Capítulo 05

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Grego

Soltei a fumaça e deitei minha cabeça no sofá da laje, só aproveitando minha vista favorita. Quando assumi o comando do morro, quando escolhi as bocas, fiz questão de comandar essa em específico, afinal... seria minha segunda casa né, e isso é muito real, se pa eu fico até mais aqui do que na minha própria casa.

Por isso o apego, o cuidado.

Sentimentos que eu quase nunca deixo vir a tona, mas uma casa nunca vai me trair ou cometer erros que custem minha vida, creio eu.

Vapor: patrão, tem um cria aqui querendo falar com o senhor, o tal do canela.

Grego: pode liberar.

Não sou de fechar com ninguém! Qualquer pessoa aqui pode agir na má fé comigo e botar meu cu na reta, e eu falo isso porque eu mesmo fiz... a ganância cega o homem, é impossível tu explicar o que as pessoas são capazes de fazer por poder.

Mas a questão é que o canela é filho da única pessoa que me amou nessa vida, Dona Verá. Lembro que quando eu era pequeno e acontecia todas aquelas merdas dentro de casa, era ela quem me encontrava na rua, quem me levava pra comer um lanche e me tirava de todo o caos; pelo menos tentava.

Quando eu tinha oito anos César tinha completado quatro, nós nunca fomos muito próximos... o moleque sempre foi mais extrovertido, todo mundo gostava de fazer amizades com ele, já eu sempre fui na minha, também prefiro assim.

Canela: fala patrão! — ele soltou um riso baixo — dá pra imaginar que um dia eu ia te chamar assim? Tipo, desde menor eu to ligado que você ia ser bandido dos grandes, mas é que eu nunca imaginei eu indo pro mesmo caminho.

Concordei com o garoto mas também não disse nada, nunca fui bom de papo... não era hoje que eu ia adquirir essa habilidade.

Levei o baseado mais uma vez até os lábios e puxo, prendendo um pouco e depois soltando para oferecer um pouco para César, que aceitou.

Dona Verá e César se mudaram do rio quando ele completou dez anos e infelizmente ela veio a falecer agora, depois de 14 anos. César entrou pro crime logo em seguida e eu fiz questão de trazer ele pra cá, onde eu posso observa-lo, uma forma de retribuir o que a mãe dele fez.

Canela: você não devia ta lá no seu churrasco?

Ele devolveu o baseado e eu encarei ele, enquanto seus olhos focavam na vista.

Grego: aquilo ali não é meu churrasco... só tá acontecendo na minha casa.

Odeio churrasco, odeio baile... na verdade odeio tudo que envolva um bando de bandido metido junto, mas sei que essas porra corre muita droga e resulta no meu salário.

Grego: e tu, não deveria estar com tua mina?

Canela: depois daquele episódio a gêmea morena decidiu que queria ir embora e minha Karen ofereceu nosso barraco que era mais perto — ele parou de falar por um momento — a tal da clara ta com o pescoço todo roxo... namoral sei que o mano é seu amigo, mas ele foi um puta de um cuzão.

Concordei com a cabeça e apaguei o fininho.

Maneirinho... meu primeiro "amigo", o único que eu conheci na escola e levei pra vida, mas o moleque sempre teve ambição, acontece que acabou piorando quando eu botei ele como meu vice.

O cara se acha o foda, bandido inabalado, e são esses que caem mais rápido.

Grego: posso ter matado várias pessoas, feito muito mal para outras, mas nunca faria o que ele fez... nunca teria coragem de levantar um dedo pra mulher minha, a mulher que dorme do meu lado, que cuida de mim. — corri a mão pelo rosto e respirei fundo — Ana Vitória deveria ter feito pior, eu faria!

Conheço Ana Clara, a irmã morena, conheço muito... primeira mina que entrou no meu comando, e te falar ela é foda pra caralho, geralmente fica na contabilidade, separar dinheiro e somar com o valor da droga, essas coisas que os homens tem preguiça de aprender.

Ela é uma mina muito forte, aguentou uma penca de coisa... e hoje em dia ta ai, sofrendo na mão de quem não a merece.

Ficamos ali até o sol descer do céu oficialmente, era umas seis e meia quando César foi pra casa, e as sete meu radinho tocou.

Vapor: Porra invasão invasão! Tão entrando pela entrada da esquerda, aviãozinho solta a porra do fogueteiro.

Pulei do sofá e peguei a fuzil no canto, destravando a peça e caminhando até as escadas.

Grego: quero todo mundo pra fora da boca, tenta levar todos os moradores pra dentro primeiro, depois bate de frente.

A calma era o segredo para a vitória na guerra, tu precisa ter uma estratégia e segui-la firme. Com raiva e medo tu não consegue fazer nada.

Assim que pisei na rua vi um bando de moleque correndo com a arma na mão, me juntei a eles e guiamos até as principais bocas do lado esquerdo.

Vapor: chefe tem muitos... porra eu nunca vi tanto alemão junto.

Grego: cade a porra do maneirinho que não tá no comando da tropa dele?

Conforme ia me aproximando já dava para ouvir os tiros, por isso virei um beco e entrei na três.

Canela: patrão acabei de passar na casa do churrasco e ele não tava lá também não.

Grego: Onde tu ta agora, canela?

Canela: to indo bater de frente com os que tem aqui perto do centro.

Grego: beleza, fica ai!

Continua...


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