01_ Aurora...

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Era um dia de frio na minha cidade. Eu estava sentada na beira da porta da minha casa enquanto sentia o vento gelado bater em meu rosto.

Aguardava pacientemente que minha mãe aparecesse na porta e murmurasse: vai chover. Como ela sempre fazia.

Abracei meus próprios braços e forcei um sorriso no meu rosto quando ela apareceu e olhou para o céu nublado.

- Vai chover... - Ela exprimiu e olhou para mim.

Minha mãe não parecia a mesma. Fazia dias que seus olhos estavam fundos e seu sorriso vago. Ela não estava feliz.
Eu sabia que estávamos com dificuldades, e o fato de eu ter fracassado na minha busca por emprego durante todos os últimos dias me deixava frustrada.

Segundos depois de ficar em pé ao meu lado, minha mãe se sentou junto a mim.

O silêncio que pairava entre nós podia falar mais do que qualquer palavra. O seu gesto de puxar levemente minha cabeça para que eu apoiasse em seu ombro me fez lembrar que apesar de tudo, ela ainda estaria ali por mim.

Minutos se passaram e o ônibus acinzentado com faixas azuis parou em frente de nossa casa deixando com que Amelie saísse dele correndo com um grande sorriso.

A pequena garota de cabelos ondulados, mochila nas costas e duas cartas na mão veio correndo até nós com muita animação.

Minha mãe e eu nos levantamos e aguardamos que ela chegasse até nós e nos desse seu abraço diário.

- Oi mamãe! - Amelie abraçou minha mãe que se abaixou para ficar a altura dela.

- Oi, meu amor. - Ela acariciou o cabelo de Amelie. - Como foi na escola? Não desobedece a senhorita Peterson, né?

- Não, mamãe. - Amelie balançou a cabeça e veio na minha direção para me abraçar. - Hoje foi o dia das cartas na minha escola. Todos tivemos que escrever cartas para as pessoas mais importantes que temos. - Ela estendeu uma carta para mim que tinha o papel azulado e a outra para minha mãe, que tinha o papel rosado.

- Muito obrigada, minha linda. Vou guardar com muito carinho. - Minha mãe sorriu e posteriormente Amelie tossiu umas três vezes, o que fez minha mãe encara-la com preocupação. - Está gripada? - Ela tocou o rosto de Amelie.

- Não, mamãe! - Ela balançou a cabeça. - Eu estou bem. Vamos! Quero brincar antes de jantar. - Amelie correu para dentro de casa.

Eu sabia que o mais doía na minha mãe em meio a todas essas dificuldades era o fato de não termos como dar tudo o que Amelie precisava.

- Vai ficar tudo bem, mãe. - Toquei seu ombro tentando passar um pouco de conforto.

O resto daquela tarde se seguiu, eu trancei o cabelo de Amelie enquanto brincava com ela e minha mãe fez o jantar. Não tínhamos os legumes que Amelie precisava para sua saúde, mas minha mãe cozinha muito bem e Amelie não sentia falta de nada em seu prato.

A noite chegou e junto com ela um telefonema de Lucy, minha única amiga. Ela me convidou para ir a um lugar que ela tinha descoberto na cidade e que nós precisávamos ir.

Eu poderia não estar no clima, mas se tinha alguém que conseguia me animar, além de músicas, era a Lucy.

Avisei minha mãe que estava saindo e levei apenas meu celular e o fone que me acompanhava aonde eu ia. Ele era bem antinguinho e, para falar a verdade, nem sabia dizer como ele ainda funcionava.

Eu tinha um cantor favorito desde os meus dez anos. Enquanto todas da minha idade ouviam e eram loucas pelo Justin Bieber, eu era louca por ele. As músicas dele falavam tão fundo do meu coração que eu as vezes pensava que elas me descreviam.

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