Capítulo 07

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— Já chega, Ares – Disse o deus do mundo inferior com uma expressão séria que desmentia sua aparência jovem.

— Hades, você tem que aprender a se divertir – Ares sorriu com descaso para o deus do submundo.

— Toda a sua diversão está tornando o meu trabalho em um tártaro. Sem jogo de palavras – Acrescentou percebendo a possível linha humorística de suas palavras. – Você tem ideia de quantas almas eu recebi nos últimos três dias porque você e Discórdia andaram por aí convencendo reinos a atacarem uns aos outros?

— Eu sou o deus da Guerra, Hades, é isso o que eu faço.

— Não. Você sabe muito bem que não devemos interferir diretamente nos assuntos humanos, há excessões é claro, mas nenhuma delas condiz com começar três guerras sem absolutamente nenhum motivo. Até Zeus concorda comigo aqui.

— Eu não vejo ele reclamando – Um raio cortou o céu assim que Ares pronunciou essas palavras, deixando claro que seu pai de fato concordava com Hades.

— Da próxima vez que você atrapalhar o trabalho das parcas, ou o meu porque está entediado por falta de guerras, você será julgado pelo tribunal dos deuses. – Hades não desfez sua postura rígida em nenhum momento, deixando claro que ele estava falando sério. – Agora pare atormentar seu irmão, você já fez o suficiente por aqui.

Ares olhou ao redor esperando que que Discórdia o defendesse, mas a deusa já havia desaparecido, ele sabia que, mesmo com sua força, não poderia vencer um dos três grandes em uma luta. Com um bufo irritado na direção de Hades falou:

— Tudo bem, eu já estava saindo de qualquer maneira – Ele lançou um olhar provocativo a Hércules – Meus sentimentos por sua perda, irmãozinho. – E no segundo seguinte desapareceu.

— Hades – Começou Hércules olhando para o deus do submundo com desespero nos olhos. – Eu...

— Eu sei o que você quer – Interrompeu o deus – Ouvi seu chamado.

— Então, você vai fazer isso? – Perguntou o herói esperançoso – Você vai trazê-lo de volta?

— Eu não posso fazer isso, Hércules – Hades balançou a cabeça balançando a cabeça – Eu sinto muito, a linha da vida dele não devia ter sido cortada tão cedo, mas ele está do outro lado agora, há regras... Eu não posso apenas quebra-las.

— Mas você pode contorná-las – Jason finalmente se levantou e caminhou até onde o deus e o Semideus estavam – Como futuro rei de Corinto essa foi uma das coisas mais importantes que aprendi, nenhuma lei é dura o bastante para que não possa se curvar um pouco com o argumento certo.

O deus do submundo olhou para os dois jovens a sua frente, ele não interviria normalmente, ainda que Hércules fosse um dos únicos sobrinhos que não odiava. Trabalhar com almas e a morte era complicado para se dizer o mínimo, trazer uma pessoa que devia estar morta a vida podia bagunçar todo o sistema das parcas e em consequência toda a organização do submundo. Mas a linha da vida de Iolaus havia sido cortada antes da hora e devido a todos os mortos que haviam chegado graças a Ares, ele ainda não tivera tempo de encaminhar o rapaz a seu destino final.

— Tudo bem, – Ele concordou por fim – Eu suponho que, como eu ainda não tive chance de enviá-lo ao Elísios e se ele não comeu nada no mundo inferior, você pode trazê-lo de volta.

— Obrigado – Hércules respondeu sorrindo para o tio, ele o teria abraçado se não soubesse que o deus não apreciaria o gesto.

— Não me agradeça ainda, eu não vou trazê-lo de volta, apenas dar uma chance de recuperá-lo. – Ele estendeu a mão para Hércules e uma pedra verde se materializou na sua palma. – Esse amuleto pode guardar a alma de uma pessoa. Eu vou enviá-lo ao submundo, e você terá que encontrar Iolaus, sozinho. Quando você capturar uma alma, a pedra o transportará de volta. Tudo o que precisa fazer então é quebra-la e a alma voltará ao corpo que pertence.

Hércules pegou a pedra, ela era moldada na forma de uma ponta de flecha. O Semideus franziu a testa para o objeto e seu olhar se voltou para Hades.

— Isso parece muito fácil – Foi Jason quem falou, ecoando os pensamentos do amigo – Qual é o problema?

— Ele terá que procurar a alma de Iolaus no tártaro.

— No tártaro? – Hércules se esforçou para que sua voz não transparecesse sua raiva, ele não queria que o deus tirasse sua única chance de recuperar Iolaus. – Você disse...

— Eu sei, eu sei, ele pertence aos campos Elísios – O deus respondeu fazendo um movimento desleixado com a mão. – Mas o desafio tem que ser realizado no tártaro. Você vê, as almas do tártaro são distorcidas. Muitas delas não se parecem com o que foram em vida, outras são enganadoras, podem tomar a forma de outras, se passar por outras, algumas podem inclusive tomar formas inofensivas e inocentes para convencer que estão no lugar errado. Eles vão tentar te convencer de que são Iolaus, alguns vão até mesmo assumir a forma de seu amigo. Seu desafio é encontrar o verdadeiro e trazê-lo de volta.

— Você não pode apenas... – Antes de terminar a pergunta Hércules viu a expressão irritada no rosto de seu tio – Me desculpe. Tudo bem, se é o que preciso fazer, eu vou.

O deus acenou com a cabeça e soltou um sopro na direção de Hércules. O herói sentiu como se seu corpo estivesse girando em meio a uma ventania. Quando finalmente conseguiu recuperar o equilíbrio, não estava mais na floresta, mas em uma espécie de cidade de ruas escuras e casas decadentes, ele podia ouvir os gritos e gemidos das almas atormentadas. Mesmo nunca tendo visitado o mundo inferior, Hércules sabia que aquele era o Tártaro.

I'll Follow You Into The Dark (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora