Não dá pra ser igual
Tal e qual fulano de tal
É uma distoutopia huxleyliana
De proporções colossais.
Se todo mundo quer ser mais do mesmo
Que será da multidão quando ela
Não souber fazer o que é necessário?
Pode um modelo moldar quem nós somos
Ou o molde serve apenas para
Ferir e nos fazer negar
Quem somos nós de verdade?
Nem todo mundo é Cinderela
Mas nem toda filha da madrasta
Aprende a lição e acaba mutilada.
Ser diferente parece praga bíblica,
Mas será que não estamos vendo
De maneira equivocada?
Que graça teria a caixa de lápis de cor
Se a dúzia fosse toda de vermelho ou negro?
Onde compraríamos a comida se as lojas
Fossem todas papelarias?
Pediríamos a um advogado
Para fazer em nós uma cirurgia?
Ou a um engenheiro ou arquiteto
Encontraríamos no balcão de uma padaria?
Já sei, caro leitor, o contra-argumento:
A multiplicidade de talentos, tal qual
Na parábola de Jesus.
A questão da diferença em outro trecho
Do novo testamento está, e decepcionado
Eu ficarei se você, leitor, não adivinhar.
Será que eu devo falar? Para mim é óbvio,
Estará para você? Se tiver olhos, ouvidos
E coração atentos, com certeza não será mistério.