03_ Volte ao trabalho!

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Ouvir aquele som familiar tocado tão perfeitamente pelo homem dentro da sala me remeteu a tempos em que eu não tinha tantas preocupações.

Estava deixando a música fluir em meus ouvidos quando ela parou de tocar.

- Você foi contratada para limpar ou ficar me bisbilhotando? - Engoli em seco quando ouvi a voz intimidadora porém familiar vinda do homem.

- D-desculpa senhor. - Recuei um passo para trás.

- Qual o seu nome? - Ele perguntou me fazendo encarar suas costas novamente.

- Aurora, s-senhor. - Gaguejei novamente.

- Muito bem, Aurora... - Extremeci por uns segundos quando ouvi meu nome sendo dito por ele. - Seria melhor se fizesse seu trabalho sem me espionar.

Fiz uma careta ao ouvi-lo falar rudemente.

- Com todo respeito Senhor seja lá qual for o seu nome, mas eu não estava lhe espionando. - Deixei-me levar pela raiva momentânea. Eu fazia muito isso. - Eu só estava limpando o corredor.

Um silêncio pairou por uns segundos e uma curta e sarcástica risada soou na sala.

- Pelo modo que fala, acho que não precisa tanto do emprego. - Sua voz soou novamente me fazendo encolher os ombros. Eu precisava. E como precisava. - Volte ao seu trabalho antes que não o tenha mais. - Ele finalizou num tom ameaçador e segundos depois voltou a tocar a mesma música.

Eu até pensei em responder. Uma das coisas que mais me metiam em confusão era o fato de eu sempre ter uma resposta na ponta da língua, mas eu precisava me segurar. Não podia colocar em risco aquele emprego. Amelie precisava de mim.

Suspirei derrotada e voltei a limpar aquele enorme corredor.

[...]

- Arg... - Suspirei me jogando sobre a cama do meu quarto. Era fim de tarde e eu havia limpado o segundo andar da casa inteiro. Isso significa: quartos, banheiros e corredores. Todos em grandes quantidades. Sentia como se um caminhão tivesse passado por cima de mim sete vezes.

Eu estava cansada, com fome, suja e com sono. Eu daria tudo para poder apenas tomar um banho, comer algo e dormir por três dias seguidos. Mas eu ainda precisava fazer o jantar do senhor pianista.

Me levantei da cama novamente sentindo minhas costas doerem de tanto ter me abaixado para esfregar o chão hoje e soltei um leve gemido.

- É pela Amelie, Aurora. - Falei para mim mesma tentando esquecer a dor e ir na direção das minhas coisas. Eu precisava tomar um banho antes de descer para fazer o jantar.

Eu não havia levado muitas roupas, na verdade eu não tinha muitas roupas. O que me fez escolher uma calça bem antiga que eu tinha, uma blusa simples sem estampa alguma e fui em direção ao meu banheiro.

Eu ainda não havia entrado nele, mas quando entrei fiquei encatanda. Ele era lindo e parecia que saiu de um palácio. Sua parede era composta de pedras claras, seus adereços eram dourados e a banheira ficava de frente a uma janela que me permitia ver o pôr do sol além de um enorme campo atrás da casa.

- Uau. - Por um momento fiquei sem fôlego. Eu nunca havia visto uma visão tão linda.

Depois de admirar aquela imagem como se fosse a primeira vez que eu via um pôr de sol, eu abri a torneira dourada da banheira e deixei que ela se enchesse enquanto eu tirava minha roupa.

Prendi o meu cabelo num coque e entrei  na banheira. Deixei a água limpa molhar o meu corpo dolorido e passei a mão úmida na minha nuca.

Deixei-me escorregar até ficar somente com os cabelos para fora d'água. Eu precisava deixar o meu corpo relaxar.

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