Amora
Aperto o travesseiro contra o meu rosto pela milésima vez tentando conter os meus grunhidos e gritos de felicidades. Eu não podia acreditar. Eu havia feito a minha primeira exposição!
Meus pés se agitam sobre a cama e eu jogo os travesseiros para o lado me permitindo apreciar e aproveitar a sensação desse momento. Eu sonhei com isso por tantas vezes, mas acho que no fundo, nem eu acreditava que realmente um dia poderia dar certo.
Quantos artistas realmente conseguem ter seu trabalho reconhecido aos 25 anos? Se formos pegar as histórias de Van Gogh e Monet...bom, nem sei porque estou pensando neles, eu jamais poderia me comparar com artistas desse nível.
De qualquer forma haviam poucas mulheres em destaque nesse ramo, mas eu acreditava fielmente que um dia, eu poderia ter meu trabalho reconhecido.
Não foi fácil para mim crescer em um lar conturbado, com meus pais que gritaram um com o outro durante toda a minha infância e esperaram com que eu fizesse 15 anos para enfim, se separarem. Dá para imaginar que eu não tive exatamente, uma festa de debutante muito feliz.
Minha mãe desde então me criara com a força que podia, já que no fim das contas meu pai acabou se casando novamente e me esquecendo por seus filhos novos.
Dona Juliana sempre fora muito rígida comigo desde então, querendo que eu ingressasse em uma faculdade que desse o retorno financeiro necessário para que eu não passasse pelas mesmas dificuldades que ela passou.
Por isso, passei 3 anos da minha vida me matando em um cursinho para tentar entrar em uma faculdade que eu não queria, e mais 2 tentando sobreviver na faculdade de medicina até perceber que eu não poderia viver uma vida de mentira.
Quanto eu tranquei o curso no quarto semestre, minha família quase me explodiu. Quem era a maluca que largava um curso de medicina para se tornar artista plástica?
Ao que parece, eu. Pela primeira vez, minha prima Alyssa deixou de ser a ovelha negra da família por ter escolhido fazer letras, e eu passei a ser a nova inútil da geração dos Monteiro.
Só me restava, segundo eles, ter que escolher uma das pontes de São Paulo para me estabelecer e vender meus quadros na rua, ou a minha arte na praia.
Respiro profundamente, tentando afastar meus pensamentos do passado que não precisavam estragar o meu momento de agora. Hoje havia sido um dia perfeito! Bom, talvez não tão perfeito assim...Argh!
Aquele homem tinha que ter estragado uma parte da minha noite quase perfeita. Quase por causa dele. Como se não bastasse dizer que o meu quadro era a coisa mais feia que ele já tinha visto, ele ainda me olha e dá em cima de mim como se eu fosse um pedaço de carne em promoção no açougue?
Eu detestava esse tipo de homem. Como ele conseguia acordar todos os dias e amaciar seu ego achando que era a última Coca-Cola do pedaço? Eu nem gosto de Coca-Cola. Faz mal para a saúde.
Aquele homem com certeza também deve fazer mal, para a saúde mental de qualquer mulher. Sorrio lembrando do tapa que dei em seu rosto, pensando que pelo menos eu fiz a minha boa ação do dia.
Em meio a todos os conflitos dos meus neurônios que insistiam em me dizer que eu sempre deveria me afastar desse tipo de cara, eu me questiono intrigada: porque aquele cafajeste tinha que ser tão cheiroso?
O aroma do perfume amadeirado daquele homem não saía da minha memória olfativa, e eu quis seriamente me repreender por isso várias e várias vezes. Como se não bastasse, o imbecil ainda possuía os olhos verdes mais atraentes que eu já tinha visto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um mês [DEGUSTAÇÃO]
عاطفيةUma casa. Um advogado. Uma artista plástica. Três crianças. Quando o destino une Carlos e Amora para cuidar dos filhos de um casal de amigos, dois mundos diferentes colidem. Carlos é a tempestade, enquanto Amora é a calmaria. São como duas cores di...