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Ela acordou e passou o dia se preparando; por algum motivo evitava Ferraro, mesmo achando que o amava, e Guerra a evitava, como se tivesse alguma desaprovação sobre ela. Logo, a noite chegaria e ela estaria à espera de Mak. Encontrou-se com Heleonor no corredor, que a fez parar.

— Estou orgulhosa de você, Mac — falou, com um sorriso que nunca dava. — Por anos estamos atrás desse homem, desse ser desprezível que matou tantas pessoas, e finalmente vamos dar a ele o fim que ele merece: a morte por seu pecados.

— Quem somos nós para julgar o pecado de alguém? — questionou sem pensar, e logo se corrigiu: — Talvez esse alguém mereça ser julgado...

— Sim, querida... Ele merece, e é uma limpeza, depois disso. — Estendeu a mão no ar. — Você poderá comandar o instituto ao lado de Ferraro; eu sei que ele gosta de você e é recíproco.

Ela sentiu as bochechas ficarem vermelhas e concordou com a cabeça.

— Seu filho ainda não me pediu em namoro, senhora — falou, escutando o relógio do instituto tocar; agora seria a hora. — E estamos longe de um casamento... E, se me permite, devo me retirar; tenho um monstro para matar.

Com um último sorriso, ela voltou para o quarto. Sabia que todos os membros do instituto estavam em lugares estratégicos para atacar Maksimovich. Ela foi para a janela do quarto e olhou a lua, que estava vermelha, como no dia que Mak a atacou. Não tinha lembranças boas desse dia, mas sorriu e logo fechou o sorriso ao ver a figura dele.

— Oi. — Forçou um sorriso para o vampiro.

O homem, sem aviso prévio, se aproximou da mulher, deixando os lábios se tocarem. Foi um beijo demorado e repleto de saudade, que fez seu corpo vibrar. Ela tentou não mostrar o quanto estava envergonhada, e então decidiu falar algo.

— Temos que ir logo, antes que Ferraro entre aqui e nos pegue — mentiu, fingindo desespero.

O homem logo a pegou no colo e saltou para o chão. Já estava próximo da floresta quando uma flecha solta por Ferraro cortando o ar gelado o atingiu; ele gritou de dor, colocando Mackensie no chão, e passou a mão pela ferida que abria; estava tão concentrado em proteger Mackensie que só pensava nela e não viu o ataque do inimigo. Sentiu o cheiro de Ferraro. Então, se colocou na frente da mulher. Todo o seu corpo queimava, suava frio, a prata machucava mais do que qualquer coisa.

— Não vai levá-la...  — falou, tentando impedir a proximidade de Ferraro; logo outros do instituto apareciam.

— Na verdade, meu amigo... Eu vou, sim.

Maksimovich se virou para ela, e então falou firme:

— Fuja daqui, corra o mais rápido que puder... Pixel vai te encontrar.

Voltou a atenção para Ferraro, que se preparava para atirar, mas Mac em vez de correr colocou-se na frente de Maksimovich e, olhando para os olhos dele, disse:

— Como eu poderia fugir se minha missão é te matar?

Sem prolongar muito, ela pegou a adaga que estava na cintura e afundou-a no peito de Mak. Observou a cara dele se tornar de confusão a dor, e o sangue saía da boca do homem, que logo caiu de joelhos. Logo, lágrimas estavam mais uma vez caindo dos olhos dela, e ela se abaixou enquanto uma dor inexplicável batia em seu peito. Ferraro foi o primeiro a falar.

— Pensou que eu faria outra coisa? — Aproximava-se, olhando Maksimovich, e logo a mulher afundou ainda mais a adaga, sendo possível escutar o barulho da lâmina cortando os tecidos dele. — Agora a faça lembrar, a faça se lembrar do que você é... Só assim ela poderá me amar verdadeiramente, só perdendo você terá espaço para mim.

— Nunca haverá espaço para você — falou, tentando se erguer.

— Faça isso ou eu a mato, porque se ela não for somente minha não será de mais ninguém.

Maksimovich o encarou, avaliou por segundos a situação e não acreditava que ele faria mesmo. Então, olhando bem nos olhos da mulher, ele começou a falar, sentindo a dor.

— Lembre-se de mim — disse com esforço, sob as ameaças de Ferraro, então continuou com um sorriso, vendo a mulher desfalecer. — Como uma parte boa de sua vida, lembre-se de mim ao olhar para a lua, não importa a distância, Mackensie, eu sempre vou te amar... — Ele ergueu a mão direita, tocando no rosto quente da mulher, e deslizou o polegar pela bochecha dela, secando-lhe as lágrimas, com um singelo sorriso nos lábios. — Se esforce para sorrir.

Rapidamente, o homem ficava pálido e o sangue inundava-o em uma poça, que já estava em volta dos dois. E à medida que ela se lembrava, ela se agarrava ao corpo do homem, tentando impedi-lo de cair.

Ele segurou firme na mão da mulher; tentava mantê-la concentrada.

— Por favor, não... — Seu coração doía, seu corpo queimava; como podia ter feito aquilo? — Eu te amo, Maksimovich, por favor, me perdoa...

— Está tudo bem — falou, tentando sorrir ao escutar o que ela falara. Estava fraco demais para lutar por si mesmo.

Logo os vampiros que ele comandava estavam lá por ele. Ferraro olhou para eles, desesperado — vinte vampiros, todos dos mais antigos e mais procurados —; o instituto não seria capaz de derrotá-los.

— Isso não acabou — disse, correndo com seus homens para o instituto para ficarem protegidos.

— Não foi culpa sua, Mackensie — falou, ignorando Ferraro. — Não foi você que fez isso; estava sendo controlada, e está tudo bem... — ele falou, olhando para Pixel como um pedido de socorro, um pedido para que Pixel prometesse que ela estaria segura.

E teve a resposta quando Pixel apenas balançou a cabeça em concordância. Ela chorava, o que o fez continuar a falar.

— Guarde isso com você. — Era o pequeno colar que tinha uma foto dos dois, o colar comprado no parque no primeiro dia do verdadeiro encontrar da alma dos dois. — Guardando isso perto de seu coração, o seu amor só vai crescer. — Ele engoliu em seco; aos poucos não enxergava mais o corpo da mulher. Por fim, continuou: — Eu tenho que partir... — falou com as últimas forças que lhe restavam, e então, entregou-se à escuridão total. Não havia mais vida naquele corpo.

A mulher o observou fechar os olhos, veias negras surgirem em sua pele, e então agarrou mais o corpo do homem e beijou-lhe os lábios na tentativa de acordá-lo enquanto gritava.

— Não... Não! Fique aqui comigo, não me deixe — dizia com o corpo, pois a alma claramente não estava mais lá.

Lua de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora