Minhas lembranças diante da tevê
Não mostram atores, apresentadores
Nem cantores de olhos puxados.
Exceto pelos seriados japoneses.
Ultraman, Ultra Seven, Spectreman
Repletos de gente igual a mim.
Mas sem brancos nem negros.
Nem tinha noção que havia desenhos
Feitos por japoneses.
Os olhos eram tão grandes!
Speedy Racer, Astro Boy
Savamu parecia alguém da minha família
Só que musculoso.
Safire e Franz foram o Riobaldo e a Diadorim
Da minha infância.
O Duque Duraluminio e seu puxa-saco
Poderiam levar uma bigorna da Acme.
Diversidade só vi em Star Trek
Brancos, negros, orientais
E o Spock.
Personagens com sobrenomes tão diferentes!
Chekov (que depois descobri que era nome de um escritor),
Sulu, McCoy, Kirk, Uhura.
Sem Silva, Oliveira, Gomes
Ou sobrenomes parecidos com o meu
Ou de meus parentes.
Nos quadrinhos, o Chico Bento tem um amigo;
O pai da Neusinha não gosta do namoro dela
Com o Pelezinho.
E parece um dos meus tios, que
Faz discursos em japonês.
O Luís Melo fez papel de patriarca japonês
E os atores japas que vi
Faziam papel de pasteleiro
Com sotaque de quem
Havia acabado de chegar ao Brasil.
(Por que, meu Deus?)
Em Hollywood, somos
Samurais, ninjas, yakuza
Ou mestres do karatê kid branco.
Até em Vingadores: Ultimato.
Hoje, somos nerds como o Hiro.
Até fizeram um trocadilho em inglês
Com o som do seu nome.
Na literatura brasileira nunca vi personagem
Que fosse da mesma origem que eu.
Até ler A arma escarlate
E me deparar com o Rudji e a Kampai.
Com traços da criação nipônica
Mas sem estereótipos.
Nas livrarias e sites procuro
autores como eu
Com nomes ocidentais e sobrenomes japas
Roberto Shiniashiki e Içami Tiba
Eu conheço, mas cadê os literatos?
Mas em país com Saraiva e Cultura em crise
Acho que não se pode esperar best-sellers.