XI

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Ele estava com a coisa mais preciosa para Maksimovich no colo. Ele poderia ferir a humana ali e sentir-se vingado por sua perda, mas por algum motivo se conteve. Corria a toda velocidade, pensava que se fosse o seu chefe a mulher já estaria no instituto, mas como era ele, um vampiro novo, demorou aproximadamente cinco minutos para chegar ao local. Ainda com a mulher no colo, os dois guardas que sempre estavam na porta apontaram as flechas para Pixel, que se aproximou devagar e falou à medida que estava muito perto.

— Tenho uma humana aqui. — Apesar de o medo quase saltar pela boca, ele falava sereno. — Eu vim em paz; ela é Mackenzie Lencastre, a garota que vocês estavam procurando...

Os guardas se entreolharam por segundos, e então se aproximaram, observando a mulher suja de sangue. O mais baixo, que era forte e tinha os olhos escuros como a morte e lábios rosados, falou:

— Você a machucou? — Balançou a arma no ar, a fim de demonstrar o perigo ao vampiro.

— Claramente não, não me arriscaria a tanto — falou com ironia, abaixando-se e colocando a mulher no chão. — Chame Ferraro, ele saberá o que fazer.

Após essas palavras, o homem desapareceu nas sombras; não deveria permanecer naquele lugar, sabia dos riscos que corria e não perderia sua vida por algo que era desejo de Maksimovich. Após a saída do homem, o cara alto fez sinal para que ele fosse chamar Ferraro. Demorou alguns minutos para o homem de cabelo longo aparecer apressado; ele se aproximou, vendo Mac dormindo no chão, e pegou a mulher com delicadeza; a felicidade que tomava conta do seu coração era indescritível ao ver a loira próxima de sua proteção.

— Vocês são idiotas? Por que a deixaram no chão? — perguntou sem esperar uma resposta dos guardas.

Ele entrou no instituto com a mulher no colo, passou pelos olhos desconfiados sem dar muita atenção e continuou a andar até o local que seria definitivamente o quarto dela. Colocou-a sobre a cama; não sabia bem em quanto tempo ela acordaria, então passou a mão pelo rosto da mulher, tirando alguns fios de cabelo que estavam colocados sobre a delicada pele dela.

— Eu entendo por que ele se sente atraído por você — falou baixo para si, com um sorriso no rosto. Como explicaria seu afeto evidente por ela? — Você tem um cheiro bom — falou, se aproximando e roçando o nariz pela bochecha dela, descendo para o pescoço.

Afastou-se completamente quando o sangue dela deixou de ter um cheiro bom e passou a ser uma tentação. Seus olhos ficaram pretos lentamente. A mulher era uma tentação completa, tão atraente! O diafragma dela subia e abaixava em virtude de sua respiração. Ela parecia doce e indefesa dormindo calmamente, depois de ter saído do local com a respiração pesada. De alguma forma, ela liberava nele sentimentos que ele gostaria de guardar, liberava ações predadoras. Afastou-se completamente, saindo do quarto, e assim que o fez deu de cara com a imagem de Ducan e Heleonor, os dois líderes reunidos por uma humana. Ela, como sempre, foi a primeira a falar.

— Como ela está? — questionou, querendo saber se ela agora era uma vampira.

— Ela está bem, sem nenhum arranhão. Está com algumas manchas de sangue esparramadas pelo corpo, mas não é dela.

Ducan, avaliativo, aproximou-se da porta, puxando o ar pelas narinas fortemente.

— O sangue é de quem ? — perguntou mesmo sabendo da resposta; conhecia bem aquele cheiro, já o sentiu uma vez na vida, e aquilo lhe dava repulsa.

— De Maksimovich, senhor.

Assim que falou o nome do vampiro, os outros olharam para a porta. Estavam desconfiados e queriam saber o que acontecera. Uma dúvida surgiu: será que a humana tentara matar o grande vampiro? Mas por que ela fora trazida por um subordinado dele? O primeiro a fazer uma presunção foi Ducan, o primeiro a pensar em algo para derrubar o temido vampiro.

— Ela deve ter tentado algo, e se for real, podemos usá-la para feri-lo — falou, frio.

— Talvez não seja isso; talvez tenha acontecido algo, caso contrário, por que Pixel a traria aqui em segurança? — Heleonor andou de um lado para o outro, a fim de fazer os pensamentos circularem.

— Ele a ama, não a mataria — Ducan falou firme; tinha certeza de suas palavras. — Como uma humana teria sobrevivido tanto tempo nas mãos daquele homem? Ela ficou três dias na casa dela, com proteção somente à noite. Ele consegue andar de dia, poderia tê-la matado facilmente. Além do mais, há quanto tempo ele a está perseguindo? Há meses, não é? Ele não a matou, e vocês sabem que o sangue da amada pode ser extremamente chamativo para um vampiro, mas o amor, a atração que você sente, te impede de atacar, e mesmo ele sendo o maior e mais cruel caçador, não pode resistir à vontade de ter a amada do lado dele, de desejar mais que o sangue dela. Ele a deseja por completo, ele deseja a presença dela mais que o sangue, deseja o amor dela e, no final, não é só o sangue que importa; tudo o que importa é ela.

Suas palavras tinham tantas emoções que fizeram Heleonor e Ducan se entreolharem, preocupados. Ferraro ficava com os olhos lentamente pretos, o que fez Ducan colocar a mão sobre o ombro do amigo. Ele, por ter sido transformado havia pouco tempo, não sabia bem definir suas emoções; Heleonor estava preocupada, pois o filho aparentemente teria sentimentos por uma humana que era a protegida do mais perigoso vampiro.

— O cheiro dela, não é...?

Foi interrompida por ele, que falou sem esperá-la:

— Sim, estou tão atraído por ela quanto um urso por mel.

Os olhos dela chegavam a demonstrar a dor que sentia ao escutar o filho falar aquilo. Já havia perdido um, e por mais que não demonstrasse amava Ferraro ilimitadamente.

— Ela está sendo caçada, por Maksimovich — falou como se aquilo pudesse mudar algo.

Ducan logo interferiu:

— Não é como se ele tivesse escolha; você falando isso não vai mudar o que ela e o sangue dela significam para ele.

Um grupo logo passou pelos corredor à procura dos dois líderes. Um deles fez sinal para que se aproximassem. Heleonor olhou para Ferraro.

— Vamos terminar essa conversa outra hora.

Ele sabia que não, que não haveria conversa com a mãe, pois eles sequer conversavam sobre qualquer coisa além do trabalho. Ela saiu com Ducan logo atrás, que olhava para ele com certa esperança e desconfiança e pensava que a melhor e mais eficaz forma de matar Mak era usando a mulher e Ferraro.

E talvez naquela guerra sua maior arma fosse o amor. Já o loiro de cabelo longo olhou para a porta, e ali, sozinho, ele pensou no quanto estava sendo tolo de ter falado aquilo com os líderes. Colocara Mac em perigo, em uma linha de fogo, porque ele sabia que os dois tramaram algo que afetaria a mulher de alguma forma.

Colocou a mão no bolso, temendo por ela e por ele. Como lidaria com aquilo e como livraria a mulher daquilo? Deveria preparar Guerra para receber a mulher no seu grupo: a única humana no meio de dois vampiros, para caçar outro vampiros. Afastou-se devagar com a certeza de que ela acordaria apenas no dia seguinte. Ia em direção à sala de treinos, e sabia bem que o amigo não estaria lá.

Lua de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora