Capítulo 17 - Coragem.

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Capítulo 17 — Coragem.

Segunda-feira.

— Chico, posso me atrever a perguntar o que aconteceu? — Olívia aproximou-se do colega de trabalho.

— Ah, não vale a pena. — Francisco ergueu os ombros.

— Por que, não?

— É coisa de família sabe...

— Pode falar, eu quero ouvir.

— É que acabei me desentendendo com a minha mãe. — Suspirou. — Mesmo eu saindo debaixo do teto dela, ela ainda me trata como uma criança.

— Bom, se serve de consolo, todas as mães são assim. — Ela abriu um sorriso, tentando confortá-lo.

— Relaxa, eu sei que vamos nos resolver logo. — Afirmou. — Não precisa se preocupar.

— Se precisar, estou aqui do lado. — Ela tocou gentilmente os ombros dele, voltando à sua mesa.

O estagiário olhou para Olívia de relance, por mais que tivesse contado o verdadeiro motivo do qual estava chateado, não havia sido completamente sincero, pois aquela era a menor de suas preocupações. O que realmente não saía da mente de Francisco, tinha sido a maneira com que sua mãe exibiu o maior dos preconceitos, daqueles que pareciam ter saído da boca de seu pai.

Quando pensava no que Vanderléa tinha lhe dito, esforçava-se para perdoá-la mentalmente, não seria uma tarefa difícil se a situação não favorecesse para que se lembrasse de como seu pai agiu quando descobriu sua sexualidade. Foi daquele dia em diante que sua família se dividiu em quem realmente o amava a ponto de ir contra tudo para permanecer ao seu lado.

Tudo aquilo vinha com clareza em sua mente, das pregações de seu pai na igreja, que frequentava fielmente, até mesmo de quando, em segredo, listava os rapazes mais atraentes do local. A criação cristã de nada ajudou para que seguisse o rumo que seus pais queriam para a vida dele.

Francisco sempre ria ao imaginar-se pregando para uma multidão, lembrava-se bem do quanto os seus pais implicavam entre si para decidir o que ele seria.

— Ele será um ótimo pastor, esse menino tem o dom da palavra. — Afirmava, orgulhoso. – Puxou para mim, tenho grande certeza.

— Que pastor, o quê? Tenho certeza de que o dom dele é para música, vai tocar e cantar os mais belos hinos, não é, Chico? — Vanderléa exclamava, com tanto orgulho que doía lembrar.

— Quando ele crescer, você vai ver. Ele é como eu, sem tirar nem por.

Tudo isso caiu por terra quando ouviu a sexualidade do filho. Humberto considerava uma "maldição", uma "praga" ou um "castigo divino indesejado". Seu ódio por quem Francisco era, logo contaminou seu irmão mais velho, que seguia cegamente os passos do pai, mesmo nunca tendo recebido o mesmo reconhecimento que o irmão mais novo. Claramente, a inveja ajudou no desenvolvimento desse sentimento.

Beatriz ficava na sua, era nova demais para entender aquilo, no meio de uma guerra entre pai e mãe quanto ao que fariam com o filho. E quando Vanderléa se recusou a expulsar Francisco de casa, foi a gota d'água para Humberto, que decidiu ir embora, levando consigo Fabrício.

Olhando para a tela de seu computador, o estagiário arregalou os olhos quando reparou que nada tinha produzido. Ajeitou-se em sua cadeira, passando a mão pelos cabelos ondulados que caíam em sua testa.

Começou a digitar até imergir totalmente em seu trabalho e, durante todo esse tempo, não sabia que estava sendo observado. Gregório também se distraiu de seus afazeres para disfarçadamente olhar o movimento do escritório pelas persianas.

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