudo aqui envolve o tráfico, e não quer dizer que tudo é ruim! Porra grego faz tanta coisa por essa favela que deixa os policia e o governo no chinelo.

Vitória: Eu sei — e como sei... apenas aprendi a ver o lado bom com minha irmã — mas eu ainda não sei, ta legal?

O que eu gostava da bia era que ela não insistia que nem minha irmã e nem ficava bolada, meus amigos faziam de tudo pra entender meu lado e eu agradecia sempre por isso.

A Luz Da Vela [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora