Capítulo 17 - Finis

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Não sei quando é que parámos de dançar, apenas sei que olhava de frente o professor Kim, ainda com a sensação avassaladora de memórias em que dançámos os dois. A música também tinha terminado. A mão no meio das minhas costas foi baixando até estar no fundo das costas, a deixar um rasto de arrepios e um rubor no rosto.

- Veja como reage com o meu toque. O que é que o seu marido diria se o visse agora mesmo? - Aquelas palavras foram o incentivo para me afastar e lançar um olhar duro. Ele riu-se. - Vá para casa pensar no que sentiu agora e no que sente pelo marido com o qual foi obrigado a casar. O seu pai contou-me tudo, por isso não tem de continuar a fingir.

- Vai dizer a mais alguém?

- Não, eu não sou esse tipo de pessoa. - Parecia realmente ofendido. As pessoas podem sempre mudar, mas do que me lembrava do meu melhor amigo, era um bom ouvinte e confidente. - Só gostava que tivesse dito mais cedo, por respeito à amizade que mantivemos durante anos. Eu podia ter ajudado, ainda posso ajudar. Se o problema é financeiro, eu dou o dinheiro. Pode pedir o divórcio e regressar à sua rotina, basta dizer.

- Por favor... Não torne tudo mais difícil. Eu não posso pedir o divórcio quando não sei se estou apaixonado pelo Jungkook. - Não estava surpreso, muito pelo contrário. - Eu tenho de ir embora.

- Tudo bem, não vou pressionar.

Sem mais entraves, deixou-me ir. Fui embora, no entanto tudo o que mais queria era voltar para trás. Queria que o meu melhor amigo voltasse. Entretanto, senti uma espécie de culpa, sentia que todo eu era uma mistura de sentimentos muito grande e complexa. Era mais do óbvio que estava apaixonado pelo Jungkook, contudo também era inegável a atração que sentia pelo professor Kim. Se era atração ou a possibilidade de concretizar um desejo do passado, não sabia. Talvez o professor Kim nunca viesse a saber, mas não era apenas ele que me amava quando éramos mais novos, eu também o amava infinitamente... Só eu sei o quanto doeu vê-lo embora, as noites em que sonhei com o seu regresso ou que apenas tudo não passasse de um pesadelo. De qualquer maneira, tinha de ser sincero com o Jungkook.

Foi precisamente o Jungkook que vi à minha espera do lado de fora do edifício, com muita gente a sussurrar sobre a sua presença e outros a tirarem fotos. Aproximei-me com cautela e cada vez mais corado. Quando cheguei junto a si, fui recebido com um beijo na testa cândido e carinhoso, que me fez fechar os olhos e soltar o ar que prendia.

- Park, não se esqueceu de nada? - Apanhei um valente susto ao ouvir a voz do professor Kim fria, dura e ríspida atrás de mim. Nas suas mãos estavam as minhas sapatilhas de pontas. Como é que me tinha esquecido de algo assim? - Senhor Jeon, boa tarde. Espero não estar a interromper mais um momento de farsa.

- Aqui não há farsa nenhuma, professor Kim. Ainda que agradeça a ajuda que dá ao Jimin, isso não lhe dá o direito de questionar o nosso casamento. Nem a amizade que tiveram. - Oh não, o Jungkook estava igualmente irritado. Os dois estavam frente a frente, como se de um combate se tratasse. - Agora, se nos dá licença, temos um fim de semana longo pela frente.

- Como queira. Ele pode estar consigo, pode até estar apaixonado por si, mas fique sabendo que eu tenho esperança que não ignore como reage ao meu toque ou proximidade. Talvez deva saber como é que eu já penetro no subconsciente do senhor Park. - Céus! Ele não estava a dizer aquilo, pois não? O Jungkook, não sendo lento de raciocínio entendeu logo a mensagem. - Desejo um feliz fim de semana. 

Sem mais nada a dizer e claramente com um sorriso irónico no canto dos lábios, retirou-se sem que o Jungkook pudesse responder. Tinha-me deixado com um grande problema entre mãos, um problema que não sabia como resolver. O Jungkook simplesmente virou-me as costas e seguiu caminho até ao seu carro, numa aura cada vez mais pesada e num silêncio total. Sem outra opção, segui os seus passos e permaneci em silêncio. Já sentia as mãos tremer e gelar.

- Posso saber o que é que se tem passado nos vossos ensaios ou vou ter que começar a imaginar cenários? - O tom de voz era rude, mas baixo. Fazia-me lembrar o antigo Jungkook. - Disseste para não me preocupar, porque estamos casados e não haveria espaço para traições. Eu acredito em ti e na tua palavra, mas eu acho que o professor Kim tem razão.

- Eu não sei ao certo e lamento imenso... Mas eu juro que nada aconteceu.

- Eu sei que não, sei perfeitamente que serias incapaz de trair fosse quem fosse. Agora, vamos ter calma, porque talvez me tenha precipitado muito, não é verdade? Talvez tenha colocado esperança onde não devia e mudado a minha atitude numa ingenuidade muito traiçoeira. Eu vou colocar os papéis para o nosso divórcio, Jimin. Tenho a certeza que o professor Kim te irá ajudar de alguma forma. Também vais poder regressar para o teu apartamento, aliás é para lá que te levo. - O quê? Ele não podia estar a falar a sério... - Podes sair do carro e voltar para a tua vida, pedirei que te venham entregar as tuas coisas. Sai.

Incrédulo, magoado e a ser abandonado, abri a porta do carro e fui embora. Segundos depois, o carro arrancou a toda a velocidade. Mais uma vez, na minha vida, senti que era o maior falhanço de todos os tempos, uma grande desilusão... Não sei como, mas subi até ao meu apartamento e deitei-me no sofá todo encolhido a chorar. Eu nunca o tinha traído, era verdade que sonhava com o Professor Kim e que ele às vezes era sedutor, porém nunca tinha faltado à minha palavra, desrespeitado os votos de casamento ou mentir. Nunca. O restante fim de semana foi passado tal e qual como aquele fim de tarde de sexta-feira: no sofá, sem conseguir comer e drenado de energias. Os meus pertences tinham sido entregues no Sábado, que foi quando o advogado do Jungkook me bateu à porta para assinar os papéis do divórcio. Não demorou até as revistas saberem e anunciarem a todo o mundo. Os meus pais, pela primeira vez em semanas, ligaram para gritar comigo, chamar nomes e mandar ainda mais abaixo. 

Por isso, quando fui para a faculdade na segunda feira, não me livrei dos olhares curiosos de algumas pessoas e de mexericos. A Jane ainda tentou aproximar-se, contudo compreendeu que eu precisava de espaço e de tempo. As aulas foram igualmente infernais e quando entrei na aula do professor Kim tudo parece ter-se intensificado. Não o podia odiar e nem conseguia, mas ver a forma como estava bem disposto era enraivecedor. No final da aula, ainda teria a aula extra consigo, porque a competição não deixava de acontecer, a Bora tinha feito questão de relembrar esse pormenor.

- Park, finalmente um homem livre. 

- Professor... Podemos não conversar sobre esse tema? Está aqui para me ajudar e eu agradeço a disponibilidade, mas se não consegue separar as coisas terei de pedir ajuda a outro docente, outro colega seu. 

  

Imperfect Love (Vmin/Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora