Tenho uma biblioteca tal
Que poderia deitar-me sobre ela
Tal qual cama de livros.
O estrado e a estrutura que o suporta
Feitos dos livros que se entranharam em minha alma
O colchão, dos títulos que embalam meus sonhos.
O lençol de capas de livros que li e esqueci
O cobertor, de obras que aquecem meu coração e me dão esperança.
O travesseiro, de plumas de grandes escritores
O criado mudo de livros que guardo na memória.
Com quem dividirei minha cama de livros?
Com uma personagem? Com uma escritora?
Mary Shelley e sua quase juvenil genialidade
Noiva-criadora de Frankenstein?
Uma das irmãs Bronte (ou quem sabe todas elas)?
Ou talvez sua contemporânea Jane Austen.
Se eu quiser passar longe de puritanismos e
Abraçar meu lado devasso, uma Cassandra Rios
Ou uma Hilda Hilst dos poemas eróticos.
Teria eu coragem de disputar Briseida com Aquiles e Agamenon?
Dissipar meus bens com uma Marcela
Ou resgatar Madalena de tão bruto marido?
Talvez eu seja como Professor,
que sofre calado o amor não correspondido;
Só não quero ser Werther e manchar de sangue
Minha cama de livros.
Talvez eu me contente em ser o outro
E receber em meus braços Ana Karenina ou
Lady Chatterlley. (Quem sabe, talvez, Capitu).
Desdemona foi insidiosamente caluniada.
Com Catarina e Scarlett a relação seria entre
Tapas e beijos. E independente de Maria da Penha
Não quero entrar na lista dos agressores:
Não é do meu feitio.
Dos quadrinhos há tantas que deixar de fora
Alguma é inevitável.
Entre deusas celebradas ou de fato
Diana ou Ororo: difícil escolha.
Uma do Deus dos raios filha, outra
Senhora das tempestades.