III

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Ele observou o corpo da mulher ser colocado no carro, ainda escutava o coração dela batendo. Desejou no fundo do peito ter injetado o veneno nela, tê-la levado antes de aparecerem. O local de seu crime agora era uma amostra de acidente, os corpos colocados de modo a evidenciar que tudo aconteceu porque o automóvel capotou.

Correu seguindo o carro em que estava o corpo da amada, observou a enorme casa que ele não tinha certeza se já foi uma mansão ou um castelo antigo: as paredes pesadas de pedra, as grandes janelas fechadas com vidro colorido, algumas pessoas na frente protegendo a entrada. Mesmo se não estivessem lá, o local era completamente protegido, já que um vampiro não podia entrar em um lugar sem ser convidado.

Olhou para o alto e viu o galho de árvore esticado; a árvore era alta e retorcida e estava próxima ao instituto. A visão era perfeita e escondida da habitação. Ele abaixou-se e saltou, seus pés ficando sobre o ramo. Colocou a mão no tronco para se segurar e ficou ali. Seus olhos percorriam todo o local, e como um humano seu diafragma contraía lentamente, mostrando o nervosismo que estava sobre si. Escutou um barulho diferente, o cheiro de madeira seca com uma leve pitada de bebida alcoólica, e se manteve quieto.

Esperou que o ser se aproximasse, e quando sentiu que ele estava a pouca distância, quando o odor estava tão forte que presumiu que estava a poucos centímetros, virou-se completamente e o homem segurou o pescoço do vampiro, aparentemente mais forte que ele, com olhos escuros e profundos como o céu noturno, pele bronzeada que parecia brilhar em contraste com o entorno da lua e sorriso aberto como um dia quente de verão.

— Nunca será capaz de me matar, Pixel — pronunciou, aproximando seu rosto do rosto do homem. E, em questão de segundos, ergueu o corpo do vampiro no ar e bateu-o contra a árvore, causando uma rachadura no tronco.

— Qual é, Mak? Não pode me culpar por tentar — exclamou, levantando as mãos no ar.

Devagar, o homem soltou o vampiro recém-transformado. Era costumeiro do adulto andar sozinho, tinha suas próprias lutas, mas recentemente a solidão o assombrava. Costumava ir em um bar observar os humanos e escolher as inerentes presas, as mais sofridas, pois acreditava estava dando a elas um futuro melhor do que o esperado. Dar a essas pessoas a morte, entregá-las aos braços frios da ruína do falecimento. Até que um dia, quando a lua estava pela metade, as pessoas festejando, um homem — Pixel — estava chorando sobre o balcão. Aquela era sua vítima, então ele se aproximou, pensou em persuadir o ser — vampiros eram bons com isso, eram capazes de fazer um filho matar a mãe, apagar a memória de alguém, controlar toda e qualquer emoção. Pixel resmungou sobre ser deixado pela mulher amada, chorava por ele e chorava pelo ocorrido ser culpa dele, já que fora pego traindo a mulher amada. Mak o escutou, não sabia bem por quê, apenas permaneceu ali e, quando achou necessário, levou o homem para fora. Iria matá-lo, todavia sua consciência pesou e acabou transformando Pixel. Desde então o vampiro recém-transformado tentava agredi-lo.

Ele se afastou, voltou os olhos para o instituto, escutava o que eles conversavam. Mak era bom nisso; apesar da pouca idade desenvolveu habilidades de grandes valores.

— Deveria me agradecer. — Soltou um bufar.

— Agradecer pelo quê, Maksimovich? — questionou como se pudesse matar o amigo ao dizer o nome dele. — Por ter me transformado em um monstro sem coração? Por ter me matado? Por ter roubado minha alma? Matei a mulher que amo, Mak, e agora estou preso a você, porque não faço ideia de como ser morto, afinal como matar um imortal? Porque você me transformou, e agora tenho um instinto idiota que diz que devo lhe obedecer.

Ele deu de ombros, supunha que havia feito mais bem do que mal; entregou poder ao homem, tirou parte da sanidade e humanidade dele, tirou o que era certo e errado. Mas a imortalidade, a força e o poder eram melhores que qualquer coisa.

Lua de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora