Ouvir aquele som familiar tocado tão perfeitamente pelo homem dentro da sala me remeteu a tempos em que eu não tinha tantas preocupações.
Estava deixando a música fluir em meus ouvidos quando ela parou de tocar.
- Você foi contratada para limpar ou ficar me bisbilhotando? - Engoli em seco quando ouvi a voz intimidadora porém familiar vinda do homem.
- D-desculpa senhor. - Recuei um passo para trás.
- Qual o seu nome? - Ele perguntou me fazendo encarar suas costas novamente.
- Aurora, s-senhor. - Gaguejei novamente.
- Muito bem, Aurora... - Extremeci por uns segundos quando ouvi meu nome sendo dito por ele. - Seria melhor se fizesse seu trabalho sem me espionar.
Fiz uma careta ao ouvi-lo falar rudemente.
- Com todo respeito Senhor seja lá qual for o seu nome, mas eu não estava lhe espionando. - Deixei-me levar pela raiva momentânea. Eu fazia muito isso. - Eu só estava limpando o corredor.
Um silêncio pairou por uns segundos e uma curta e sarcástica risada soou na sala.
- Pelo modo que fala, acho que não precisa tanto do emprego. - Sua voz soou novamente me fazendo encolher os ombros. Eu precisava. E como precisava. - Volte ao seu trabalho antes que não o tenha mais. - Ele finalizou num tom ameaçador e segundos depois voltou a tocar a mesma música.
Eu até pensei em responder. Uma das coisas que mais me metiam em confusão era o fato de eu sempre ter uma resposta na ponta da língua, mas eu precisava me segurar. Não podia colocar em risco aquele emprego. Amelie precisava de mim.
Suspirei derrotada e voltei a limpar aquele enorme corredor.
[...]
- Arg... - Suspirei me jogando sobre a cama do meu quarto. Era fim de tarde e eu havia limpado o segundo andar da casa inteiro. Isso significa: quartos, banheiros e corredores. Todos em grandes quantidades. Sentia como se um caminhão tivesse passado por cima de mim sete vezes.
Eu estava cansada, com fome, suja e com sono. Eu daria tudo para poder apenas tomar um banho, comer algo e dormir por três dias seguidos. Mas eu ainda precisava fazer o jantar do senhor pianista.
Me levantei da cama novamente sentindo minhas costas doerem de tanto ter me abaixado para esfregar o chão hoje e soltei um leve gemido.
- É pela Amelie, Aurora. - Falei para mim mesma tentando esquecer a dor e ir na direção das minhas coisas. Eu precisava tomar um banho antes de descer para fazer o jantar.
Eu não havia levado muitas roupas, na verdade eu não tinha muitas roupas. O que me fez escolher uma calça bem antiga que eu tinha, uma blusa simples sem estampa alguma e fui em direção ao meu banheiro.
Eu ainda não havia entrado nele, mas quando entrei fiquei encatanda. Ele era lindo e parecia que saiu de um palácio. Sua parede era composta de pedras claras, seus adereços eram dourados e a banheira ficava de frente a uma janela que me permitia ver o pôr do sol além de um enorme campo atrás da casa.
- Uau. - Por um momento fiquei sem fôlego. Eu nunca havia visto uma visão tão linda.
Depois de admirar aquela imagem como se fosse a primeira vez que eu via um pôr de sol, eu abri a torneira dourada da banheira e deixei que ela se enchesse enquanto eu tirava minha roupa.
Prendi o meu cabelo num coque e entrei na banheira. Deixei a água limpa molhar o meu corpo dolorido e passei a mão úmida na minha nuca.
Deixei-me escorregar até ficar somente com os cabelos para fora d'água. Eu precisava deixar o meu corpo relaxar.
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À um centímetro de distância
RomanceEla tem grandes expectativas de uma vida diferente. Apaixonada pelo modo como a música pode transporta-la de sua realidade para uma bem mais colorida, Aurora tem suas músicas e cantores favoritos. Contudo, os tempos não eram muito bons para sua famí...